De novo

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DIANNE
- Porra, o que você pensa da vida, Dianne?! -Meu pai gritou com agressividade.
Depois que ele descobriu o local aonde eu estava, ele quis me matar assim que chegou aqui em Daytona Beach.
- Desculpa, mas eu precisava! Eu não podia me esconder em outro lugar, eu queria ter uma vida normal ao lado de quem eu amava!
Ele colocou as mãos sobre a cabeça.
- Nyesle vai casar amanhã. -Olhei para ele, meus pensamentos fluíram e eu não acreditei no que ele acabara de falar.
- O que?
- Nyesle e Rafael vão casar e eu quero que volte para pedir desculpas pra todos por ter fugido!
- Já passaram três anos, eu não vou pedir desculpas pra ninguém! Eu só queria ser feliz.
Ele riu com ironia.
- Com a Nyesle? Você sabe que ela não é lésbica, ela vai casar com um garoto!
Suspirei dramaticamente.
- Para! Se ela não queria ficar comigo, ela não deveria ter pedido pra fugir comigo!
Meu pai exercia pressão sobre mim, as lágrimas passaram a rolar pelo meu rosto.
- Foi ela quem me dedurou, não foi?
Ele assentiu.
- Eu a forcei e ela cedeu. -Ele me informou.
- Ela vai casar...porque ela quer? -hesitei em perguntar, limpando os resquícios de lágrimas no meu rosto.
- Sim. Ela ama o rapaz. E vão ter um casamento grande na fazenda. -As palavras me cortaram o coração. Meu pai pigarreou.- E você vai pedir desculpas e vai estar lá pra ajudar a noiva a se vestir.
Engoli em seco.
- Será possível que eu não posso viver em paz? Eu trabalho!
Ele negou com a cabeça.
- Você ainda é minha filha. Mesmo eu sendo um pouco...liberal demais, como dizia sua mãe, eu não vou te deixar ficar aqui. Pegue suas coisas, estou esperando no carro.
Ele saiu do meu pequeno chalé, me joguei no chão, chorando.
"Mas...Nyesle vai casar, porquê eu tenho que ficar junto à ela?"
Peguei minha pequena mochila e coloquei algumas coisas necessárias dentro.
Suspirei ao deixar a minha casa, deixei um bilhete na porta, caso Celeste queira saber aonde estou.
Meu pai estava à minha espera, seu jeep verde-musgo nunca me deu mais náusea.
Entrei no Jeep e meu pai me olhou.
- Só isso?
- Ainda é muito. -Resmunguei.- Não vou ficar lá pra sempre.
Ele soltou uma risada irônica e deu a partida no carro.
NYESLE
- Nyes, está linda! -Mamãe exclamou.
Rolei os olhos.
Eu estava sendo obrigada a fazer o que eu menos queria na minha vida, eu já tinha terminado com Rafael quando mamãe resolveu que tínhamos que casar.
- Vai ser este, então? -Perguntei.
O celular de mamãe passou a tocar.
Ela atendeu.
SRA.GOTTAN
Jones estava me ligando. Deve ser bem pra falar sobre a sua perda de novo.
Sra.Gottan: oi, Jones, seja breve, minha filha...
Jones: Dianne está comigo. Ela estava em Daytona Beach.
Arregalei os olhos olhando para Nyesle.
Sra.Gottan: você a achou?! Meu deus!
Jones: ela está disposta a pedir desculpas pelo ocorrido e participar do casamento da melhor amiga.
Suspirei.
Sra.Gottan: o quê? Negativo! E se ela tentar algo contra esse casório? Negativo!
Jones: ela está disposta a mudar, se acalme. Eu posso levá-la até a fazenda para se desculpar.
Olhei para Nyesle, ela estava com um maravilhoso vestido de noiva.
Sra.Gottan: ok. Amanhã de manhã ela pode estar na fazenda. Mas seja cuidadoso, não quero sua filha metida no meio de Rafael e minha filha.
Nyesle virou pra mim, desliguei de imediato o celular.
- Quem era? -Ela peguntou, desconfiada.
- Ninguém importante.
- Jones? Era sobre a Dianne?!
Me levantei e segurei-lhe um braço.
- Você não inventa! Quero você longe dela, fui clara?
Ela assentiu.
A deixei só no provador, fui pegar outros vestidos.
DIANNE
Chegamos à fazenda do pai de Nyesle, ela estava do mesmo jeito de sempre, mas um local estava sendo muito arrumado com balões, flores e cortinas.
"Deve ser o local do casamento."
Rolei os olhos e saí do Jeep.
Por algum motivo, meu estômago estava se revirando.
Nyesle estava provocando isso, certeza.
Ao pensar nela, ela saiu da casa, fechando a porta atrás de si.
Seus cabelos estavam bem maiores, brilhantes e loiros. Seus olhos azuis ofuscavam a cor da sua pele pálida.
Ela estava de vestido azul, que combinava com seus olhos.
Meu coração quase para de bater por um momento, ela parou em frente a porta, como se estivesse esperando uma atitude minha.
Ela também me analisava.
- Meu Deus... -Murmurei.
Comecei a ir até ela, meus pés pesando, devagarinho fui chegando perto dela, até sentir seu cheiro doce.
