Faixa 19

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Leiam as Notas no final do capítulo!

Uma lágrima escorre pela minha bochecha. Eu seguro a câmera contra o peito. Não sei bem como me sentir agora, para falar a verdade. As coisas que eu fiz essa noite começam a me rodear lentamente. A insegurança, o medo, todos eles vêm de uma vez só.

— Sai— Letícia diz para alguém, um pouco distante.

Eu permaneço imóvel. Segundos depois braços me envolvem. Eu olho para cima, apenas para encarar os olhos assustados de Patrick.

— Não é culpa sua— ele diz.— Eu não deveria...

— Shh— ele precisa calar a boca antes de estragar tudo.

Eu não quero lembrar da minha primeira vez como uma dolorida noite de arrependimentos. Eu não esperava um quarto com velas e a noite mais romântica da minha vida. Patrick é especial para mim, de qualquer maneira. Poderia ter sido melhor, de outra forma, sem magoar ninguém. Mas é assim que é, então não quero ninguém se desculpando por isso.

— Eu já liguei para minha mãe vir nos buscar.

— Vamos andando até a entrada do condomínio— concluo.

Nós começamos a caminhar em silêncio. Um dos braços de Patrick está em meus ombros, assim como eu mantenho um dos meus em sua cintura. Eu quero chorar por causa da situação. Eu quero chorar por ter estragado uma noite importante da minha vida. Para todos os efeitos, eu quero sentar bem no meio da rua e chorar.

Minutos mais tarde, a mãe de Patrick nos busca no portão. Patrick decide ir comigo no banco do carona. Eu me encolho, apoiada nele, que me abraça. Sua mãe não faz perguntas sobre o clima de funeral dentro do carro. Acho que ela entende que determinadas situações não devem ser explicadas.

Eles entram com o carro no condomínio de minha tia e me deixam em frente à casa dela. Eu me despeço e entro silenciosamente em casa, indo para o quarto de hóspedes. Eu tomo um banho rápido antes de me deitar e fechar os olhos com força, me obrigando a dormir.

O sábado na casa de minha tia é um pouco chato. Ela é um pouco bagunceira, gosta de barulho e gente perto dela. Eu digo que não estou me sentindo muito bem para que ela me deixe ficar no quarto. Ela decide passar o dia fora e eu passo o dia mais dentro possível.

No domingo papai me busca na parte da tarde. Ele está um pouco estranho, mais distante que o comum. Ao ser questionado, ele apenas afirma que está pensando demais no trabalho. Meu detector mental de mentiras apita ao ouvir isso, mas eu não costumo questionar as mentiras de meus pais. Se eles acham necessário esconder a verdade, que assim seja. Nós chegamos em casa por volta das cinco da tarde e eu corro para o meu quarto. A terceira semana de aulas está para começar, o que significa que eu já tenho provas nas terças e sextas. Faço uma revisão rápida da matéria de biologia, que cairá na prova de terça-feira e aproveito o resto do domingo para fazer nada.

O mais estranho de tentar ficar em silêncio absoluto, tentando não manter contato com ninguém, é que eu passo a prestar mais atenção nas coisas ao meu redor. Papai e mamãe também não fazem barulho do lado de fora do meu quarto, o que é estranho. Os carros na rua fazem pouco barulho aos domingos. Observar a vida dos outros só acontece quando você decide parar de prestar atenção na sua. 

Antes de dormir, eu decido ler um pouco. As palavras invadem minha cabeça de forma estranha. É engraçado como eu costumo associar o que eu leio com as coisas que eu vivo. É estranho tentar me convencer de que eu poderia ser facilmente a Tessa Young vivendo em After. O pior de tudo é conseguir encaixar uma história de romance universitário na minha vida de adolescente de dezesseis anos. Ainda pior é não conseguir ignorar que os garotos que rodeiam minha mente recentemente— Davi e Patrick— precisam ser Hardin e Zed. Infelizmente, se estamos realmente comparando, Davi é o garoto que definitivamente seria Hardin. A questão é: ele é o garoto que eu escolheria?

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