episódio 05 :: MARES SEM LEI

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Texto de: Edson Lemes Júnior "Druida das Pradarias"
ANO DE ERA: 1649

Em uma pequena taverna portuária da cidade de Corsário, onde o cheiro de peixe misturava-se aos odores de álcool e assado vindos de seu interior, lá fora, uma pequena garoa caia sobre a vida daqueles que estavam isolados daquele pequeno mundo particular, conhecido apenas como: "Taverna do cão caolho".

As mesas do recinto misturavam-se a sujeira do lugar. Um cão lambia suas sarnas em um canto escuro, enquanto um bêbado roncava num movimento contínuo de vai e vem de sua respiração pesada e embriagada, debruçado sobre uma mesa qualquer com uma caneca vazia tombada ao seu lado. Alguns poucos homens, que lembravam mais bandidos do que homens de bem, sentavam-se espalhados pelas poucas mesas que restavam no recinto. Ao fundo, um homem solitário observava o único grupo que chamava alguma atenção no local. Quatro homens sentados em torno de uma mesa, regados a rum e comendo um assado gorduroso, eles conversavam distraidamente sem notar seu observador. Seu jogo era simples, cada um contava uma história e ao termina-la passava a vez para o próximo.

Quando um deles termina a sua história, todos tomam um gole de rum e o próximo, um homem com grandes barbas grisalhas e gordurosas, uma cicatriz na bochecha esquerda, calvo na parte superior da cabeça porém com um cabelo longo e seboso na parte lateral, percebe que é a sua vez. Comendo um pedaço do assado, lambuzando sua barba com óleo, ele olha para os companheiros, limpa um pigarro da garganta e começa:

"- Vocês já ouviram falar de Jhon Black? Claro, quem nunca ouviu falar dele, não é! Este nome ecoa nos corações temerosos daqueles que precisam ganhar a vida no mar. Do mais simplório pescador ao mais bravo marinheiro, ninguém pronuncia tal nome quando está dentro de um navio, navegando no mar, pois dizem que Jhon pode ouvir o mais simples sussurro de seu nome ecoando nas ondas.

Mas acredito que poucos ou nenhum de vocês realmente conheçam quem é Jhon Black. Então vou lhes contar sua história, sua sinistra história."

"- Jhon um dia já teve pai, mãe, já foi criança e jovem como eu e você" – ele aponta para um dos seus companheiros na mesa. A ponta de seus dedos brilha com a luz da tocha refletida na gordura do assado que ele acabou de comer.

"- Ele nasceu nesta mesma cidade onde estamos agora. Filho de um pescador pobre que vivia mais tempo no mar do que com a família. Jhon era testemunha muda da traição de sua mãe para com seu pai, enquanto o mesmo passava dias no mar para poder sustentar a família.

Certo dia, seu pai voltou antes do esperado e se deparou com o jovem Jhon sentado num pequeno tronco do lado de fora da casa, enquanto sua mãe e seu amante se divertiam em luxuria lá dentro.

Seu pai passa a mão na cabeça do Jhon e sem dizer uma única palavra entrou na casa. Jhon ouve os gritos que ecoam no pequeno casebre, mas não move um músculo, talvez por medo, talvez por saber que o que estava ocorrendo ali era errado, ou talvez por esperar que tudo terminasse bem e que seus pais se entendessem.

Mas logo seu pai sai da casa, com espada em punho, coberto de sangue e arrastando a esposa pelo cabelo. Jhon percebe que o sangue não era de seu pai, nem de sua mãe, então só poderia ser o amante, morto dentro de casa.

O pai arrasta a mãe até a frente de Jhon e grita:

- Jhon, olha pra ela, olha para esta puta aqui. Você sabia disso? Sabia o que ela fazia aqui enquanto eu viajava por esses mares para trazer comida para casa?

Jhon olha para seu pai, mas não consegue dizer nada, uma lágrima escorre por sua face sem seu consentimento. Sua mãe gagueja algo, quase incompreensível.

- Deixa, deixa ele em paz....

Mas antes que ela termine, sua boca é calada por um soco que abre um corte profundo em seus lábios, o sangue escorre através de lábio carnudos e inchados, descendo pelo queixo e pescoço, como um filete fino e vermelho. Ela se cala.

ERA Novels - a sua novela medievalWhere stories live. Discover now