UM | Tessália

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A explosão veio do nada.

Bem, isso se você considerar uma briga como nada. E não era como se eu tivesse um fetiche secreto por discussões, mas nos últimos tempos os desentendimentos entre mim e Cauã se tornaram tão frequentes que passaram a fazer parte da nossa rotina. Naquele dia, parecia que entraríamos no mesmo ciclo vicioso de sempre. Mas algo diferente aconteceu.

— Tessália, eu não aguento mais! — Cauã estava ofegante, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Ele se levantou do sofá e andou de um lado para o outro na sala do meu pequeno apartamento, a frustração estampada em cada detalhe do seu rosto enquanto os dedos percorriam seus longos fios castanhos e ondulados. Recentemente, ele resolveu aderir à moda do coque samurai e estava deixando os cabelos crescerem. Naquele momento, enquanto o via bufar e segurar os fios com força para extravasar a raiva, pensei pela primeira vez o quanto o corte combinava com ele. Dava um ar perigoso à sua imagem.

Cauã tinha ido ao bar com os amigos e chegou à minha casa muito mais tarde do que tinha prometido. O problema maior foi que eu tinha visto uma foto no Facebook que seus amigos postaram, e aparentemente não tinha sido uma noite só para garotos, como ele disse que seria. Minha mente se encheu de dúvidas no mesmo instante. Não era como se eu não confiasse nele, mas... Depois de um tempo, principalmente depois que a frequência das brigas aumentou, eu parecia viver esperando pelo momento que ele encontraria alguém melhor do que eu. E esse peso era tudo o que bastava para me desestruturar.

Era por isso que eu estava bufando de raiva enquanto o esperava chegar. E antes que tivesse tempo de respirar eu já pedia satisfações.

Foi então que ele explodiu.

Encarei-o, confusa, uma parte de mim tentando considerar todos os significados possíveis para aquela frase, que não o mais óbvio.

— Eu não aguento mais — repetiu, deixando o corpo cair no sofá de dois lugares. — Eu gosto muito de você, Tess, mas acho que tô esgotado. Não consigo mais viver assim, brigando o tempo todo, com medo de qualquer coisinha virar uma tempestade. Sabe, eu sempre fiz tudo o que tava ao meu alcance pra gente ficar bem. Toda vez que você vem com quatro pedras na mão eu deixo passar batido. Eu sempre fiz tudo por você, mas parece que você não enxerga isso! Sempre tem um motivo pra reclamar! Se você não tava satisfeita, podia ter conversado comigo. Mas você sempre preferiu discutir. Isso é cansativo demais. Eu não quero continuar num relacionamento que só me faz mal. Você entende?

Não, eu não entendia.

Ele estava realmente me culpando por todos os problemas que passamos?

— É o quê?! — reagi, incrédula. Meu coração batia forte contra meu peito enquanto absorvia aquela reviravolta no meu relacionamento. Cauã estava... terminando comigo?

— Não dá mais, Tessália. Eu cansei. Levar esse namoro pra frente só vai continuar destruindo a gente e o respeito que temos um pelo outro. — Ele me encarou e eu encontrei dor e pena em seus olhos verdes antes de ele se levantar. Minha descrença era tanta que eu mantive minha boca semiaberta por vários segundos até encontrar algo para dizer.

— Mas... Mas, Cauã! — Lágrimas se acumularam nos meus olhos e eu lutei para impedi-las de cair. Raiva e dor invadiram meu peito. Segui até ele e prendi seu braço entre minhas mãos, como se conter sua ida fosse resolver todos os nossos problemas. — Não faz isso! A gente pode resolver. Vamos conversar...

Mas Cauã puxou seu braço para longe de mim, com força, irritando-se ainda mais com meu desespero.

— Não, Tess, não tem mais o que fazer! Nós já demos um tempo várias vezes, e nunca dá certo! — Ele fez menção de se aproximar, mas pareceu pensar melhor e se afastou novamente. Quando voltou a falar sua voz estava mais calma. — Desculpa por isso. Eu te amo, e não quero te ver sofrer, mas já deu pra mim. É melhor a gente terminar agora do que continuar com isso. Se não, essas brigas vão destruir todas as coisas boas que tivemos.

Cauã me direcionou um olhar de piedade que durou um milésimo de segundo antes de seguir em passos largos até a porta. Eu corri atrás dele, numa última tentativa de reverter a situação, e gritei seu nome. Ele nem olhou para trás antes de sair pela porta do meu apartamento e me deixar sozinha, tendo como companhia apenas a minha dor.

Meu estômago embrulhou de maneira assustadora, e as lágrimas que já escorriam silenciosas pelo meu rosto derrubaram a barragem que as segurava do lado de dentro, vazando como um rio, cuja correnteza pode destruir qualquer coisa que aparecer em seu caminho. Eu senti um vazio no peito que parecia ameaçar me engolir. Tentei raciocinar, me dizer que tudo ficaria bem, que aquela decisão não era necessariamente definitiva. Cauã ainda podia repensar o que fez e mudar de ideia. Afinal, estávamos juntos há quase quatro anos! Não se joga fora um relacionamento assim de cabeça quente, sem uma conversa definitiva.

Mesmo enquanto me agarrava à esperança, percebique estava me enganando. Era para valer. Meu namoro tinha acabado de verdade. Apercepção de que eu falhei com Cauã, comigo mesma e com nosso relacionamento mefez soluçar alto. O que mais me assustava era aceitar que, depois de tantotempo, me encontrava mais uma vez sozinha.

Como reconquistar um amor perdido (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora