Que se dane o amor!

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Parte I

Vanesa estava parada diante do espelho,consultava sua imagem,nada feliz com a própria aparência, seus cabelos pareciam estar opacos e sem vida,abaixo de seus olhos,olheiras profundas contornavam seu rosto e lhe davam uma expressão cansada, e aqueles pés- de-galinha não ajudavam em nada a melhorar sua autoestima.
Heitor tinha ido embora,levando todos os seus pertences e junto com ele o sono e os sonhos de Vanesa.
Dez anos de casamento e em nenhum momento ele recuou ou cogitou a chance de ficar e ela pensava em como foi fácil para ele fazer as malas e partir lhe dando um adeus definitivo.
Ela havia notado uma mudança nos últimos meses,ele parecia disperso,distante,monossilábico, e o que ele realmente não conseguia esconder era aquela expressão de culpa a cada vez que chegava tarde em casa e inventava uma desculpa do tipo "Fiz hora extra hoje",por três vezes encontrou sua aliança no bolso da calça enquanto lavava roupas e até a sua comida(que ele sempre gostara tanto),ele passou a rejeitar, dizia que tinha comido uma besteirinha na rua.
Besteirinha na rua! Ela sabia bem do que se tratava. Ele tinha uma amante! E o pior não era uma simples aventura sexual. Conhecia-o bem o suficiente pra saber que ele estava apaixonado! Por inúmeras vezes ensaiou uma briga,ensaiou como tomaria satisfações.
Por inúmeras vezes quis pôr as cartas na mesa,mas tinha medo do desfecho. Sem perceber que era inevitável!
E ela lamentava,a cada vez que via Heitor suspirando pelos cantos,a cada vez que ele se aproximava,parecendo ter criado coragem de lhe dizer o que estava acontecendo e recuar logo em seguida.
Ela sabia,exatamente, o que estava errado,mas queria escutar dele,porquê assim encontrariam juntos uma salvação pro seu casamento: Terapia de casal,uma viagem,uma segunda lua de mel,um filho( por que não?eles adiaram por tanto tempo essa decisão) ,qualquer coisa que os fizesse voltar a ser o casal unido e apaixonado que eram antes.
Ela tinha esperanças! Ela acreditava que Heitor não jogaria dez anos de convivência pela janela,por conta de uma paixonite. Mas,ela se enganou! Deus,como ela se enganou!
Justo Heitor que era tão ponderado,tão prudente.
Ela jamais esperaria que ele a deixasse de forma tão repentina,e justo quando ela achava que as coisas entre eles começavam a se ajustar. Há uma semana mesmo,eles tinham saído para jantar e tinham feito amor quando retornaram, em nenhum momento ele disse que a amava como era antes,mas mesmo assim ela sentia que as coisas voltavam aos eixos. E agora isso!
Como pôde amar por tanto tempo um homem que sequer ponderou antes de abandoná-la? Como pôde entregar o seu coração e a sua vida nas mãos de quem não pensou duas vezes antes de lhe virar as costas?
Estava com tanta raiva! Uma raiva fatal de Heitor! Mas sentia muito mais raiva de si mesma.
Raiva por ter sido tão conivente com a traição! Raiva por não ter jogado tudo o que estava ao seu alcance em cima dele! Raiva por não ter derramado tudo o que estava entalado na sua garganta! Raiva por ter se descuidado tanto de si mesma para se dedicar integralmente a um homem egoísta que foi incapaz de pensar nela.
Esmurrou o espelho e o impacto contra o vidro foi tão forte,que o próprio se fragmentou em vários pedaços,cortando sua mão.
Ela observava o sangue escorrendo dentro da pia do banheiro e pensava que curaria seu coração despedaçado junto com sua mão ferida,que quando aquele corte cicatrizasse, nada mais importaria.
-Que se foda,Heitor! Que se foda o amor!

Contos e Cronicas De Amor Não Correspondido.Where stories live. Discover now