Capítulo 7

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"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar" - Willian Shakespeare

Laura

Sinto um friozinho na barriga quando Bruno, com sua espontaneidade, sugere outros lugares para beijar-me. Não quero me decepcionar com seu jeito singular e explícito de se expressar, novamente. Por isso, resolvo reprimir minhas declarações de delírio mediante seu toque e sua presença estonteante. Não quero passar uma ideia deturpada do que realmente quero, nem o incentivar a agir despudoradamente. Mesmo sabendo que sou responsável por aquilo que falo e faço, e não pelo o que o outro entende; mas com o Bruno, é quase um dever impor limites, e o mais importante, não deixá-lo à mercê de declarações sinceras sobre a resposta que meu corpo reflete quando o toco. Evitará muitas dores de cabeça.

É engraçada a comparação, mas ele parece um cachorro no cio; sempre disposto a querer fazer amor. Melhor dizendo: a cruzar. Sorrio sozinha, perdida em meus pensamentos, enquanto caminhamos em direção ao seu Ford Edge.

— Está com fome? — Bruno pergunta assim que entramos em seu carro.

— Estou faminta! — E estou mesmo, pois não almocei, e só agora que minha fome manifestou.

Bruno se estica para pegar algo no banco traseiro. Em seguida me oferece.

— Comprei um lanche para você, imaginei que estivesse mesmo com fome.

Bruno se assemelha a um príncipe quando fala de forma complacente. Minhas barreiras reerguidas vão desmoronando com cada gentileza sua. Não consigo me conter. Acho que a admiração por seu ato está estampada em meu rosto, pois ele sorri satisfeito.

Isaac Newton estava certo ao descobrir que toda ação sofre uma reação. A cada ação de Bruno, minha reação é automática e inesperada; sinto vontade de beijá-lo em agradecimento, mas não posso sucumbir aos desejos e vontades imediatistas. Preciso fazê-lo entender que beijar-me é símbolo de carinho, respeito e cumplicidade, e não de satisfação carnal. E isso requer tempo e paciência.

Saboreio o sanduíche a cada mordida, pois está delicioso. Não sei se é contribuição da fome, ou se é a alegria de saber que, por um momento, Bruno pensou em meu bem estar. Talvez ambos.

—  A maneira como você come me dá vontade de morder seu sanduíche, Laura.

— Por quê? — pergunto, curiosa.

— Você faz parecer ser o sanduíche mais gostoso de todos os tempos, comendo com satisfação.

Sorrio, achando graça de sua observação.

— É porque me esqueci de almoçar. Agora a fome veio com tudo, e este lanche me salvou, visto que já estava sentindo quase um buraco no estômago.

Bruno fica sério de repente.

—  Você costuma ser irresponsável assim? Você poderia ter desmaiado devido à queda de pressão, e dependendo de onde e como estivesse, quebrado algum osso facial, e até mesmo deformado seus dentes com o baque. Não faça mais isso, tudo bem? — Desvia os olhos da estrada e me encara quando termina a última frase.

Anuo, sabendo que fui realmente irresponsável.

—  Diga-me Laura, o que a fez sair do conforto de lecionar para crianças de famílias prestigiadas e ir ensinar a adolescentes e crianças má estruturadas na pobre cidade de Reis? —  Sua pergunta me surpreende.

—  Acredito que seja uma sábia escolha. Quero obter experiências das mais diferentes situações possíveis. Sei que tenho muito a acrescentar à elas; e sei que elas me enriquecerão também. O bom de ser professora, é que você não somente ensina, mas também aprende. Há sempre uma troca extraordinária.

Orgulho e Desejo (Revisando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora