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Lealdade

Sou à prova de balas, nada a perder

Atire, atire

Ricocheteiam, você acerta o alvo

Atire, atire

Você me derruba, mas não vou cair

Eu sou de titânio

Titanium, Sia (feat. David Guetta)

Pouco depois daquela cena, Mirian se despediu da amiga e saiu da boate com seu bebê, um turbinado Ford Mustang Boss 302 amarelo e pisou fundo arrancando olhares curiosos e admirados por onde passava.

Logo chegou a oficina que era o prédio mais bonito daquela rua, em baixo a oficina que era enorme e retangular completamente branca e acima o primeiro andar onde ficava a "casa" da loira. Estacionou dentro da oficina e fechou as portas com o controle antes de atravessar a oficina escura.

Aos fundos ficava uma porta escura e ela a abriu e entrou na diminuta casa que Duca vivia, era onde Mirian e ele haviam sido criados por Maurício, "Mizão" parte da vida, mas a garota tinha uma obsessão por carros caros por isso com o tempo conheceu ricos que confiavam nela para manutenção dos seus carros de luxo e pagavam bem.

Com o dinheiro a loirinha equipou e ampliou a oficina e com a clientela aumentando comprou seu carro de um conhecido que estava falido e adicionou algumas coisas ao seu gosto. Também construiu um andar para morar e ainda uma laje com uma pequena piscina e um bom espaço para espairecer.

Mas jamais tocou em um móvel da casa, tudo era exatamente igual.

O teto baixo, dois sofás velhos com forro azul e almofadas coloridas, a estante antiga com fotos dos três. Sobre a estante os filmes caseiros feitos em família, a pequena viola de Mizão, um vídeo cassete que era uma relíquia, uma televisão das antigas – daquelas que tinham fundos largos e o receptor pegava somente um lado-, um som que tocava fitas e discos e a coleção de carrinhos de corrida em miniatura que Duca cuidava como se fossem de ouro.

No centro uma mesinha arredondada de madeira velha com um vaso antigo e flores de plástico, uma janela que abria-se em dois gabinetes e davam para o quintal da vizinha Adelma que tinha três gatos – dentre eles Cezar que Mirian praticamente criava -, dois filhos e sete cães. Mirian e Duca adoravam a bagunça dos vizinhos, nunca mudariam nada naquele lugar.

Três quadros, o primeiro com a sua tataravó segurando uma espingarda e ela jurava que a senhora tinha bigode, o segundo com seu bisavô ao lado de um carro de colecionador dos anos 30 que infelizmente seu avô havia precisado vender muito antes de ser pai de Maurício e seu precioso avô. Bento era o avô que qualquer um iria querer e Mirian nunca presou tanto alguém quanto havia presado aquele velhinho, ele segurava uma vara de pescar na terceira foto.

Um tapete redondo de crochê feito por sua avó Pepa e o enorme vaso ao lado da porta com folhas de Eucalipto e várias outras plantas medicinais, o vaso era quase do tamanho de Mirian.

Ela não vivia ali porque preferia ter seu canto, mas passava a maior parte do dia ali, perdida em lembranças. Duca ainda dormia nos quartinhos dos fundos, o antigo quarto de Mirian agora guardava entulhos e o quarto de Mizão estava exatamente igual, só entravam para fazer a limpeza.

A cozinha era pequena com um micro-ondas enorme sobre o balcão de parede, os armários amarelados com puxadores de madeira, a pequena mesa de madeira, a garrafa de café onde colocavam o café feito como antigamente – coado e fervido – e os vários utensílios antigos. Era uma casinha simples e aconchegante, não havia quem não se sentisse em casa por ali, era como a casa da vovó que os netos visitam duas vezes no mês para comer boa comida e ouvir casos enquanto recebe um delicioso cafuné.