episódio 09 :: AREIAS DE TÂMATUZ

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Texto de: Edson Lemes Júnior "Druida das Pradarias"
ANO DE ERA: 1656

O urro que vinha da arquibancada podia ser ouvido atrás das grossas portas de madeira que os separavam do espetáculo, assim como o som de combate. Metal contra metal, metal contra carne, gritos e gemidos se misturavam ao clamor da torcida, que se deliciava com o espetáculo regado a sangue.

Era sua primeira vez a pisar nas Areias de Tâmatuz, assim como a de muitos que estavam ali. A sua frente um homem molhava o chão a seus pés com algo que escorria por entre suas pernas. Era o medo esvaindo-se na forma líquida daqueles que experimentariam o sangue nas areias pela primeira vez.

Foram sete anos de treino. Muitos que começaram com ele, ou depois dele, morreram antes de chegar ali. Ele sabia que aquelas areias eram sua saída, ou ele morreria hoje, esquecido, ou sairia vivo ovacionado pela torcida que ia ao delírio com os vencedores. Só os vencedores tinham chance nas areias. Ele preferia a segunda saída, mas estava preparado para a primeira.

A seu lado estava Lahraa, uma jovem da raça Sátiro, ela chegou pouco antes dele a guilda de lutadores e foi seu apoio nos momentos mais difíceis do treino exaustivo. Mas hoje ele estava pronto e ela também, ele sabia disso. Lapidados sob o chicote e a espada de madeira, calejados sob o sol e sobre a areia da arena de treinos. Este era o momento, logo os portões se abririam e era a sua chance de mostrar que ele era alguém, de mostrar a seu senhor que ele merecia regalias, assim como os mais velhos de sua casa, já aclamados e lucrativos para o mestre.

Algo bateu com força no portão, talvez um corpo arremessado, um machado ou uma lança. O som da luta estava diminuindo e a torcida ovacionava a cada morte nas areias.

Enfim silêncio. A voz do narrador podia ser ouvida, mas não entendida. Eles sabiam que a hora chegara. Em breve o portão seria aberto e a liberdade chegaria, de uma forma ou de outra.

- Esta com medo Jhon? – perguntou Lahraa tocando de leve o braço de Jhon.

Ele olhou para ela, porém seus olhos estavam vazios, sua mente não estava ali

- Não.... talvez um pouco, mas não o suficiente e você?

- Não, coloco minha vida nas mãos de Navor e ele me guiará no combate. Se eu tombar, espero encontrar com ele nas grandes florestas de sua morada.

Jhon apenas olhou para a sua amiga. Como gostaria de acreditar em algo como ela, mas ele não acreditava em nada. Havia visto sua mãe ser morta pelo seu pai e depois ser vendido por seu próprio pai para um grupo de piratas, e por fim, veio parar ali, vendido para uma das guildas da arena. Se existia alguém comandando a sua vida, este alguém devia odia-lo.

***

Seus pensamentos são interrompidos com o rangido do portão a sua frente, a luz forte do dia feriu seu olhos, instintivamente ele levantou o braço para proteger-se dela, enquanto a fila de gladiadores começava a andar. Lá estava ele, pisando as Areias de Tâmatuz. Ele olhou a sua volta, já havia visto a arena antes, mas vazia, agora ela estava viva, pulsante e incrivelmente barulhenta. Parecia muito maior do que ele se lembrava, com aquela quantidade de pessoas olhando para eles.

Ele jamais imaginava que aquele momento seria assustador e incrível ao mesmo tempo. Toda a plateia urrava com a entrada dos jovens gladiadores, era o momento do batismo como eles chamavam, o batismo de sangue que selecionaria aqueles que realmente fossem dignos e aqueles que deveriam regar as areias com seu próprio sangue.

Formando um pequeno círculo, os doze jovens gladiadores olharam a magnitude a sua volta. O narrador começou a falar de um local onde podia ser ouvido por todos, uma espécie de concha a suas costas ampliava o som de sua voz:

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