- Dianne. -Ela falou.- Quanto tempo.
Suspirei e me aproximei, ficando frente à frente com ela.
- Você me dedurou. -Sussurrei.
- Me perdoa. Eu não queria fazer isso...
- Foda-se. -Ela suspirou, me encarando.- Me diz aonde eu vou ficar e no quê que eu tenho que te ajudar.
- Você...pode ficar no meu quarto, como sempre, né?
Neguei com a cabeça.
- A sua mãe sabe e você dorme com o seu noivo.
- Não seja tão fria, eu estou tentando deixar tudo normal entre a gente! Me trata bem, por favor!
Soltei uma risada irônica.
- Se você quisesse ficar bem comigo, ficaria em Daytona Beach, não acha?
- Para! Já se passaram três anos, por favor, esquece!
Suspirei.
- Cala a sua boca. -Murmurei.
Ela murchou em minha frente.
- Vai ficar no quarto de hóspedes. -Ela murmurou e entrou na casa.
Eu a segui em silêncio pela casa.
Ela me conduziu até um pequeno quarto, as paredes cor azul-cobalto me lembravam os olhos que eu precisava esquecer o quanto antes.
Uma cama de casal estava localizada no centro do quarto e, aos lados, haviam cômodas brancas.
Sentei-me na cama e Nyesle passou a me observar.
- Eu...senti sua falta. -Sua voz esganiçou no meio da frase.
A olhei com desdém.
- Não sentiu não. Você não sentiu nada além de pena de mim. -Falei.- Agora sai, eu quero trocar de roupa.
Ela suspirou.
- Por favor, Anne, me dá uma chance! -Ela agarrou meu braço, senti pequenas lágrimas brotar em meus olhos.- Você sente minha falta, eu sei que sente!
Sem pensar, a abracei. Quando me dei conta do que estava fazendo, a soltei, me afastando.
- Eu senti a sua falta por muito tempo. Mas não sinto mais nada.
Ela fez uma expressão de "quê?".
- Como assim, Dianne? Não sente mais nada? Mas e quando você disse que...me amava?
- Aquilo era até verdade. -Voltei a sentar na cama.- Mas não é mais. Você ama outra pessoa, assim como eu.
- Você ama outra mulher?! -Ela gritou.
- Cala a boca, quer que todos ouçam!?
- Estamos sozinhas aqui! Tá todo mundo se preparando para o casamento! Responde!
- Sim! Conheci uma mulher e comecei a amá-la! -Respondi, ela suspirou e começou a chorar.
- Pensei que você ia esperar por mim, Dianne! Você falou que me amava! Você fugiu comigo, como pôde esquecer de mim tão facilmente?!
Me levantei e parei na frente dela.
- Você não sabe o que eu passei por sua causa. Eu fiquei longe do meu pai por sua causa, tive que começar a trabalhar, a acordar e viver só! A minha única companhia era o bar, Celeste e meu chefe!
- Celeste? É ela?!
- Sim, Celeste.
Ela virou de costas para mim.
- Foi só eu sair de Daytona que você resolveu pegar qualquer uma?! É isso que você chama de amor?! -Ela virou, apontando um dedo para mim.
- Você me fez de besta. Brincou comigo pra depois ir embora e resolver namorar qualquer garoto!
- Estou sendo obrigada, você não vê?! Eu amo você! -Ela agarrou meus braços.
Me soltei dela.
- Vai se foder. -Entrei no banheiro e me tranquei no mesmo.
NYESLE
Nunca implorei tanto para o meu coração parar de bater como hoje.
Eu já não aguentava um minuto viva.
Dianne se tranca no banheiro e eu passo a bater na porta, berrando, implorando para ela abrir.
- Nyesle, sai daqui, porra! Me deixa só!
- Não...por favor...por favor, Anne, não faz isso... -Passei a chorar diante da porta, me apoiando na mesma.- Você...Por que está sendo tão rude comigo?
- Nyesle? -Ouvi uma batida na porta do quarto, limpei minhas lágrimas e olhei para a porta.
- Rafael? Eu...Estou o-ocupada, você precisa de mim?
- Por que a porta está trancada? -Ele perguntou, mexendo a maçaneta, arregalei os olhos olhando para a mesma.
- Eu...eu...É que eu estava analisando o quarto, vendo o que eu estava precisando aqui...
-Que desculpa escrota. -Ouvi Dianne dizer.
- Tem mais alguém aí? -Engoli em seco.
- Ahn...Não. Não. Vá arrumar mais as coisas lá, rafa, estou ocupada aqui.
- Ok, então. Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar tá, amor?
Suspirei.
- Tá.
Ouvi passos distantes, ele já estava indo embora, me agachei diante da porta, batendo nela devagar.
- Dianne. -Sussurrei.- Me perdoa. Por favor.
Ouço um soluço e o barulho metálico da chave na porta.
Me levantei e a porta se abriu.
Dianne estava vermelha, seus olhos estavam inchados.
Ela me encarou friamente por um tempo.
- Desculpa, por favor, me perdoa. -A abracei, ela me afastou.
- Vou tentar falar com sua mãe e pedir desculpas. -E saiu do quarto pisando duro no chão.

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