04 - NÃO PEGUE ATALHOS

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Dica rapidinha e super pratica.

"Evite verbos de pensamento" foi a dica de Chuck Palahniunk, escritor de Clube da Luta, que mudou totalmente meu jeito de escrever.

Eu nunca li sua obra (ashamed of me), então trata-se mesmo de um "apud" dos blogs da vida.

Eu explico:Um belo dia, correndo os olhos pela página da Natália Becattini (link aqui: http://www.oxfordcomma.com.br/), indicada pela minha sis, deparei-me com essa dica sobre nunca, jamais, em hipótese alguma, utilizar atalhos na sua escrita.

Eu percebi, pela primeira vez, que isso era uma coisa que eu fazia com frequência e, imediatamente após aboli-la, me senti em uma evolução surpreendente.

Como a própria Nat cita no seu texto, o interessante dessa dica está na sua falta de abstração. É um conceito palpável, passível de execução. Tudo o que você tem que fazer é colocar a mão na massa: pegar seu caderno de rascunhos, sua caneta de estimação e começar a praticar.

Trata-se de excluir da sua escrita os verbos de pensamento.

Hã?

É basicamente isso: de agora em diante você não poderá usar verbos como: pensar, saber, entender, perceber, acreditar, querer, lembrar, imaginar, desejar, amar, odiar, dentre outros.Ao invés de dizer ao leitor o que o seu personagem pensou, o que ele ama ou sabe, você o fará pensar, amar e saber! Você colocará seu pensamento, paixão e ciência em palavras e o leitor identificará por si só, sem esforços, esses sentimentos.

Vamos aos exemplos da página:

Suponhamos, que em algum dos seus parágrafos você encontre algo parecido com: "Kenny se perguntou se Mônica não gostava que ele saísse à noite..."

Em vez disso, você terá de desmembrar a frase em algo como:

 "Nas manhãs que se seguiam às noites em que Kenny estava fora depois do último ônibus, quando ele teria que pegar uma carona ou pagar por um carro para chegar em casa e encontrar Mônica fingindo dormir – porque ela nunca dormia daquela forma tão tranquila – naquelas manhãs, ela sempre colocava apenas sua xícara de café no microondas. Nunca a dele.

"Em vez de fazer seus personagens saberem qualquer coisa, você deve agora apresentar detalhes que permitam que o leitor os conheça. Em vez de fazer seus personagens quererem alguma coisa, você deve agora descrever a coisa para que seus leitores passem a querê-la também."

Em vez de dizer: "Adam sabia que Gwen gostava dele.", você terá que dizer: "No intervalo entre as aulas, Gwen se encostava no armário de Adam quando ele se aproximava para abrí-lo. Ela rolava os olhos e partia, deixando uma marca negra no metal, mas também seu perfume. O cadeado ainda estava quente pelo contato com suas nádegas. E, no próximo intervalo, Gwen estaria encostada ali, outra vez."

Vamos praticar?
Façam o exercício com seus próprios textos, recusem seus parágrafos, desmembrem-os e enriqueça-os!

Confiram meu teste:

Trecho original:"Ao som daquelas palavras, Sales se lembrou da música que dançaram juntos. De repente, ele deu-se conta de que jamais poderia esquecê-la. Tudo o faria se lembrar de Karen."

Trecho desmembrado:Quando as doces palavras de Karen atingiram os ouvidos de Sales, elas soaram como bálsamo. Naturalmente, e de forma quase imediata, os lábios do jovem começaram a balbuciar a melodia da música que dançaram juntos, há alguns meses, na taberna. Daquele dia em diante, todas as vezes que Sales ouvisse aquelas notas ou palavras que se parecessem com aquelas, todas as vezes em que visse cabelos negros que arrepiavam-se ao mais singelo movimento, e sempre que alguém corasse, ele teria que prender o choro, fechar os olhos, virar a cabeça, ou fazer alguma outra coisa máscula, que não o condenasse.

O que acharam? Eu achei que o texto acabou ficando mais rico... E até mais poético! 

Tentem também! E deixem os exemplos de vocês aqui nos comentários! Nós vamos AMAR!

Dica por Camila Antunes - Camila-Antunes
Autora de "Ben e eu", "Lumen" e "O Filho do Imperador".

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