Capítulo V - As irmãs Sodoma e Gomorra...

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No caminho da volta, Pavlóv viera pensativo remoendo as palavras sarcásticas de Borys, preocupado àquela altura o que os vizinhos da aldeia pudessem pensar ao seu respeito.

Imaginou que deveria mudar o seu plano em relação à gatinha de Gecilovra, afinal das contas a sua conduta estava sob suspeita de investigação e o que não faltava naquele pedaço de mundo eram juízes mal intencionados.

Pavlóv gostava de andar sem pressa, quase sempre consultando as suas reminiscências, quem o olhava concentrado em seu solilóquio, jurava que o velho Pavlóv caducava das ideias.

O sol que o acompanhava em seu caminho, não espalhavam as dúvidas e nem o encorajavam em sua missão morticínia.

Homens, mulheres e crianças, passavam por ele como se não existisse, balançavam a cabeça em sinal de reprovação e continuavam suas passadas afastando-se rapidamente dele.

__Quero que todos queimem no inferno! Falou consigo mesmo no seu pensamento. São todos uma raça de víboras; hipócritas nazistas, pensam que me intimidam com seus olhares homicidas.

Guardou o ódio em seu coração e continuou andando matutando em silêncio suas maliciosas conjecturas.

Quando apontou na esquina da rua de sua casa, observou atentamente que havia um movimento no portão, alguém conversava com a sua esposa. Chegando mais perto compenetrou seu olhar desconfiado e curioso.

__Ora, ora! Se não é Aleksey o genro de Borys em pessoa! Há que devo a honra de sua visita nesta manhã de domingo?

O genro do comerciante chegara com um pacote embrulhado numa folha de papel envelhecido e empoeirado, ao esticar as mãos entregou-o a Pavlóv e logo se retirou sem muitas conversas. Ao desembrulhar o pacote Gesmóv sentiu gelar sua espinha; ao contemplar aquele quadro pintado a óleo por Botero, se lembrou imediatamente da tragédia que acometera seus pais num passado distante, que agora havia lhe assaltado de uma maneira abrupta e inesperada.

Estranhou o fato de o quadro ser entregue pelo genro de Borys, e pensou como a pintura poderia ter parado nas mãos daquela família sem saber de fato que fora seu irmão Aleksey que havia deixado aos cuidados do proprietário do armazém à fatídica missão da entrega da encomenda.

Seus pais haviam morrido carbonizados por um incêndio de causas não esclarecidas, somente ele e seu irmão Aleksey haviam sobrevivido àquela catástrofe, em circunstâncias contraditórias o mesmo acontecera àquele místico e misterioso quadro.

Agora Sodoma não estava mais sozinha, viera depressa buscar por sua irmã Gomorra. Só faltava mesmo a Colombiana de Botero ter se safado mais uma vez.

Nas costas largas de Ló, "The Dolorosa" pegara uma carona e não olhara para trás na tentação de ver aquela cidade em chamas. Sua convicção auspiciosa ardera em seu espírito livre e inquieto. Ela subira como a esposa de Ló, cujo nome próprio não fora citado na Bíblia, porém, não ousara desobedecer à ordem explicita dos anjos. "Suba, mas não olhe para trás". Botero bem que sabia, e apostava nisso.








As Vítimas de BoteroWhere stories live. Discover now