capítulo 4

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Ele acorda instantaneamente procurando respirar, aperto mais a corrente ao redor de seu pescoço enquanto suas mãos puxam-na para o lado oposto. Faço mais força, mas ele é mais forte, sinto seu cotovelo bater em minha costela e de alguma forma o miserável se liberta, avança sobre mim com fúria, os dedos apertando meu pescoço, o corpo debruçado sobre meu.

- eu deveria te matar agora sua puta - disse entredentes.

Apenas encaro seu olhar furioso sobre mim.

Ele fica atordoado, sua respiração acelerada. Seus olhos investigam meu corpo embaixo do seu por alguns segundos.

Aproxima o rosto do meu ouvido. Paro de respirar, estática de tanto medo.

- você é tão linda, pena que vai morrer - sussurra.

- tenho medo de você - digo quando ele afrouxa os dedos em minha garganta.

- não é o que parece. Você é muito corajosa, princesinha - retorque saindo de cima de mim.

Fiquei perplexa, como assim Brian não me matou? O que há de errado? Eu tentei enforca-lo e não me matou? Será que precisa tanto assim de mim?

Brian deita na cama e continua com a respiração alta assim como estou.

Me arrasto tímidamente para o canto da parede e sinto que ele me observa de esguelha.

- Desculpe - estou pedindo desculpas para um cara que quer me matar?

- não fala comigo. Cala essa boca.

- eu nunca matei ninguém e...

- mas eu já, e se não fechar a droga dessa boca te mato agora!

Paraliso. Ele está muito alterado, parece mais que irritado, parece magoado, embora não faça o menor sentido.

Já passaram-se algumas horas, tudo está silencioso, tudo exceto barulho que emito arranhando o rasgadio da minha calça com a unha, pelo nervosismo.

- Brian - chamo.

- é muito estranho quando chama por meu nome.- comenta. Sua voz volta a ser irônica.

- eu não quero morrer - suplico. - não me mata, por favor! Não quero matar você, mas não quero morrer, existe muitas pessoas que precisam de mim... - falo usando toda a força que tenho por dentro, mesmo acreditando que há 1% de chance disso funcionar.

Ele vira-se no colchão para me olhar.

- acha que sou bobo? Acredita mesmo que com esse sentimentalismo todo vai me convencer? - Brian ri. Levanta-se e se ajoelha perto de mim, pega uma de minhas mãos e leva ao seu peito.

- está sentindo? - pergunta.

Ele está sem camisa, e é possível sentir o coração batendo.

- estou - respondo.

- não, você não está - retorque fazendo um sinal negativo com a cabeça.

Não entendo.O encaro com dúvida.

- não há nada aqui. - diz, com minha mão ainda em si. - então não tente tocar em algo que não existe. Vai perder seu tempo.

Depois de ficar em pé, segue para o banheiro, alguns minutos depois volta a deitar.

Brian parece um vagabundo cheio de metáforas, e embora negue, há sim um coração nele, cheio de ódio, frieza, rancor e muitas mágoas. Foi o que vi em seus olhos. É uma pena que as coisas sejam assim, é uma pena que alguém se torne assim, é uma pena que o que está acontecendo com nós dois, mas principalmente, é uma pena que eu seja uma maluca que está
passando a odiar menos alguém que vai estourar meus miolos.

- o que te fizeram? - interrogo.

- você não dorme? Já são duas da manhã?

- o que te fizeram? - repito.

- essa pergunta é patética. Por que alguém precisa ter me feito alguma coisa? Garanto que ninguém me mandou te matar.

-me diz - insisto.

- não interessa. Agora dorme e para de me encher. - resmunga.
Esse é o lado frio de Brian.

Não consigo dormi. E sou muito inquieta para me manter em silêncio. Minha perna doe, está toda roxa e machucada pelas falhas da corrente. A melancolia me invade. O escuro e o frio faz tudo parecer mais tenebroso.

Começo a cantarolar a música Love me like you do da Ellie Goulding.

Meu futuro assassino vira-se na cama, parece impaciente. Suspira.

- você não dorme garota? - reclama. - eu não quero te bater, mas você não me deixa escolha.

- eu não consigo, esta corrente está me machucando muito.

Ele se levanta, o rosto repleto de tédio. Por que não fiquei quieta? Ele vai me bater, me preparo para levar umas bofetadas. Aperto os olhos.

Ouço Brian mexer na correntes, depois de observar bem vai até a mesa e pega uma fita isolante. Imagino que é para selar minha boca, como acontece nos filmes.

- não! - suplico.

Ele ajoelha-se e pega meu pé com cuidado, e me deixa perplexa com o que faz. Puxa um pouco de fita e começa a forrar a tornozeleira que machuca minha perna.

- você é bom - comento, impressionada com o que ele está fazendo.

- não, não sou. Estou fazendo isto para que cale sua boca e me deixe dormi. Seria um prejuízo ter que te matar agora. - cuspiu.

Que inflexivel.

Tudo está silencioso a algumas horas, achei que Brian estava dormindo, mas ele rolou sobre os lençois, como quem sofre de insônia.

- ainda está acordada princesinha? - pela primeira vez sua voz soa aveludada.

- espera que eu durma nesse chão frio? Estou congelando. - digo abraçando a mim mesma.

- nem adianta, não vou levar cobertor pra você - avisa relutante.

- não estou pedindo - respondo.

- olha, também estou com frio. Que tal esquentarmos um ao outro, hum? O que acha?

Reviro os olhos.

Brian ri, eu poderia admitir que ele tem um sorriso lindo se não se tratasse de meu futuro assassino.

Se levanta e veste sua blusa, em seguida puxa a arma debaixo do travesseiro e enfia na cintura, coloca suas luvas pretas e um gorro cinza desgastado.

- aonde vai? - pergunto.

- não é da tua conta - eu devia saber que esta seria a resposta.

Ele pega as chaves e abre a porta.

- vou pegar algo pra comer. Quer alguma coisa? - pergunta.

- sim...

- não saia daí - diz antes de se retirar.

- é claro que vou sair - ironizo revirando os olhos.

Refém Por 72 HorasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora