A Guarda-Costas

(capítulo 1) A PROPOSTA

      Meu mundo é branco e preto. Meu branco é preto e meu preto é escuridão. Minha irmã se chama Dayse e é a única pessoa que me prende nessa cidade e ao meu passado, ou melhor, ao nosso passado.

      Nossa situação financeira não está nada boa. Trabalho como segurança em lojas e, às vezes, umas mães aqui da vizinhança me pagam uns trocados para vigiar seus filhos ou filhas por uma noite. Melhor dizendo, sou praticamente uma babá de adolescentes. Hoje, por exemplo, é um dia de sábado e umas das minhas vizinhas me ofereceu cinquenta reais para vigiar sua filha e o namorado. Claro que eu aceitei, afinal, dinheiro hoje em dia, para quem não é formado(a), é como encontrar água no deserto. Sim, muito difícil, mas não impossível. 

Depois que passar toda a noite vigiando esses dois pombinhos, finalmente às 06:00hrs da manhã vou para casa. 

     Minha bolsa está bem perto da minha mão e dentro dela tenho spray de pimenta. Digo isso pelo fato de ter um homem, que parece estar bêbado, em frente à porta da minha casa. Aproximo-me o máximo possível e se de longe eu já sentia o mau cheiro, agora estou sufocando. Pego a chave para abrir a porta. Só irei reagir se ele tentar algo. E então ele começa a falar:

_ Moça, é verdade que você vigia os filhos dos outros? _ Ele pergunta incrédulo. 

_ Não, isso é apenas favor que eu faço para minhas vizinhas. _ Respondo totalmente séria.

_ E você não cobra nada?

_ Por que o interesse? _ Pergunto desconfiada.

_ Tenho uma proposta a lhe fazer. _ Agora ele parece sério.

_ Então faça, porém não lhe garanto nada.

_ Eu preciso que vigie meu filho. Nós, não nos damos muito bem e ele além de ter apenas 17 anos, anda com más amizades. 

_ E então por que não contrata um segurança ou simplesmente uma babá? _ Só para lembrar a vocês, eu não sou babá ou algo do tipo.

_ Já fiz de tudo. As babás morrem de medo e os seguranças perdem a cabeça com ele.

_ Perdem a cabeça com ele?

_ Sim, ele é muito sarcástico e me expressando a grosso modo, arrogante. Não sei por que ele é desse jeito. Ele tem de tudo; roupas caras, frequenta a melhor faculdade, é inteligente, é popular...

_ Onde o senhor que chegar? Quer que eu vigie ele por uma noite, é isso?

_Quase isso. Eu quero oferecer mais uma chance para ele mudar. Preciso que vigie ele por 365 dias, para ser mais exato, por um ano.

Isso é uma piada, só pode. Quem em sã consciência passaria um ano cuidando de um adolescente mimado?

_ Eu acho que não sou a melhor pessoa para fazer iss...

_ Um milhão. _ Diz ele me interrompendo. 

_ Diga de novo? _ Ainda não posso acreditar. Esse dinheiro me livraria de todos os problemas.

_ Eu pago um milhão por um ano. 

_ Somente para vigiar ele?

_ Fazer ele mudar, pelo menos tentar. Claro, isso inclui proteger e vigiar também.

_Por um milhão?

_Por um milhão.

_Então eu aceito, quando começo?

_Amanhã._ Ele fala muito rápido, chega até a parecer urgente.

Quando ele vai dobrando a esquina, eu corro até ele e pergunto: