Vinte & Nove

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P.O.V RAFAEL [23H34]. (10 DIAS DEPOIS DO TÉRMINO)

"Rafinha, tem certeza que você vai ficar bem?" Sayu perguntou, antes de pegar sua bolsa em minha cama.

Eu estava colocando minha camiseta azul-celeste, em frente ao espelho.

Olhei para meu rosto no espelho; Eu estava cheio de olheiras, profundas e arroxeadas.

"Vou ficar bem." Respondi. "Você precisa ficar mais tempo com o Bruno. Acho que ele já está desconfiado de você ficar dormindo aqui."

Virei-me para Sayuri; seu rosto estava com uma expressão preocupada, ela estava com um dos seus moletons de gato e com uma calça jeans cinza, seu cabelo estava curto e preso à um rabo de cavalo; ela havia cortado há pouco tempo.

"Hum." Ela resmungou. "Ok. Volto mais tarde, pra ver como você tá, ok?" Apenas assenti, ela me abraçou e saiu.

Eu estava sem vontade de fazer coisa alguma. Não publiquei mais nenhuma foto em nenhuma rede social, não falei sobre o que estava acontecendo com ninguém e não haviam vídeos novos no canal, desde que Flávia saiu deste apartamento.

Eu estou triste. Me sinto abandonado. Sayuri têm feito tanta coisa pra me animar...têm deixado o namorado dela pra ficar comigo e tudo mais. Mas...eu não sinto mais nem vontade de viver, de respirar. Havia algo em mim que Flávia levou embora: a minha alegria.

Suspirei e fui pegar uma caneca para pôr meu café.

Quando chego na cozinha, uma carta está no chão, perto da porta; a carta era branca e havia um selo dourado nela.

A peguei e a abri, deixando a caneca de lado.

Para a minha surpresa, era uma carta de quem eu menos esperava que seria; Alana.

Alana é uma amiga de infância...faz anos que eu não falo com ela. Ela ainda mora em carazinho, e mora perto de minha casa. Éramos muito amigos, quase irmãos. Mas...Não sei o real motivo da carta, ela poderia só ter me ligado ou me mandado uma mensagem de texto.

Talvez ela não tenha mais o meu número. Mas...como ela sabe meu endereço? Ah, esquece.

Olá, Rafael. Tudo bem? Não sei se já me esqueceu...Mas eu ainda lembro muito bem de você. Bom, eu não mantive contato com você nestes últimos anos, mas...acompanho-te nas redes sociais e no seu canal; perdi seu contato, por isto, estou lhe escrevendo esta carta. Bem, tenho acompanhado o seu canal desde que o criou e, esses últimos dez dias, você não têm publicado nada e nem explicou o porquê da sua ausência...o que houve? Eu estou realmente preocupada. Bom, caso queira marcar algo, segue o meu número:(8566-9900). Espero que você queira me contar o que está havendo.
Alana.

Caramba. Ela está preocupada comigo e me acompanha desde o início do canal. O mínimo que posso fazer, é mandar um SMS e marcar algo aqui em casa.

P.O.V FLÁVIA [9H30]

"Claro que eu sinto falta dele." Falei para Mila.

Eu estava no apartamento de Luís (que me ajudou muito), desde do dia em que eu e Rafael terminamos.

E não, não tenho saído daqui, desde este dia, também. E Mila, preocupada por eu nunca mais ter ligado ou enviado mensagem para ela, foi atrás de mim (sem falar nada para os meus pais, o que eu achei bem errado).

"Você não para de chorar, desde que eu cheguei! Dois dias seguidos que você não sai deste quarto!" Ela disse, ainda segurando uma das minhas mãos.

Olhei para ela, meus olhos ardendo.

"Todas as vezes que o Luís sai, eu choro." Sussurrei.

