No caminho da volta, Pavlóv viera pensativo remoendo as palavras sarcásticas de Borys, preocupado àquela altura o que os vizinhos da aldeia pudessem pensar ao seu respeito.
Imaginou que deveria mudar o seu plano em relação à gatinha de Gecilovra, afinal das contas a sua conduta estava sob suspeita de investigação e o que não faltava naquele pedaço de mundo eram juízes mal intencionados.
Pavlóv gostava de andar sem pressa, quase sempre consultando as suas reminiscências, quem o olhava concentrado em seu solilóquio, jurava que o velho Pavlóv caducava das ideias.
O sol que o acompanhava em seu caminho, não espalhavam as dúvidas e nem o encorajavam em sua missão morticínia.
Homens, mulheres e crianças, passavam por ele como se não existisse, balançavam a cabeça em sinal de reprovação e continuavam suas passadas afastando-se rapidamente dele.
__Quero que todos queimem no inferno! Falou consigo mesmo no seu pensamento. São todos uma raça de víboras; hipócritas nazistas, pensam que me intimidam com seus olhares homicidas.
Guardou o ódio em seu coração e continuou andando matutando em silêncio suas maliciosas conjecturas.
Quando apontou na esquina da rua de sua casa, observou atentamente que havia um movimento no portão, alguém conversava com a sua esposa. Chegando mais perto compenetrou seu olhar desconfiado e curioso.
__Ora, ora! Se não é Aleksey o genro de Borys em pessoa! Há que devo a honra de sua visita nesta manhã de domingo?
O genro do comerciante chegara com um pacote embrulhado numa folha de papel envelhecido e empoeirado, ao esticar as mãos entregou-o a Pavlóv e logo se retirou sem muitas conversas. Ao desembrulhar o pacote Gesmóv sentiu gelar sua espinha; ao contemplar aquele quadro pintado a óleo por Botero, se lembrou imediatamente da tragédia que acometera seus pais num passado distante, que agora havia lhe assaltado de uma maneira abrupta e inesperada.
Estranhou o fato de o quadro ser entregue pelo genro de Borys, e pensou como a pintura poderia ter parado nas mãos daquela família sem saber de fato que fora seu irmão Aleksey que havia deixado aos cuidados do proprietário do armazém à fatídica missão da entrega da encomenda.
Seus pais haviam morrido carbonizados por um incêndio de causas não esclarecidas, somente ele e seu irmão Aleksey haviam sobrevivido àquela catástrofe, em circunstâncias contraditórias o mesmo acontecera àquele místico e misterioso quadro.
Agora Sodoma não estava mais sozinha, viera depressa buscar por sua irmã Gomorra. Só faltava mesmo a Colombiana de Botero ter se safado mais uma vez.
Nas costas largas de Ló, "The Dolorosa" pegara uma carona e não olhara para trás na tentação de ver aquela cidade em chamas. Sua convicção auspiciosa ardera em seu espírito livre e inquieto. Ela subira como a esposa de Ló, cujo nome próprio não fora citado na Bíblia, porém, não ousara desobedecer à ordem explicita dos anjos. "Suba, mas não olhe para trás". Botero bem que sabia, e apostava nisso.
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As Vítimas de Botero
Short StoryA trama se passa na Aldeia de Merchants, região da Podolia na Ucrânia... Ludovico Carson Howard era um Bacharel em Direito recentemente formado que morava na pequena e tranquila aldeia de Castle Combe. Filho de uma mulher protestante e um pai parapl...