Capítulo Sete

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A noite foi longa e insone. Luana só conseguia pensar na proposta de Caleb. Ainda não podia acreditar que ele tivera coragem de sugerir um absurdo daqueles e muito menos esperar que ela concordasse. Como é que os momentos loucos de paixão tinham se transformado rapidamente em desprezo e raiva?

Talvez porque Caleb quisesse apenas se vingar do abandono e não levara em consideração suas explicações sobre o trauma sofrido com a morte da irmã. Ou quem sabe sequer acreditara numa única palavra de toda a história. Mas será que o rompimento do noivado fora somente falta sua? Afinal, ele a mandara embora e lhe dissera para sumir de sua vida pra sempre.

Devia ter enfatizado esse detalhe da briga entre os dois, obrigando-o a pensar que também fora culpado pela separação. Não era justo assumir a responsabilidade pelo fracasso da relação sozinha. De qualquer maneira, a única coisa que a preocupava no momento era a proposta vergonhosa que se vira obrigada a escutar. Quando ouvira aquelas palavras duras e insensíveis, imediatamente tentara se cobrir, as mãos trêmulas lutando com o fecho do sutiã e o zíper do vestido.

- É uma sugestão cruel. - Ela disse num fio de voz, tendo coragem de fitá-lo somente depois de se sentir apresentável.

- Será mesmo? Mas pode ter certeza de que falei sério. A proposta continua de pé, durma comigo uma noite e salvarei sua querida companhia de balé do desastre financeiro. Você tampouco terá de se preocupar com a possibilidade de uma gravidez indesejada, saberei tomar os cuidados necessários para protegê-la. A última coisa no mundo que eu desejaria agora era me ver amarrado a você por causa de um filho, tudo o que quero é me livrar da obsessão de possuí-la de uma vez por todas.

Ele a deixara em casa e fora embora sem se despedir, humilhando-a profundamente. Aquela obsessão, como Caleb chamara a atração ainda existente entre os dois, não deve ser algo passageiro, pelo menos no seu caso, porque não conseguira esquecê-lo mesmo depois de dois anos. Na ocasião, deveria ter tido coragem de expor os medos que a atormentavam e falar sobre o receio de se entregar a uma intimidade maior.

Também deveria tê-lo desafiado a respeito de Ashley. Fora uma tola ao sufocar os sentimentos. Em vez de lutar pelo verdadeiro amor, pela chance de ser feliz, dera ouvidos ao pai de Caleb e à sua própria mãe, que a queria manter bem distante de uma futura e provável gravidez.

Embora Luana conseguisse entender o que se passava em seu íntimo, tinha dificuldades para compreender os motivos dele. Sempre o julgara um homem emocionalmente frio e chegara a pensar que o rompimento do noivado fora até um alívio pois o livrara de muitas obrigações. Ele crescera num ambiente destituído de afeto e carinho, talvez por isso não soubesse como lidar com as emoções. O pai o considerava apenas alguém sobre quem exercer controle e a mãe nunca soubera como tratá-lo, evitando a responsabilidade de impor limites à natureza tempestuosa e determinada do filho.

Caleb crescera um solitário. E pelo visto continuava sendo. É claro que podia até se relacionar com as mulheres para aplacar o apetite sexual, porém evitava qualquer proximidade afetiva fazendo questão de erguer uma barreira ao redor da alma.

Luana percebera isso anos atrás, apesar de ser tão jovem e ingênua. De certa forma, fora aquela atitude reservada do noivo o que a levara a se afastar. Tivera a sabedoria de perceber que o amor, quando correspondido somente pelo desejo, jamais poderá se tornar a base de uma relação sólida e duradoura. E por cima de tudo, havia o pavor irracional de enfrentar um parto. Hoje se perguntava se sua mãe não tinha cultivado aquela fobia deliberadamente com o único objetivo de mantê-la na linha. Afinal sua mãe sempre gostara de manipular as pessoas. Assim como o pai de Caleb.

Ao chegar em casa, Luana subiu depressa para o quarto depois de dar boa noite ao irmão com forçada alegria. Felizmente Gustavo estivera entretido assistindo a um filme na televisão e não percebera o nervosismo da irmã. Ao se ver enfim sozinha, ela deu vazão às lágrimas de pura raiva.

A BailarinaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora