TRÊS | Tessália

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4 ANOS ATRÁS

Um sorriso bobo estampava meu rosto quando atravessei a entrada da boate.

Se eu estava animada para a minha primeira choppada da faculdade? É claro que estava! Mas talvez minha empolgação excessiva tivesse um pouco mais a ver com os mojitos que bebi em casa com a Flávia, minha melhor amiga, antes da festa.

Além disso, eu estava me sentindo tão confiante e segura de mim naquele dia que era difícil conter a animação. Meus cachos estavam soltos, cobrindo meus ombros nus e caindo até metade das costas. Meus olhos, igualmente castanhos, foram ressaltados com delineador preto. No corpo, usava um vestido off-white, todo rendado e bem marcado na cintura, que combinava bem com a minha pele negra.

Eu me sentia linda.

E tinha que dar todos os créditos ao milagre que a Flávia fizera com o meu guarda-roupa.

Mais cedo, quando tive minha crise estilística, é claro que contei com ela para me ajudar, não apenas por sermos amigas, mas também porque Flávia tinha olho para a coisa. Era como se fosse a própria fada madrinha da moda! Não foi à toa que escolhera fazer design com foco nessa área. Eu não levava nenhum jeito para isso, por isso decidi pela parte gráfica do curso. Podia fazer uma obra de arte no Photoshop, mas com meu guarda-roupa... Ele parecia mesmo era ter vida própria e conseguia transformar as roupas que eu amava nos meus piores inimigos. E era por isso que eu constantemente precisava da ajuda de Flávia.

Minha amiga era caloura na faculdade, junto comigo, e eu me encantara por seu estilo e jeito de ser desde o primeiro dia do trote. Também era pragmática até demais, mas talvez tenha sido isso que mais me encantara nela. Eu logo a entreguei o posto de irmã e melhor amiga. Ela sabia bem como lidar com qualquer situação da minha vida e era craque em dizer o que eu precisava ouvir.

Encarei Flávia ao meu lado, que vibrava com igual empolgação. Ela estava ainda mais linda do que eu — mas isso não era novidade.

Eu não era uma pessoa invejosa. Mas, às vezes, quando olhava para minha amiga me perguntava se Deus tinha esquecido de colocar beleza e estilo na minha fórmula e exagerado na dela. Não era como se eu me achasse feia. Gostava do tom da minha pele, da minha cintura fina e do tamanho da minha bunda. Eu tinha minhas brigas com meu cabelo, acreditava que meu nariz podia ser menor e as celulites — não vou nem comentar; mas quando me olhava no espelho, sabia que não era uma pessoa que faria os homens saírem correndo. Só que Flávia era... linda. Ela detestava quando eu dizia isso, porque morria de inveja do meu cabelo crespo. Como se isso fizesse sentido! Vivia dizendo que eu tinha um estilo natural, enquanto ela precisava pintar os cabelos com frequência para não ser uma pessoa sem graça — mas eu não acreditava muito nela.

Quer dizer, olha para ela! Flávia tinha a pele clara, olhos acinzentados e cabelos lisos. Ela não dependia de cremes e tratamentos como eu — nem sofria com a discriminação que eu havia sofrido por causa deles. Seus fios eram originalmente castanhos claros, mas desde o início da faculdade estavam coloridos, num dégradé que ia do violeta ao rosa. Só de imaginar fazer algo do tipo, já podia sentir meus cabelos ressecarem e caírem.

Como reconquistar um amor perdido (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now