Capítulo Doze

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Muito quieta, ela mal conversou durante o trajeto para casa. Só conseguia pensar nos eventos violentos e chocantes da noite. Os tiros, o ferimento de Caleb, a incrível transformação de Wilmer de homem indulgente e amigável a autoridade ameaçadora, a policia, os agentes federais, o hospital.

Tudo parecia se fundir num pesadelo sem fim. Luana fechou os olhos tentando apagar as lembranças. Ashley tinha vencido a batalha e a única alternativa que lhe restava era sair de cena pela segunda vez. Se Caleb a amasse valeria a pena lutar. Porém, ele não a amava e fizera questão de deixar sua escolha bem clara.

Durante anos seu apartamento em Nova York fora um verdadeiro refúgio. Mas agora, com o tornozelo naquele estado, teria que esperar meses a fio até poder dançar outra vez. Uma eternidade. O fato era que precisava se decidir por uma outra carreira. Caso não voltasse a dançar, seria obrigada a arrumar uma maneira de se sustentar. Abrir uma escola de dança para meninas seria a solução ideal. Afinal estudara balé durante toda sua vida. Sentia-se pronta para ensinar. Precisava apenas de um pequeno financiamento, um estúdio e a vontade de ser bem-sucedida.

O xis do problema estava na cidade escolhida. Wichita. Nova York, devido ao grande número de academias e aos preços exorbitantes dos aluguéis, estava fora de cogitação. Nunca teria condições de enfrentar a concorrência. Contudo em Wichita, mesmo sua família já não sendo rica, continuava frequentando os melhores círculos sociais. Suas raízes haviam sido plantadas naquela terra há quatro gerações. Uma única coisa a preocupava: a proximidade de Caleb. Quem sabe se conseguisse calar a voz do coração teria chances de levar uma vida quase normal? Seu irmão e Caleb deveriam estar em segurança agora, sob a vigilância da CIA. E, é claro, Wilmer logo seria levado para fora do país. Mas, e quanto a ela, meu Deus? Sentia-se perdendo Caleb pela segunda vez e não sabia se poderia suportar.

Lauana foi direto para cama certa de que não conseguiria dormir. Caleb tinha ido levar Ashley para casa. Imagens dos dois se abraçando e se beijando a atormentavam como ferro em brasa.

Na noite seguinte, sexta-feira, também não conseguiu dormir e passou o sábado e domingo com vontade de desaparecer da face da terra. O fato do tornozelo não reagir ao tratamento, apesar de todos os exercícios físicos, a deixava bastante deprimida e quando finalmente cochilou um pouquinho no domingo, foi incapaz de relaxar. Cansada de virar de um lado para o outro na cama, Luana se levantou decidida a preparar uma xícara de chocolate quente. Talvez conseguisse dormir depois.

Ela abriu a porta do quarto e ouviu um barulho lá embaixo. Seu primeiro pensamento foi que pudesse ser um ladrão. Mas todas as luzes estavam acesas.
De repente, percebeu que se tratava de seu irmão vestindo uma capa de chuva.

- Gustavo? - exclamou surpresa.

- Pensei que estivesse dormindo.

- Não consigo pegar no sono. -

- Eu sei, ah, vou precisar sair agora. Tenho uns papéis para entregar ao Wilmer. -

- Mas é meia-noite! -

- Wilmer não dá importância a pequenos detalhes, como as horas, por exemplo. E antes que você comece a se preocupar, vou ser acompanhado por um segurança. Tente dormir, está bem? -

- Tudo bem, tenha cuidado. -

- Certo. - Somente depois de ouvir a porta do carro bater é que Luana resolveu voltar para o quarto. Apesar de estranhar o barulho de outra porta de carro sendo batida, não deu a mínima importância, talvez tivesse contado errado.

Ela se olhou no espelho com atenção, sentindo-se até atraente. A camisola curta de cetim chegava ao meio das coxas e o decote acentuado deixava entrever o inicio dos seios.

A BailarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora