Férias em Santos

Começar do início
                                    

— Sim, só tem que comprar alguma coisa primeiro.

A moça riu ao avistar seu namorado alcançando a carteira no bolso detrás da sua bermuda branca de praia.

Ela pousou sua mão sobre o braço dele, olhou atrás do balconista e avistou uma tabela de produtos com os seus respectivos preços. Concluindo a sua desaforada pesquisa, a moça voltou a olhar para o homem e perguntou:

— Qualquer coisa?

Ele acenou outra vez com a cabeça, concluindo:

— Qualquer coisa.

Daniela voltou a olhar para a tabela de produtos atrás dele e apontou com o queixo.

— Vou querer um café.

— Do copo pequeno ou médio?

— Do menor possível. — Ela o encarou. Analisou qualquer reação dele que justificasse qualquer protesto, mas o balconista não reagiu de forma alguma e deu às costas para ela.

Ele alcançou, numa mesa logo atrás dele, a cafeteira, onde a balançou e fez-se perceber que estavam sem café. Mas as normas da casa não sabiam como Daniela era desaforada, e nisso, a moça abriu a mão e depositou uma moeda de cinquenta centavos sobre a bancada.

— Não tem problema — ela garantiu. — Aqui está o dinheiro do café. Enquanto eu uso o banheiro você faz outro. — E deixou a mão aberta sobre o balcão, esperando a chave. Novamente, o balconista não expressou qualquer reação, pegou a chave pendurada na parede e lhe entregou. — Onde fica o banheiro?

O homem apenas apontou para o lado direito da lanchonete, dando atenção a outro cliente que se aproximava.

O casal procurou pelo banheiro e, quase atrás da lanchonete, achou um corredor com cinco deles.

— Um desses deve ser — ela comentou em baixo som, enquanto testava a chave no primeiro banheiro.

— Eu te amo — George disse repentinamente.

Daniela olhou para ele com um sorriso de vitória e lhe respondeu ao direcionar-se ao segundo banheiro com a chave na mão:

— Eu te amo também, seu bobo.

E, de novo, não deu certo.

— Meu, eu atravesso aquela banca e faço o carinha arrancar do cu uma chave que abra alguma porta dessas, se nenhuma abrir. — ela prometeu.

E testou na terceira porta, onde além de a chave encaixar, virou.

— Ufa, nada de vergonha por hoje, pelo visto — George a provocou.

— Hmm... Olha quem fala. — Ela o olhou de cima a baixo ao cruzar a batente da porta e se trancar lá dentro.

George saiu dali e deu alguns passos para fora do corredor dos banheiros. Admirou a natureza à distância, ao encostar o ombro e o braço esquerdo num tronco de árvore envernizado e enfincado no chão, servindo de alicerce para o teto daquela varanda de telhões Eternit acinzentados.

Distante dali, em meio à floresta, pássaros e cigarras cantavam, e de contrapartida, o ronco dos motores passavam rasgando na estrada, como se disputasse barulho com a natureza.

A porta do banheiro rangeu ao se abrir e George se virou. Viu o instante em que o punho de Daniela se fechava segurando parte da manga da camiseta branca dele na mão e o puxando para o banheiro.

Já no banheiro, Daniela trancou a porta.

— O que foi? — ele perguntou sabendo a resposta.

Ela respirou fundo, olhando nos lábios dele e se aproximou mais. Não demorou nada para que ele entendesse o que estava acontecendo e desmanchasse a expressão que carregava. Abriu um sorriso cretino, enquanto se aproximava também.

Sujo, imoral e inconsequenteOnde histórias criam vida. Descubra agora