XXVIII

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Visões de minha infância no orfanato retornam como um flash em minha cabeça.

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Tenho 10 anos e estou sentada no pátio recreativo junto com as outras crianças.

Hoje é dia de visita, conhecido por aqui como o dia da loteria.
Cada criança seria avaliada por um potencial adotador e a que conseguisse chamar sua atenção seria a grande vencedora.
E o prêmio? Sair desse lugar detestável e conseguir uma família.

Meus cabelos foram penteados para me fazer parecer mais jovem.
Estou com um vestido antigo que agora está pequeno demais para meu corpo crescido. Todas as outras meninas estão felizes e ansiosas, mas eu não.
Já passei por isso várias vezes e sei que não devo ter muitas esperanças.

Uma garotinha chamada sally, se aproxima de mim com mais outras duas garotas.

Ela é linda e sabe disso.

Cabelos loiros e olhos azuis, toda uma boneca. Mas por trás dessa fachada angelical se esconde uma personalidade mesquinha e muitas vezes cruel.

Ela olha para minhas roupas velhas e infantis com asco.

Ela era mais nova que eu dois anos mas ninguém diria isso por causa de minha constituicão comparada a dela.
Além de meu corpo ser muito magro e
esquelético perto do dela que era redonda e rochonchuda,eu era pequena demais.

Na minha imaginacao infantil eu me considerava o patinho feio e ela um magnífico cisne.

--- Olha gente se não é a Sarahmpo - as garotas riram do jeito idiota que ela juntou meu nome Sarah e sarampo -

Fico em silêncio, intimidada.

--- Há! sarampo você acha que alguém vai querer você? - a outra diz.

--- Até parece que alguém iria amar alguém tão feia quanto você sarampo- Continua.

Todas riem enquanto eu abaixo minha cabeça.

As risadas chamam a atenção de algumas crianças que estavam ao redor, e de repente todas formam uma roda, enquanto escutam as garotas más mecherem comigo.

--- Você é ridícula garota, e tão velha! - Sally zomba - por que esta toda arrumada? você vai ficar aqui pra sempre! - dito isso ela se aproxima de mim com um sorriso cruel e puxa meu totó com força.

Eu grito e dou um empurrão nela, mas suas outras amigas entram na briga e tudo que posso fazer é chorar enquanto elas destroem com um puxão o que sobrou do meu vestido.

De repente estou sendo puxada pro lado enquanto um garoto se coloca a minha frente.

-- Deixem ela em paz! -

Sally parecia furiosa mas nesse momento o sino tocou avisando que estava na hora da visita e ela sorriu triunfante.

Todos as crianças saíram em disparada para chegarem primeiro e eu e o garoto ficamos lá parados.

Meu cabelo estava uma bagunça e meu vestido um desastre total e eu começo a chorar novamente.

--- Ei, nao fica assim. Não liga pra essas horrorosas - o garoto que me ajudou murmura.

Olho pra ele. Eu lembro dele.

É o garoto que ninguém conversa. Ele tem 9 anos e é como minha versão masculina de fracassada.

A Prisioneira de Jeff The Killer Onde as histórias ganham vida. Descobre agora