Dois (Evangeline)

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O sinal estridente tocou anunciando o fim da primeira aula.

- Evangeline, bonito nome. – a garota que estava sentada à minha frente girou o corpo na minha direção.

- Obrigada. – respondi.

- Joan. – ela piscou para mim.

- Oi, Joan!

- Essas são Caroline e Cristal. Elas são irmãs gêmeas. – Joan apontou para as duas garotas, uma sentada atrás de mim e a outra bem ao lado. Ambas eram branquíssimas, como leite, tinham olhos e cabelos pretos lisos, com franja caída sobre a testa.

- Pode me chamar de Carol. – a garota na cadeira anterior à minha disse. Caroline tinha o cabelo mais comprido, com um corte mais tradicional e reto. Perto de sua boca havia uma pintinha charmosa, daquelas de estrelas de cinema de décadas atrás. Enquanto a irmã, Cristal, tinha os fios na altura dos ombros repicados, com pontas em todas as direções.

- Oi, Carol! Oi, Cristal! – cumprimentei.

- Olá, Evangeline! – disse Cristal.

Fiquei um pouco sem graça perto das meninas, por isso permaneci calada.

- Então, de qual escola você veio? – indagou Joan. Pelo que pude perceber, ela era a mais falante.

- Do Colégio Central. – a boca dela se abriu assim que pronunciei o nome. – O que foi? Essa escola não é boa?

- O quê? – exclamou. – Essa é a melhor escola da cidade! Top demais!

- Seus pais devem ter uma fortuna! – comentou Carol.

- Com certeza. – apoiou Cristal.

- Não é nada disso... – sussurrei constrangida.

- Aposto que você morava em um apartamento de luxo! – disse Joan.

- Na verdade era uma casa... bem grande. – respondi, distraída.

- Eu sabia! – Joan falou mais alto que o normal e muitas cabeças se viraram para nós. Em seguida, ela baixou a voz. – Eu sabia! Quando você entrou por aquela porta, sabia que você era rica. Você exala riqueza!

- Besteira!

- Silêncio! – esbravejou a professora em frente ao quadro negro e todos os murmúrios da sala silenciaram. – Bom dia!

- Bom dia! – respondemos em uníssono.

- Abram seus livros de matemática na página 47.

Ótimo, pensei, não vou escapar da matemática nem estudando em um Convento.

Em especial, aulas com números se arrastavam infinitamente para mim. Essa não foi diferente.

Quando o alarme soou novamente era horário de almoço. Juntei minhas coisas da forma mais lenta que pude, sem parecer lerda demais e tentando ganhar tempo até todas as meninas irem embora. Dessa maneira, não seria forçada a interromper suas conversas ou fazer com que se sentissem na obrigação de me dar atenção. Porém, não funcionou tão bem como eu queria. Joan, Carol e Cristal estavam me esperando.

- Vamos logo, Evangeline! Estou com fome! – disse Joan, impaciente.

Ergui a cabeça e sorri debilmente para ela.

Durante o percurso até o refeitório Joan me instruiu sobre o colégio, indicando portas importantes, como a secretaria, o banheiro e o auditório. Certamente, nas primeiras semanas, eu ficaria perdida nos corredores do Convento. É tudo muito intrincado, sem uma disposição fixa. Acho que o projeto de construção foi mal planejado,outalvez seja apenas eu, que não consigo me situar entre tantos corredores. São todos muito aleatórios para mim. Portas idênticas, janelas idênticas. Placas minúsculas de sinalização, desbotadas depois de tantos anos e quase não visíveis se não olhasse com atenção.

O demônio no campanário [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now