"Caramba, porquê não me disse que você estava neste estado, hein? Não me ligava, não respondia às minhas mensagens. Aí, do nada, você diz que vai voltar para o Rio." Mila levantou da cama e pôs a mão na cabeça. "Sorte sua que eu falei para a mamãe que você estava bem. Ela e o papai viajaram, tive sorte deles terem deixado o cartão de crédito em casa. Pude vir para cá, saber como você está."

"Eu estou tentando, com tudo o que eu tenho, não ir atrás do Rafael! Como uma louca, pedindo perdão. Pare de me dar broncas, por favor! Deixe que eu me recupere, por primeiro."

Ela me fitou, seus olhos cheios de pena.

"Flavi...poxa...Você e o Rafael estavam namorando..." ela sentou ao meu lado, na cama. "Eu...tipo, soube só por uma foto que uma Langer postou no Twitter, dizendo que era do Snapchat do Rafael. Fiquei tão feliz, mandei várias mensagens de apoio...mas aí, acho que foi...tarde."

Abracei meus joelhos.

"Nunca daríamos certo. Temos um histórico trágico de romance. Ele traiu a Sayu, foi comigo, eu era a outra. E se você pensa que eu não estava me importando... não, eu estava. Eu queria ele só para mim, queria que me assumisse, como fez com ela. Mas eu era a outra. Eu era apenas a amizade colorida dele. O dia em que ele realmente me teve como namorada...foi um dia horrível. O outro...Também foi horrível.  Críticas em todas as redes sociais...gente me odiando pelo simples fato de que ele resolvera me assumir. Nunca daríamos certo." Caí em prantos, novamente.

Mila me abraçou, tentando me consolar.

"Mila...ele me tocava e me beijava como se me amasse, antes mesmo de se tornar meu namorado. Disse que ele era meu, antes mesmo de estarmos namorando. Ele não era meu...isso dói."

Ela suspirou.

"É terrível ter que te dizer isso, Flavinha, mas...supera. Existem outros caras por aí! Tantos te querendo e você aí...apaixonada pelo seu Ex."

Olhei com raiva para ela.

"Para! Muitos podem estar me querendo, mas nenhum é o que ele é para mim. Eu não estou apaixonada por ele, eu o amo, desde que o conheci. E você não está ajudando, Mila!"

Ela rolou os olhos.

"Okay. Vou passar no Starbucks e comprar um Frappuccino para você, talvez você desamarre essa cara. Tchau." Ela me deu um beijo na testa e saiu.

Ao mesmo tempo que eu agradecia por Mila estar ali, comigo, eu desejava que ela nem soubesse o que havia acontecido.
Nada me ajudava — nem mesmo o Frappuccino que Mila iria trazee ajudaria, pois nada preencheria um vazio tão grande, que só é ocupado quando estou perto de alguém, quando estou com Rafael. — e a brisa fria só aumentava, ao entardecer.

Nunca havia sentido dor tão intensa.

[...]

Ao cair da noite, Mila já estava comigo novamente, eu já havia tomado um belo e delicioso Frappuccino e nós estávamos assistindo a um seriado qualquer na TV.

Mila riu por qualquer motivo, eu queria estar bem como ela, mas eu não conseguia nem fazer um mínimo esforço.
Mal fechei os olhos e senti algo vibrar ao meu lado, perto de onde Mila estava sentada.

Observei a tela de meu celular e arregalei instantaneamente os olhos; Rafael estava me ligando.

"Mila...eu...eu vou no banheiro!" Peguei o celular sem ela perceber e corri para o banheiro, me trancando no mesmo.

Eu realmente queria atender e perguntar se ele estava bem, se estava disposto a ficar comigo de novo, mas...a coragem não veio e o celular parou de tocar.

As lágrimas brotaram e me joguei no chão, praguejando por não ter o atendido e ainda mais por ser tão orgulhosa em não retornar.

"Ai, Rafael..."

Me perdi em pensamentos e só voltei às órbitas quando percebi que Mila estava quase derrubando a porta, de tanto socá-la.

Separados Por Um CanalWhere stories live. Discover now