Faixa 6

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Eu fico nervosa quando o "amanhã depois da escola" se torna o "hoje" e eu já estou dentro do carro do pai de Davi. Minha mãe deixou depois de saber quem era o menino e ficou até feliz demais por saber que eu estou indo até a casa dele. É estranho o fato de ela querer que eu esteja com alguém. Eu posso ser feliz sozinha, principalmente com dezesseis anos. 

Davi está sentado no banco do carona, ao lado de seu pai. Os outros não vieram conosco pois todos sabem o caminho. Eu sou a única a aturar o silêncio mortal dentro do carro, enquanto considero seriamente abrir a porta e me jogar. Parece melhor do que permanecer.

 — Você é aluna nova?— o pai de Davi pergunta.

— Sim —  Davi responde por mim.

Davi olha para mim e eu entendo o seu olhar. Não devo papear com o pai dele. Ninguém deve, pelo visto.

Minutos mais tarde estacionamos em frente a um prédio. E o prédio fica literalmente de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas. É incrível.

Davi sai apressado do carro e abre a porta. Não, ele não está tentando ser gentil ou me impressionar - ele até estaria falhando se fosse o caso -, Davi quer que eu me apresse. Eu saio do carro o mais rápido possível, levando minha mochila comigo. O pai do garoto parte assim que ele fecha a porta e eu fico olhando o carro preto se distanciar.

 — Vocês não se dão muito bem — comento. 

 — Ele me odeia— drama.

 Davi me puxa para dentro do prédio. Pegamos o elevador e seguimos até o último andar. É estranho ficar sozinha com ele, como se fosse extremamente errado. E é.

Assim que as portas se abrem, nós dois saímos. Só há uma porta no andar. Davi abre a porta.

— Depois de você — ele diz. 

Eu entro no apartamento e paro perto da porta. O hall de entrada possui pouca de coração, apenas uma mesa de vidro encostada na parede com um jarro de flores sobre ela. Eu começo a encarar os meus pés e o piso de mármore bege, enquanto espero Davi fechar a porta. 

— A gente vai ter que pedir pizza pra almoçar— ele avisa.

Eu concordo com a cabeça. Ele me guia até a sala e, em seguida, até seu quarto. Eu me sinto nervosa quando ele abre a porta e me deixa entrar. Eu achava que o quarto de garotos como o Davi seria uma espécie de mundinho secreto, onde ninguém pode entrar. Mas cá estou eu, com passaporte em mãos, entrando no mundinho de Davi.

O quarto do garoto tem as paredes brancas. Uma cama de casal, como a minha, está encostada em uma das paredes. A roupa de cama é cinza claro. Há uma porta, que provavelmente leva até um banheiro. O quarto do Davi não tem guarda-roupas, o que deixa o cômodo mais espaçoso. Há uma mesa também encostada a uma parede. Em cima dela há um notebook e outras coisas dele. Na parede de frente para a cama, há uma televisão e um móvel, com um Playstation 4. Há também uma porta para uma varanda. Eu consigo ver a Lagoa daqui.

— Você pode tirar essa mochila das costas— ele diz.

Eu seguro a alça da mochila com uma das mãos e espero ele indicar um lugar onde posso colocá-la. Davi pega a mochila da minha mão, mas permanece parado de frente pra mim. Eu pisco, esperando que ele se afaste, mas ele continua ali, me olhando. 

— Você não disse algo sobre pedir pizza?

Ele ri e se afasta. Observo enquanto ele passa a mão no cabelo e coloca a minha mochila ao lado da sua cama. 

— O número da pizzaria está na cozinha.

Eu concordo com a cabeça. Acompanho  Davi até a cozinha e ele pega um imã da Domino's em uma das gavetas da cozinha. O cômodo é grande e há uma mesa de jantar. Eu sento em uma das cadeiras. Davi apoia as costas na bancada da pia. Ele deixou os óculos em seu quarto. O garoto leva o telefone ao ouvido e fica esperando. Seus olhos verdes passam pela porta da cozinha, pela geladeira, por tudo, evitando me olhar. Entretanto, eu o encaro. Encaro o garoto fixamente. Davi não é só bonito, ele é diferente. Ele parece estar sempre pensando em alguma coisa que ninguém pensaria. Sempre tomando decisões a partir das reações das pessoas. E o pior é que ele me faz sentir tão estranha, mesmo o conhecendo há menos de uma semana.

— Qual sabor?— ele pergunta.

Eu dou de ombros. Sou a indecisão em pessoa. Não pode me pedir pra escolher o sabor de uma pizza.

— Só... pede uma doce— falo.

Ele assente. Duas pizzas de calabresa especial  e uma de chocolate. Grandes. E, mais uma vez, sei que levaria uma bronca da minha mãe se ela soubesse que vou comer pizza no almoço.

— Eles vão entregar em até quarenta minutos— ele anuncia.

— Dá tempo dos outros chegarem.

— Eles já deveriam ter chegado — Davi revira os olhos.— Você quer alguma coisa?

O garoto aponta para a geladeira. Bom, eu quero muitas coisas, mas nenhuma delas é comida. 

— Não, eu estou ok— falo.

— A gente pode voltar pro meu quarto, se você quiser. Eles vão interfonar quando chegarem.

Eu concordo e nós vamos até o quarto de Davi. A casa está vazia e isso é um pouco estranho. Ninguém trabalhando aqui ou os pais dele. 

Davi tira o tênis e se joga na cama. Ele liga a TV e me chama para a cama também. Ele passa pelos canais enquanto eu sento ao lado dele. Subitamente o garoto larga o controle e se vira pra mim. Eu prendo a respiração ao sentir seu rosto tão perto do meu. E ele ri. Eu estou tão nervosa com toda a situação. E ele está rindo enquanto nossos narizes estão quase se tocando.

— Você ainda não sente nada por mim, né?— ele pergunta.

Nunca sentirei. Nunquinha. Jamais.

— Não — é o que consigo dizer.

— Ainda bem.

Ele se aproxima e me beija. Nada como os sete minutos no céu. Dessa vez Davi é lento, como se ele estivesse saboreando algo pela primeira vez. Uma das mãos dele vai até meu pescoço e eu me aproximo mais ainda dele. E mais. Porque nunca parece o suficiente. Ele ri do meu desespero e o som distante do interfone tocando nos alcança. Nós sempre teremos assuntos inacabados. 

Davi sai do quarto e eu olho para a TV. Está passando Os Vingadores. O filme não começou há muito tempo e eu paro para prestar atenção.

"Somos uma mistura química que provoca o caos" Bruce diz.

Alô alô graças a Deus.

Voltei. Atrasadíssima, mas voltei. Com essas férias no fim já bate aquele desespero de atualizar história, mas vai dar tudo certo. Estou gostando de escrever Ditadura, a história tá começando a fazer sentido agora. Quero logo que as tretas comecem pra dar aquela animada, mas enquanto isso podemos manter assim, já que no tempo do livro, a treta principal só acontece lá pra junho. Enfim, vocês não precisam saber muito mais do que isso, né??? Só continuarem lendo. Espero que tenham gostado do capítulo. Comentem, votem e compartilhem. Quem odeia minhas histórias também pode fazer isso pra poder continuar reclamando e me divulgarem. Todo mundo sai ganhando, né??? Brincadeira, gente.

Enfim, beijinhos, até o próximo capítulo.



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