Prólogo

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Todo ano, na minha cidade, eu ia ao circo na noite de estreia com meus pais. Lembro-me de entrar naquele mundo mágico de mãos dadas com eles. O picadeiro, as arquibancadas, era tudo tão colorido e vivo!

Eu sempre sentava entre os dois. Eles eram tão altos e eu tão pequena, que eu, em meu vestido lilás e com os pés balançando sem tocar o chão, me sentia protegida. Sabia que mamãe e papai não deixariam o palhaço me ver e me levar para o palco. Eu amava as luzes e os sons, mas não gostaria de ser o centro da atração. Além disso, tinha medo do palhaço, achava estranho aquele rosto branco e nariz vermelho. Não confiaria em alguém que parecia legal, mas se escondia atrás de uma máscara. Como iria saber quem ele era quando o visse novamente?

Eu nunca contei isso para ninguém. O Chris acharia que eu era fraca, e eu queria ser forte como ele! Chris não vinha para o circo com a gente, ele dizia que "os mágicos eram enganadores e eu não gosto de ser enrolado".

Eu não me importava que tudo fosse parte de um grande truque, o que eu gostava era de tentar descobrir quando a "mágica" acontecia, em que ponto a ilusão se dava.

Outra coisa que eu realmente amava no circo eram os malabaristas. A habilidade que eles tinham de manipular as coisas e manter um equilíbrio era impressionante. Uma vez, eu vi uma malabarista vestida com um collant preto com lantejoulas brilhante. As luzes estavam apagadas e apenas um enorme holofote a iluminava em um círculo branco. Parada, no centro do picadeiro, ela segurava dez bolinhas, ao bater uma na outra, elas começaram a piscar em vermelho e azul.

A luz se apagou, segurei no braço de meu pai e ele fez carinho em minha cabeça para me tranquilizar. A mulher, então, começou a jogar as bolas no ar, pontos de luz cintilando para cima e para baixo. Lindo! Até que ela deixou uma cair no chão, o impacto a fez apagar. A malabarista continuou como se nada tivesse acontecido, mas eu senti pena da bolinha que ficou perdida. E se ela nunca mais voltasse a brilhar?

Hoje, tantos anos depois, eu não tinha mais a segurança de meus pais. Eles se foram em um trágico acidente. Fiquei sozinha no mundo, ainda que não por muito tempo: Chris, meu melhor amigo e protetor desde a infância, veio ao meu resgate.

O problema é que eu queria provar para mim que poderia ser independente, e isso não combinou muito com os planos iniciais do Chris. Ele queria cuidar de cada aspecto da minha vida, quando eu precisava resolver meus próprios problemas.

Por isto, aceitei trabalhar para John, o sexy vocalista da banda Jack Rock e amigo do Chris que era o guitarrista. Desde então, minha vida se transformou em um caos. Morar com Chris e ter John como chefe me fazia sentir como aquela malabarista.

Por mais que eu parecesse bem por fora, estava envolta em escuridão e tentava equilibrar três bolinhas ao mesmo tempo: a amizade do Chris, a atração por John e meus anseios. Sabe qual o problema com o malabarismo? Por mais que você tenha mãos firmes, sempre haverá uma no ar prestes a despencar no chão. Se ela vai cair ou não, vai depender da habilidade do malabarista.

Se eu soubesse o que o futuro me traria, talvez eu tivesse agido de outra forma, mas eu não sabia...Não até ter sido tarde demais.

Não até ter sido tarde demais

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Elle - sombras do passado (Série Jack Rock - volume 2) AMOSTRA!Where stories live. Discover now