I - Olhos arrepiantes

230 14 7
                                    

Louisy Anderson

__

O cheiro de café fresco fazia minha boca encher d'água, era meu combustível para iniciar um dia mais tranquilo.
Guilherme estava apenas de cueca preta, apoiado na bancada da pia de costas para mim. Sua pele alva entrava em contraste com o tecido escuro, e ver sua bunda redondinha, me fazia sentir fome de outras coisas. Pena que estava atrasada.

- Bom dia baby, estranhei ter acordado tão cedo. - Disse enquanto pegava uma caneca do Mickey, que tinha ganhado de aniversário de minha irmã mais nova. Minha familia inteira coleciona canecas. Acho que virou um hobbie legal, e ajuda a nos aproximar, ainda mais por que moramos longe um do outro.

Sentei no banco, que ficava a baixo do balcão central da cozinha, era mais prático que uma mesa, e tão funcional quanto. Apesar da maioria dos móveis terem vindo junto com a casa - herança de minha madrinha - algumas coisas, eu tinha tomado a liberdade de trocar, como boa parte da cozinha.

- Tenho uma reunião hoje, na verdade, é mais uma palestra. Sobre os conflitos de interesse do empresário e dos funcionários. Coisa besta. - esse era o Guilherme, nunca dava importancia a nada, por isso vivia uma vida simples. Era o que eu mais gostava nele.

Ele depositará um beijo casto em meus lábios e depois, se sentou a minha frente, no balcão. Fiquei um tempo observando, seus olhos castanho claro. Ele era lindo a sua maneira, a boca tinha o exato tamanho para não ser exagerada, nem para menos e nem para mais. Uma pele clara que brilhava de tão hidratada - inveja branca - e um sorriso deslumbrante.
Guilherme sempre fizera muito sucesso entre as mulheres, mas por qualquer razão indefinida, ele nunca quis ficar com ninguém. Então vivíamos assim, essa estranha amizade de cama, por assim dizer.

- Bom preciso ir, a Amanda ligou e disse que ficou marcado para as oito, a festa surpresa no Nando. Eles vão chegar as oito e meia. Ela pediu para te lembrar de Não esquecer, por que você é famoso em fazer todos esperar.

- Sim senhora! - E bateu continência. Um sarrista.

...

Não posso dizer, que estava particularmente ansiosa para chegar no serviço hoje. A biblioteca era bem grande, para uma cidade um tanto pequena quanto a nossa. E por haver poucos projetos culturais, a prefeitura resolveu abrir algumas seções na biblioteca, para excursões de escola. É bem legal, algumas exposições de arte e projetos sensoriais, e uma seção de faça você mesmo, na qual, os alunos, podem fazer suas próprias artes. Só é irritante ter que servir de babá pela manha toda.

A primeira turma não fez muita bagunça, podia jurar que tinham sido drogados, nunca vi adolescente quieto. Já a segunda compensou a primeira, deveria ter ficado calada, quebraram um artefato de grande estima... Para mim, pois em se tratando de valor monetário, ele não valia muito.
Resolvi não fazer muitas expectativas, com relação a terceira e última graças a Deus.
Era uma escola para meninos órfãos da cidade vizinha, quase um internato. Eles não tinham mandado a lista da equipe de professores e nem quantidade de alunos.
Chegaram atrasados quase meia hora. Os alunos entraram na frente, todos sérios, fortes e altos. E o professor veio logo atrás, ele tropeçou nos pés e quase se estabacou no chão. Sua pasta caiu espalhando papeis por todo canto. Ninguém se mexeu para ajuda lo, apenas eu.

- Puxa como sou desastrado, preciso olhar por onde ando, vivo fazendo essas coisas sabe, não sei onde fico com a cabeça, até parece que meus olhos são inúteis... - ele tagarelava, e quanto mais o fazia, mais papeis caiam. Uma cena de dar pena.

Peguei os últimos papéis e o entreguei. Ele murmurou agradecimentos e desculpas ainda de cabeça baixa. E quando levantou o olhar, quem tropeçou nos pés fui eu.
Gostaria de dizer, que esse era aquele momento onde me apaixonei a primeira vista, por um cara lindo, sexy e professor ainda. Mas a bem da verdade, é que aqueles olhos me arrepiaram ate a alma. E definitivamente não foi de um jeito bom.
Seu sorriso não chegou ao seu olhar, que me encarou profundamente quando disse:

- Eu sou o professor Thomás, você deve ser Louisy. É um prazer.

Dizer que as palavras não saíam era um eufemismo. Eu estava completamente muda e paralisada. Minhas mãos suavam e meu coração, estava palpitando violentamente. Não sei o que quebrou o encanto, ou a falta dele, mas consegui juntar voz suficiente para responder.

- Seja bem vindo senhor Thomás. Temos um itinerário pré-programado. Os folhetos estão na bancada, e qualquer dúvida, só me chamar que estarei naquela salinha. - e apontei.

Ele acenou com a cabeça, sempre com os olhos fixos em mim. Tal qual um predador para a presa.
O certo seria acompanhá los durante a visita, mas estava abalada demais.
Entrei na sala, fechei a porta e desabei na cadeira de rodinhas, que eu havia lutado tanto para conseguir.
Realmente é algo impossível de se acontecer. Ele era só um sonho e agora estava aqui, na minha biblioteca. No mesmo prédio que eu. Achei que historias assim, a gente encontrava o cara mal em um beco escuro, de madrugada e meio embriagada. Eu deveria estar delirando. Confundindo. Não era o mesmo homem e ponto.
Respirei fundo três vezes e sai da sala, preparada para encontrá lo e ser a simpatia em pessoa. Mas ele não estava mais lá. Alias nenhum deles estava. Perguntei para o segurança e ele não sabia de quem eu estava falando. Então calculei que estava enlouquecendo.

Thomás Black - PAUSA TEMPORÁRIAWhere stories live. Discover now