V

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— Argentum, é? – O senhor Ephraim Steamwork era alto, de ombros largos. Exatamente o mesmo físico de Theo, mas ele não usava óculos, seus olhos eram castanhos e os cabelos eram grisalhos e mais curtos.

Lyra rezava para todos os deuses que conhecia – um ou dois no máximo – para que ele engolisse aquela estória.

Qualquer coisa, ela implantaria algumas memórias falsas. O processo era demorado e dolorido, mas funcionava muito bem, e lá em Raython havia algumas empregadas desmemoriadas para provar.

Ela corou quando o homem analisou seu corpo. Comumente as pessoas olhavam suas pernas ou seu decote, mas nunca de modo tão explícito.

Certamente meninas de intercâmbio não se vestiam como meretrizes, Lyra leu isso na face dele. Ela cruzou a perna para outro lado e encarou a parede da sala.

A casa tinha dois pisos, era confortável. Era quente, não aquele castelo frio e úmido. Havia muitos objetos de decoração e uma bela lareira. E havia um monte de coisas que Lyra não tinha a menor ideia do que eram.

Liv lhe dissera para agir normalmente e não verbalizar qualquer susto. Lyra evitava como podia.

— Mas você, moça. Por que este cabelo branco? Não parece uma menina albina.

— Ah, é uma doença rara, senhor. – Lílian tinha o dom de cativar qualquer um com sua fofura monumental. – Não sou albina, mas meus pelos não tem cor. Tentaram me usar para experimentos, mas meus pais não permitem. O mesmo pro meu primo, Pyro.

— É o ruivo mais ruivo que já vi. – Se Theo era cópia do pai, Liv era cópia da mãe.

Magdalene era baixinha e tinha cabelos castanhos também, porém maiores, pouco abaixo dos ombros. Os olhos eram daquele verde, espertos e rápidos. Havia um par de óculos pendurado no decote do vestido, que aparentemente só era usado para leitura. Ela era alegre e muito maternal. Não ofereceu objeção alguma para a permanência das crianças, e até gostou disso.

— Mas e suas coisas? – O senhor era mais desconfiado. E tudo era culpa do tamanho da saia de Lyra.

Maldição, não posso nem vestir o que eu quero.

Ela não dissera nada desde que o homem lhe lançou um olhar de reprovação. Não queria piorar as coisas ainda mais. Olhou a perna dobrada e quase verbalizou o palavrão.

A maldita marca. Ela se esquecera.

A marca do escolhido era o que distinguia um Mago Elemental de uma criança comum. Um círculo com um par delicado de asas, queparecia queimada a ferro. A de Lyra ficava em sua perna direita, e como sua saia era minúscula, estava visível. Ela ergueu os olhos e passou por todos para notar se alguém viu. Parou na expressão atordoada de Theo, e só então reparou que os óculos dele estavam trincados.

Quase riu. Ela não sabia se ele estava bobo pela perna torneada em si ou pela marca. Lyra tapou-a com as mãos e piscou pra ele, que corou imediatamente.

Ela estouraria se tivesse que aguentar tantos risos. Um plano maligno passou pela sua cabeça, mas deixou-o de lado por enquanto.

— Estão na escola. Buscaremos amanhã. – Pyro respondeu.

— Todos vocês são maiores de idade?

Lílian não titubeou.

— Sim. – ela riu. – Pode não parecer, mas somos. Estamos todos no último ano, e a atividade de intercâmbio vale como carga horária extra. – a maldita decorou o texto de Liv direitinho.

O Orbe de Reidhas - Legend of Raython, spin-off #1Where stories live. Discover now