- Acho que vamos ter gente nova... -Comentei com Catarina.

- Espero que seja bonito. -Disse ela cruzando os dedos.

- Você tem namorado!

   Ela apenas deu de ombros. Então continuei:

-E você sabe que a probabilidade de entrar alguém bonito nessa sala é tipo 0,00000001%.

- Sempre tão positiva.

- Sempre. -Concordei com um sorriso debochado.

- Me dê sua mão. -Falou Catarina. - Estou inspirada hoje.

   Catarina tem aquela coisa do tipo que chamamos de dom. Ela desenha super bem, sem nem ter feito um curso ou algo de tipo. Era de dar inveja. E sempre durante as aulas ela gostava de desenhar nas minhas mãos, pulsos, e braços. Eu gostava de sentir a caneta ali, sob a minha pele, era prazeroso, como cafuné. Eu gostava da sensação da pele dela perto da minha. Era um sentimento estranho, porém aconchegante. Me fazia sentir sono.

   Então, de repente todos os alunos que estavam fora de sala correram para dentro, o que significa que o professor tinha chegado. E junto com ele a coordenadora, e o novato.

- Turma, esse é o Thomas. -Falou a coordenadora. - Ele foi transferido da sua antiga escola, e deve ficar por aqui. Tratem-o bem.

   Eu olhei para ele, e a primeira impressão que tive é que ele deveria ser tímido, e que ele era magrelo. Não de um jeito feio, na minha opinião. Poderia dizer que era até sexy, se ele não estivesse de cabeça abaixada e de capuz como se estivesse com medo da sua própria sombra.
Nossos olhares se encontraram. Eu devia ter feito uma cara estranha, porque ele franziu o rosto. Então abaixei o olhar.

- Acho que o novato tá olhando pra você. -Comentou Catarina.

- E daí?

- Nós devíamos ir falar com ele, sei lá, pedir para ele sentar perto da gente.

- Desnecessário. -Falei sendo rápida. -Ele provavelmente vai adorar fazer amizade com os outros nerds da sala. Combina com ele.

- Cortante como Tramontina. Só falei para sermos legais com ele, não vou te jogar para cima dele nem nada.

- Tudo bem. Quando tocar o sinal do recreio, nós falamos com ele e perguntamos se ele quer andar com a gente.

   Bateu o sinal do recreio. Catarina esqueceu completamente que nós íamos conversar com o garoto novo, e saiu correndo para o recreio apenas dizendo "Breno". O nome do seu namorado, o que provavelmente que ela ia ficar com ele. E eu ficaria sozinha.

   Até cogitei a possibilidade de dar um oi para o novato, mas os nerds já o tinham cercado. Então peguei meu caminho até um canto isolado da escola, que era o estacionamento. Era meio ingrime, e havia uma bancada na qual eu podia me sentar e conseguia ver os carros passarem nas ruas. Peguei meus fones e fiquei ouvindo música.

   Até que eu percebi alguém vindo e logo desci da onde estava e tirei os fones. Se a coordenadora me pegasse ali não seria nada bom. Mas para minha surpresa era o novato.
Assim que me viu, fez uma cara de assustado, como se não esperasse me ver por ali, e já ia dar meia-volta quando eu disse:

- Ei! Espera aí!

   Ele parou e se virou para mim.

- Você é o aluno novo na minha sala, né? Thomas, certo?

- Sim. - Ele respondeu.

   Eu até acharia ele seco, se ele não parecesse tão nervoso. Parecia querer sair dali logo.

- O que está escondendo aí hein? -Falei, percebendo sua mão no seu bolso.

- N-n-nada. -Gaguejou.

   Sem pensar muito, peguei da mão dele o que ele estava escondendo. E ambos paramos em choque.

   Sob a minha mão havia um pênis desenhado (maldita Catarina!) , e nela eu segurava um maço de cigarros que pertencia ao Thomas.


Uma vida vazia [COMPLETO]Where stories live. Discover now