O pedido de desculpas oficial de Augusto veio acompanhado de um ingresso para uma social. O ingresso colorido veio informando que a festa acontecerá na Lapa, começará às oito e é uma festa fantasia. Eu apreciei muito o pedido de desculpas de Augusto, tanto que o aceitei, mas imediatamente recusei o convite para a festa, prometendo até devolver os trinta reais do valor da entrada. Eu já estou farta de festas que estragam assombrosamente a minha noite, portanto não podia aceitar. O impasse é que Augusto é teimoso. Ao concluir que foi perdoado por ficar com Gabriel, ele tomou liberdade para voltar com suas insistências, dizendo que é a última festa que eu serei obrigada a ir. É claro que eu arranjei rapidamente um novo argumento, dizendo que eu não tinha uma fantasia. A réplica de Augusto veio com a promessa de que ele conseguiria uma fantasia para mim até o dia da festa. O maior erro da minha vida foi não depositar o mínimo de fé de que o garoto conseguiria uma fantasia para mim entre terça e sábado. Se há alguma coisa que Augusto é, essa coisa é capacitado e muito, mas muito perseverante.
Encaro a fantasia sobre minha cama. Não, isso não pode ser sério.
— Augusto, não— digo com firmeza.
— Eu sei, eu sei, mas foi o melhor que eu consegui fazer em quatro dias.
Ele pega a grande piada cósmica em forma de fantasia e segura bem na frente do meu rosto.
— Eu juro que ela parecerá pior quando você vestir— ele implora.
O problema não é a aparência da fantasia. É uma fantasia bonita, na verdade. Nem um pouco inovadora, mas eu usaria, em um universo paralelo onde eu não pudesse odiá-la tanto.
— As pessoas vão associar— tento minha última desculpa.
— Não vão, não, Mabel. O Twitter foi criado bem antes de você entrar no colégio. Ninguém vai se importar.
— Eu vou me importar— abaixo a fantasia para encará-lo.— Sério que isso foi mais fácil que uma fantasia de, sei lá, bruxa?
— Foi a mais bonita e menos vulgar que eu arranjei— ele empurra a fantasia contra meu peito.
— Menos vulgar? Se tapar minha bunda será um milagre!— eu reclamo, cedendo.
Pego a fantasia de suas mãos e dirijo-me até o banheiro, fechando a porta. Começo a tirar a roupa imediatamente, impedindo-me de pensar muito para não desistir. É claro que eu já estou de banho tomado. É claro que eu tinha que ser burra e facilitar o trabalho de Augusto.
Puxo o curto vestido para baixo. Começo a amarrar as fitas frontais da parte de cima do vestido, que começam abaixo do umbigo e terminam junto com o decote do vestido. Aperto bem a fita. A parte superior é de paetês, listrada de algo que deveria ser amarelo, mas é dourado, e preto, muito parecida com um corpete. A saia do vestido é completamente preta e cheia; curta o suficiente para limitar meus movimentos, a menos que eu queira que alguém tenha acesso à minha calcinha azul, o que eu não quero.
Abro a porta do banheiro e encontro Augusto sentado na cama. Ele levanta os olhos para mim e abre a boca em um largo sorriso de satisfação.
— Você não deveria ter reclamado tanto, ficou incrível!— ele bate palmas.
— Não, apenas não— bufo.— Augusto, eu não posso sair vestida de abelha. Se Milena e Davi me virem assim, eles vão surtar. Cara, se Naomi estiver lá e me ver com esse troço, ela vai voar em cima de mim. E Rafaela? Jesus, eu não posso ir assim— puxo o laço que fiz com a fita.
— Não— Augusto levanta-se abruptamente e corre até mim, tirando a fita de minhas mãos e refazendo o laço.— Rafaela sumiu de festas desde que sua foto apareceu na internet. Naomi não vai aparecer em lugar algum, acredite. Eu soube que o diretor conversou com os pais dela e ela vai sair do colégio em breve.
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Ditadura Indie
RomanceA Ditadura Indie chegou em 2014 - não no sentido literal da palavra, é claro -, tornando-se mais popular em 2015, impulsionada por fãs de bandas como Arctic Monkeys, The Neighbourhood e The 1975, embora Mabel não ouça nenhuma delas. A Ditadura Indie...