Capítulo II - CÁPSULA DO TEMPO

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Se estivessem procurando entender o que seria a expressão congelado no passado, aquele lugar seria a definição perfeita. Não que isso fosse uma perturbação. A primeira coisa que Brenda notou assim que botou os pés no rústico caminho de terra, fora as majestosas vegetações cercadas de montanhas que pareciam cautelosamente tingidas ao verde musgo exuberante das mais diversas árvores que erguiam as suas pontas saudando o céu, foi o excêntrico casarão.

Dezenove cômodos e mais de sessenta portas e janelas enraizadas na arcana arquitetura dos tempos arcaicos. Brenda agilmente ligou a tela do seu aparelho eletrônico, analisando as imagens que havia pegado após vasculhar blogs e jornais online. O local era exatamente como nas fotografias tiradas há um século. Suspirou.

- Isso é impressionante! – exclamou – Olha pra esse lugar!

- É como se nós tivéssemos entrado nos contos do pica-pau. – Breno também afirmou com certo encanto, enquanto ainda tentava manter a certa postura negligente. – A fachada é exatamente como Monteiro Lobato descreveu o sítio em Reinações de Narizinho.

- É óbvio que esse é o lugar real. – Brenda já se precipitou-se empolgada, se aproximando cada vez mais da entrada da construção. – Me impressiona ter tão poucos visitantes. Eu não entendo. Por que o governo iria quer esconder isso tudo? – reclamou enquanto abria os braços ao redor dela para enfatizar a noção do espaço e do seu valor.

Breno deu de ombros.

Foi quando, os dois finalmente atravessaram a porta principal.

Seus olhos depararam-se com as paredes uniformes, os móveis estranhamente dispostos num choque de épocas, todos de madeira em suas colorações que se limitavam a bege e marrom, havia poeira, muita poeira que era demarcada pela luz alaranjada do final da tarde que invadia através das janelas, fazendo as partículas parecem flocos de neve que haviam viajado desde um tempo remoto. Era como imergir misticamente dentro de uma antiga fotografia em sépia. Os rangeres das tábuas em que pisavam eclodiam pelos aposentos como bocejos, acordando de um sono profundo.

Brenda se aproximou de uma das placas que havia no local. Seus olhos flagraram apenas partes que lhe faziam interesse.

"Tudo aqui foi deixado do jeito que Monteiro Lobato nos deixou. E assim há de permitir até que a inocência da própria criança que ele cativava volte e quebre as barreiras do tempo".

O irmão assim a acompanhou, quando leu aquilo conseguiu notar a tonalidade poética, no entanto, dentro da mente imaginativa de Breno aquilo soou mais como um encanto. O mesmo encanto em que aquela casa e ele pareciam estar. De braços cruzados, ele abraçou mais ainda o livro que carregava. Aquele seria um ótimo lugar para as suas leituras.

Não deu outra, ele se caminhou já de volta a uma das saídas, a procura de um banco localizada num lugar bem tranquilo em meio à vegetação. Embora Brenda adentrasse cada vez mais na casa, tentada a tirar mais fotos e registrar tudo que podia. Viu um visitante ou dois aqui e acolá. Ninguém que parecesse realmente a pena entrevistar.

Parou por um momento ao deleite de observar algumas das fotografias preto-e-branco penduradas nas paredes. Todas elas do tempo em que Lobato era vivo e estava escrevendo os seus contos sobre as aventuras de Narizinho, Pedrinho e Emília.

A maior parte delas estava acompanhada por legendas que contavam a história de cada. Tinha muitas com a fachada da fazenda e outras eram fotos de família.

 Tinha muitas com a fachada da fazenda e outras eram fotos de família

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O Segredo do Pássaro AmareloWhere stories live. Discover now