capítulo 9

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   Para mim comete um crime
   a filha dum traiçoeiro
   que quer se fazer esposa
   dum honrado cavalheiro
   pois a honra é luz nas trevas
   a traição não tem luzeiro.
  
   Portanto, eu não deveria
   encher de amor um senhor
   filho de um pai honrado
   sendo o meu um traidor
   terei remorso por isso
   vergonha, susto e temor.
  
   Mas se ainda ver Armando
   juro dizer-lhe a verdade
   que não serei dele esposa
   devido esta falsidade
   Mas serei dele cativa
   se ele tiver-me amizade.

   Agora encerro este assunto
   porque preciso dizer
   o que foi que o pai de Rosa
   procurou a lhe fazer
   na hora que ela saiu
   antes do dia romper.
  
   Assim que Rosa saiu
   o pai pegou um vestido
   dos que ela em casa deixou
   e fê-lo de sangue embebido
   dum cabrito que sangrou
   lá num recanto escondido.
  
   Fazendo o vestido em tiras
   desceu um despenhadeiro
   até chegar um riacho
   aonde havia um banheiro
   então semeou as tiras
   ao poente do ribeiro.
  
   E com o resto do sangue
   do cabrito que sangrou
   ele encostado ao banheiro
   a maior porção jogou
   depois perto e mais longe
   outras porções derramou.
  
   Às seis horas da manhã
   ele muito disfarçado
   fez uma grande balbúrdia
   gritando desesperado
   dizendo ao povo que Rosa
   um tigre tinha pegado.
  
   Logo todos os vizinhos
   acudiram com presteza
   seguindo em busca do tigre
   com desmedida afoiteza
   porque da morte de Rosa
   os sinais davam certeza.
  
   Com bons cachorros de caça
   os homens da vizinhança
   na mata o dia passaram
   com sede de uma vingança
   e não encontrando indício
   voltaram sem esperança.
 

Literatura de CordelWhere stories live. Discover now