Confronto

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Érica vagava desesperada pelos corredores da emergência do hospital. Seu cabelo castanho escuro longo esvoaçava, fino, tentando seguir os passos indecisos, mas determinados da mulher. Ela usava um vestido tubinho bege, uma bolsa preta sobre os ombros, com tamancos também pretos. O vestido era justo e desenhava o seu corpo com exageros de curvas e volumes. Não era uma mulher comum de se ver na emergência de um hospital público. Se vestia bem demais para o ambiente.

No entanto, não era uma mulher que ostentava luxúria além da aparência natural dela. Um colar simples de ouro pendia em seu pescoço fino e dois anéis no dedo anelar da mão esquerda, evidenciando a viuvez.

Viu, depois de muita busca, George numa maca dentro de um quarto, junto a outras pessoas. Ele estava sendo medicado com soro, e uma enfermeira ajustava a velocidade das gotas.

— George! — exclamou baixo, adentrando o quarto. Ao alcançá-lo, o encarou com os olhos esbugalhados.

— Dona Érica — disse o rapaz.

— Cadê ela? Cadê a Dani?

— Ela está fazendo raio-x agora.

— Como ela está? — prosseguiu a mulher.

— Bem. — A enfermeira saiu. Distante deles, pessoas tentavam colocar um idoso, que tivera AVC, numa cadeira de rodas para o banho e ele murmurava alto, não querendo parar sentado sobre o objeto.

— Eu vou cair — ele gritava alto.

Érica olhou por um instante para o senhor gordo e pelado e depois tornou com os olhos para o rapaz.

— Ela só cortou a testa — ele comentou.

— E você?

— Eu estou bem.

— E...

— George Barish Dias? — indagou um policial moreno escuro com outro moreno claro ao lado. Emergiram logo atrás de Érica e se colocaram ao lado da maca.

— Sim? — respondeu o moço.

O outro olhou para a Érica.

— A senhora é a mãe dele?

A mulher olhou para o rapaz e retornou com eles para o policial.

— Uma... conhecida.

— Pode me mostrar um documento? — continuou o moreno escuro para George.

O rapaz tirou hesitantemente a carteira do bolso, a abriu com ambas as mãos, buscando não dobrar o braço direito que estava recebendo soro, e entregou a identidade ao policial.

Ele deu uma breve conferida e logo bradou:

— Você está preso por tráfico de drogas e aliciação de menor. — O policial tirou duas algemas e ensaiou prendê-lo na maca. George balbuciou palavras, mas o policial continuou: — Foram encontrados no seu carro vinte e três tijolos de maconha.

George arfou e virou os olhos.

O policial começou a prendê-lo ali mesmo, sem qualquer resistência por parte dele. Érica deu um passo para trás e viu o moço sendo algemado e só olhando para ela. Pessoas no quarto se mantinham entretidas no acontecimento ali.

— Pode ir embora, dona Érica. Diz a Dani que eu estou bem — ele disse por fim.

Na mesma hora ela entendeu a mensagem, assentiu com a cabeça e disse:

— Direi sim a ela que você está bem. Vou mandar também o meu advogado pegar o seu caso. — Ela intercalou os olhos pelos policiais e mexeu com a cabeça uma vez, se retirando. — Senhores, tenham uma boa tarde.

Sujo, imoral e inconsequenteWhere stories live. Discover now