continuação do anterior

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Decidi que eu não poderia ficar no meu quarto, naquele estado de inércia. Eu precisava ter certeza que ele iria mesmo me trair.
Apanhei o carro do meu pai na garagem e fui ao local onde minha amiga dissera que seria o ponto de encontro do casal. Avistei-a sentada num banco da praça e vi quando ele chegou ,num traje casual, observei enquanto eles conversavam não sei o que e vi,mortificada, quando ele a beijou.
Sei o que os leitores devem estar pensando: que é preciso ser muito trouxa pra suportar isso quieta. Mas eu era muito trouxa e aquele homem era meu vício. Era a minha dose diária de droga!
Dei a partida no carro e fui embora,já sabendo o desfecho daquele encontro. Ele iria tocá-la como me tocava,beijá-la como me beijava,fazer amor com ela como fazia comigo. Voltei a minha casa com um embrulho no estômago,e uma dor no peito. Acho que vomitei a minha alma nessa noite.
Fui procurá-lo no dia seguinte,estava disposta a tirar aquela história a limpo,eu queria que ele me contasse toda a verdade,que me pedisse perdão.
Mas quando o encontrei fui recebida por aquele sorriso que me desarmava,envolvida em seus braços e me esqueci de tudo. Na verdade,não esqueci! Tive medo de confrontá-lo ,de obrigá-lo a fazer uma escolha e ele se decidir por ela.
Então me omiti por meses.
Escutava minha amiga contar maravilhada dia após dia suas aventuras sexuais.
Aquilo me dilacerava por dentro,me maltratava. Era tortura, automutilação ,mas eu não conseguia me desvencilhar. Ele não era só um homem pra mim. Era parte de mim.
Uma parte que me fazia mal,como um tumor maligno que não pode ser arrancado.
Mas,houve um dia em que não aguentei mais prolongar aquele silêncio. Sua esposa havia viajado,ele tinha encontrado minha amiga e logo em seguida procurou por mim. Foi demais pra eu suportar. Então abri o jogo e ao contrario do que imaginei,ele não negou nada. Não mentiu,não tentou me convencer do contrário e eu também não exigi nada,pelo simples medo de perdê-lo.
Ficamos nesse quadrado amoroso por meses,eu ,minha amiga,a esposa e ele,mas eu sentia que o maior peso nessa relação era o meu. Por que eu até entendia ele voltar com a ex-esposa, eles tinham uma filha e ele queria estar com ela. Mas,por que minha amiga se ele tinha a mim?
Era uma noite chuvosa,como da primeira vez que ficamos e eu lhe indaguei.
-O que ela tem que eu não tenho. Por que você precisou ficar com ela se você tem a mim?
-Ela tem tudo!-ele respondeu e eu senti como se o sangue fugisse das minhas veias- Ela se entrega na cama,ela tem tudo que um homem procura em uma mulher. Ela sabe dar prazer.
Levantei-me da cama,abruptamente,fui correndo para o banheiro e vomitei tudo o que tinha para vomitar e fui embora sem dizer uma palavra.
Levei vários dias sem procurá-lo,remoendo aquelas palavras,digerindo aquela magoa que formara um bolo na minha garganta. Achei que ele me procuraria,que pediria desculpas,mas também não aconteceu.
Decidi que era hora de me livrar do meu vício. Não importava se eu ia sofrer ,se ia sentir abstinência. Estava na hora de me livrar daquela dependência.
Eu pensava em como faria isso se eu não era uma mulher forte? Se por várias vezes eu ensaiei aquele término e não consegui seguir adiante?
Dessa vez seria diferente! Eu iria abolir as minhas fraquezas e por um ponto final naquela loucura.
Telefonei-lhe ,marquei um encontro no nosso ninho de amor ,me arrumei caprichosamente no intuito de ganhar coragem e mostrar a ele o que ele estava perdendo.
Fui ao seu encontro,medindo os passos pelo caminho,reformulando o que eu faria e diria.
Cheguei a porta do casebre onde nos encontrávamos. Era uma kitchenette alugada para esse fim. Bati à porta e escutei uma música que eu amava tocar lá dentro. A loba-Alcione.
Aquela era a nossa música! E eu tive certeza que aquilo seria ainda mais difícil do que eu previra.
-Perdeu as chaves,Nenê- seu perfume era inebriante, ele tomou-me pela cintura e me deu-me um beijo,ao qual eu me entreguei,sôfrega por saber que seria o último.
Suspirei longamente quando ele me soltou e coloquei as chaves em suas mãos.
-Está me entregando as chaves por que?
-Por que não da mais- as palavras pareciam presas na minha garganta- Essa história esta me fazendo mal e eu preciso parar aqui. Olha por favor se eu te ligar não me atende,se eu te procurar não fala comigo,estou te devolvendo as suas chaves junto a minha angustia e amargura. Estou me libertando de você.
Ele não me disse nada e isso não me surpreendeu ,ele era um homem frio,insensível o que eu poderia esperar?
Depois de alguns dias eu não suportava mais de saudades. Eu me lembrava dele quando arrumava uma cama,quando cozinhava alguma coisa que ele gostava. Foi inevitável procurá-lo ,mas ele fez exatamente o que eu pedi.
Não importava o quanto eu ligasse,mandasse mensagens ou o procurasse ,ele me ignorava veementemente.
Sempre com a mesma frase
-Foi você quem quis sair da minha vida,agora aguenta.
No fim das contas acho que lhe fiz um grande favor. Lá no fundo tudo o que ele queria era se ver livre de mim.
Sofri muito! Me lamentei! A comida não tinha mais sabor. Eu tinha raiva de mim mesma. Perdi o interesse no mundo a minha volta. As lágrimas eram quase intermitentes
Tive depressão e até precisei ajuda profissional.
Hoje a vida volta a fazer um pouco mais de sentido e estou recuperando a minha identidade.
No fim das contas o mais importante é que apesar de tudo eu sobrevivi.

Contos e Cronicas De Amor Não Correspondido.Where stories live. Discover now