Capítulo 6

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Allegra não sabia para que servia Belladonna ou como se parecia, então não tinha a menor ideia do movito do pedido de Francesca. Mas lembrou-se de durante a infância, ter visto no quarto de Francesca um grande livro com folhas variadas coladas nas páginas e pequenos textos logo abaixo.

"Aquele livro vai me ajudar", pensou Allegra.

Ciente de que sua família suspeitaria caso a encontrasse revirando o quarto da serva, ela novamente esperou que a noite e o sono levassem todos aos seus aposentos.  

Sentada na janela de seu quarto, fazendo planos para sua próxima invasão à igreja, Allegra sentiu seus olhos pesarem, e se tornava cada vez mais difícil mantê-los abertos. Então, encostando sua cabeça no vidro frio, adormeceu.


Algum tempo depois, os primeiros raios de sol tocaram sua pele alva e a despertaram. Allegra piscou lentamente e ao ver que o sol já aparecia no horizonte, levantou-se bruscamente.

"Ah meu deus, como eu dormi? Quando eu caí no sono? Allegra sua burra, se você não conseguir a erva hoje e algo acontecer com Francesca a culpa é sua!" Falou sussurrando para si mesma, pressentindo a urgência do pedido de sua amiga.

Allegra havia dormido com o vestido que usara durante o jantar anterior então sabiamente decidiu que seria menos suspeito se saísse de seu quarto de camisola. Descalça e andando na ponta dos pés passou pelo quarto de seus pais, cuja porta estava aberta, e chegou à escada. Desceu, atravessou a sala e a cozinha e finalmente chegou aos aposentos de Francesca. Seu quarto não era muito grande e estava atulhado de potes e livros.

"Ótimo, eu vou demorar horas para descobrir qual é o livro correto e mais ainda para encontrar a erva" pensou Allegra sentindo frustração.

Decidindo que reclamar não a ajudaria a encontrar mais rápido o que procurava, Allegra lançou-se sobre as pilhas de livros e o que ela viu na pequena biblioteca de Francesca a deixou boquiaberta.

O primeiro livro que ela abriu era um tratado sobre algo chamado alquimia, que falava sobre como transformar metais comuns em ouro e sobre um elixir para vida eterna. O autor era Nicolau Flamel, como desconhecia o nome, Allegra achou suas teorias tolas e deixou seu livro de lado.

O segundo estava escrito em grego antigo e contava sobre deuses guerreiros e deusas do amor, da sabedoria e da caça. O livro detalhava como cultuar cada um deles e o sacrifício que deveria ser feito para lhes contatar e apaziguar.

O terceiro não podia ser lido pois não era uma língua conhecida por Allegra. Ao invés de palavras, este continha vários desenhos pequenos enfileirados em colunas que iam do topo ao fim das páginas e algumas imagens de homens carecas e barrigudos, de olhos puxados e com largos sorrisos.

Havia também um volume em francês que discursava sobre a religião de um povo antigo, os celtas, e seus sacerdotes, os druidas. Quais eram seus costumes e sua forma de adorar a natureza, sua deusa a Mãe Terra e o Deus Sol.

Percebendo que já estava ali a muito tempo Allegra decidiu que não poderia olhar todos e assim escolheu o que mais parecia um livro de ervas. Um livro enorme, quase da largura de uma mesa pequena e muito pesado. Ele estava escondido embaixo de todos os outros volumes, e depois de removê-los com certo esforço ela conseguiu abrir o livro escolhido. Em cada página havia duas plantas e Allegra teve certeza de nunca ter visto a maioria delas. Abaixo do exemplar havia uma breve explicação sobre sua origem, sua função e melhores métodos de uso. Chegando quase ao fim do volume, Allegra já sentia seus olhos pesarem de sono novamente e estava quase desistindo quando encontrou uma erva com nome mas sem descrição. Todas as ervas que vieram nas páginas seguintes também estavam sem descrição. Confusa, ela folheou as páginas restantes e a última mostrava em tinta vermelha a palavra Belladonna.

Deixando o livro aberto Allegra se pôs a revirar os potes de ervas tão vorazmente que se esqueceu de agir em silêncio.

Finalmente avistou a planta no alto de uma estante e com um largo sorriso infantil, esticou o braço para alcançá-la. Quando as pontas de seus dedos tocaram o vidro, com um estrondo alto a porta do quarto subitamente se abriu. Allegra pulou de susto e se afastou de planta quando viu seu pai na porta, de camisola segurando uma espada na mão direita e uma cruz na esquerda.

O susto de Allegra se converteu em riso frente a essa visão ridícula.

- Hahaha o que é isso papai? Você pretendia proteger a casa de um invasor ou fazê-lo rir?

- Ai Allegra graças a Deus é você! - disse seu pai encostando a mão na parede, olhando para o chão e suspirando aliviado. E voltando aos seus sentidos proferiu - Quem deveria fazer essa pergunta sou eu, o que é isso? Porque você está aqui fazendo esse barulho todo a essa hora da manhã?

- Ah... eu... estava... procurando uma coisa especial que a Francesca colocava no meu café da manhã. Fiquei com saudades da comida dela e vim procurar o ingrediente! Só isso! Desculpe-me pelo barulho papai.

- Hum, e depois de toda essa bagunça pelo menos encontrou o que procurava?

Allegra olhou para a prateleira atrás dela, a Belladonna não se assemelhava muito à uma iguaria culinária.

- Não, infelizmente não encontrei. Vou ter que esperar que Francesca volte para nós para ter um café da manhã saboroso outra vez.

Seu pai lhe deu um sorriso triste, de pena. Sua filha ainda tinha esperança de que Francesca voltaria? Achou melhor deixá-la em sua inocência esperançosa.

- Bom se não encontrou, vamos logo para a sala tomar um café da manhã perfeitamente normal e insosso! - disse rindo.

Abraçou a filha e deixaram o quarto. Allegra teria de voltar ali para pegar a erva mais tarde.



Após o término do desjejum, Allegra retornou ao seu quarto, se deitou na cama e de olhos fechados pensou sobre as coisas que vira nos aposentos de Francesca.

"Será que aqueles livros são todos dela? Como conseguiu comprá-los? Como ela poderia conhecer todas aquelas línguas se tinha nascido em uma família pobre e foi vendida como serva aos oito anos de idade? Aonde e com quem ela teria aprendido aquilo? Porque ela precisava saber sobre elixires de vida eterna e formas antigas de adorar os deuses antigos quando todos sabem que o único deus verdadeiro é o Nosso Senhor? Será... que Francesca realmente poderia ser uma bruxa?"

Ao fazer esta última pergunta Allegra ouviu a madeira do chão de seu quarto ranger e sentiu sua cama abaixar perto de seus pés, como se alguém tivesse se sentado ali. Mas como? A porta estava trancada , ninguém poderia ter entrado. Controlando seu medo e seu tremor Allegra abriu seus olhos.

Sentada aos seus pés estava Francesca e estranhamente Allegra podia ver através dela.  





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A Fogueira Da BruxaWhere stories live. Discover now