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  Eu pensei que quando eu decidi me demitir do meu emprego onde eu ganhava uma fortuna pra abrir minha própria editora eu tinha perdido completamente a cabeça. Só que o destino tinha esse negócio de pregar uma peça nas pessoas e sempre mostrar que o que está ruim pode piorar. A parte financeira da minha vida estava indo de vento em popa, minha editora era uma das maiores do ramo e eu tinha os melhores escritores publicando seus livros por ela. Eu tinha um apartamento incrível, um carro que eu sempre trocava de ano em ano e uma mulher linda ao meu lado. Bem, não mais, pra falar a verdade.
- O senhor quer mais um copo de uísque? – a aeromoça perguntou.
- Por favor, e se puder pode trazer a garrafa.
- Creio que não posso fazer isso, senhor. – ela respondeu, pegando o copo de minha mão – Porém posso trazer um copo maior com uma quantidade boa de bebida.
- Isso ajudaria muito. – respondi encostando a cabeça na poltrona.
Minha vida em menos de vinte quatro horas tinha virado de cabeça pra baixo. Pra começar, a minha namorada, ou melhor, ex-namorada, estava de caso com uma das secretárias da minha empresa bem debaixo do meu nariz. Tudo bem, eu gostava dela, mas não tanto assim a ponto de afogar minhas mágoas. O verdadeiro problema foi a ligação que eu recebi horas depois, da minha mãe dizendo que estava na porta da minha casa.
Veja bem, a relação com minha família sempre foi boa, contando que eu estivesse no meu canto e eles no deles. Eu fazia questão de mandar presente pra todos justamente pra ninguém sentir minha falta e não exigir minha presença nessas festas de família. Só que ultimamente minha mãe tem exigido muito a minha presença nas festas familiares, me ligava constantemente para que eu fosse pra casa. Até que um dia ela parou de ligar e resolveu aparecer em minha casa.
- Mãe? O que a senhora está fazendo aqui? – perguntei, abrindo a porta.
- Noah, meu filho, o que foi que aconteceu? – ela perguntou, me segurando pelos ombros – Você está com uma aparência horrível. Aquela sua namorada não está cuidando de você direito não?
- Isso se chama ressaca, mãe. – respondi me afastando dela – Ah, e minha namorada tem namorada, então acho que ela não é mais minha namorada.
- O quê?
- É, mãe, Lia estava me chifrando bem debaixo do meu nariz. – fechei a porta e andei até a cozinha.
- Se você tivesse nos apresentado a ela, com certeza não estaria sofrendo agora.
- Ah, claro. Porque a senhora é uma expert em relacionamentos. – cruzei os braços vendo-a abaixar a cabeça – Desculpe.
- Noah...
- O que a senhora veio fazer aqui mesmo?
- Quero que passe o feriado conosco, faz tempo que você não vem em casa.
- Eu não posso ir, eu já disse. Eu tenho muito trabalho.
- Eu sei que você está mentindo, Noah, você está de recesso por conta dos feriados. – ela respirou fundo – Por que você não vem pra casa?
- Como se eu precisasse responder, você sabe porque.
- Ele é seu pai.
- E você acha que eu não sei? Todos os dias eu desejo não ter parentesco com aquele homem, infelizmente a gente não escolhe a família, mas eu posso escolher não ter que olhar pra cara dele.
- Noah...
- Eu não vou, não adianta insistir, além do mais, eu tenho planos. – Muito bem, Noah! Quero ver como é que você vai sair dessa, parece até que não sabe que sua mãe sabe quando você está mentindo.
- É mesmo?
- Sim. – olhei para o lado vendo os manuscritos revisados – Eu vou passar o feriado com a família da Patricia, eu prometi.
- Prometeu?
- Prometi.
- Oh, tudo bem então. – ela andou até a porta e, antes de sair, virou-se pra mim – Saiba que sempre vai ter um canto pra você na mesa. Até logo, meu filho. – ela saiu batendo à porta. Eu sabia que ela não iria desistir, amanhã ela provavelmente estaria aqui novamente tentando me convencer a ir pra casa. Oh, mas dessa vez ela não iria me achar.
Peguei o celular em cima da mesa e disquei o número que eu já sabia decor.
- Patricia?
Patricia apareceu na minha vida no seu penúltimo ano de faculdade, eu estava a procura de uma assistente, já que a última tinha se apaixonado por mim. O que eu posso dizer, várias noites revisando manuscritos, um jantar aqui, um barzinho ali, uma coisa levava a outra. Só que com Patricia foi diferente, no dia da sua entrevista eu tinha marcado um almoço com uns investidores e pedi que os concorrentes me encontrassem na cafeteria. Quando ela entrou no recinto, todos os caras – e devo arriscar algumas mulheres – tinham parado pra vê-la passar, o que já era de se esperar, já que ela andava como se todos tivessem abaixo dela. Posso dizer que eu fiquei um pouco intimidado, mas mesmo assim continuei com a entrevista como se ela não tivesse tanto efeito assim em mim.
A entrevista tinha sido ótima, eu já tinha até separado o currículo dela para analisar, até que eu dei um sorriso de lado e coloquei a mão em cima da sua e momentos depois ela despejou todo o conteúdo do seu chá gelado na minha cabeça me chamando de imbecil aproveitador e me mandando pro inferno. Ela saiu furiosa de dentro da cafeteria e eu posso confirmar que eu nunca ri tanto na minha vida, tanto que semanas depois eu a chamei para trabalhar comigo.
Por um momento eu pensei que tinha perdido a cabeça por ao menos ter cogitado a ideia por tê-la como minha assistente, mas algo me dizia que ela não era o tipo de pessoa que eu não deveria deixar escapar. Aos poucos ela foi me mostrando que eu tomei a decisão certa. Seus professores a encheram de cartas de recomendações assim como seus outros estágios. Ela nunca me pediu desculpas pelo chá que derramou na minha cabeça, nem mesmo depois que eu apresentei minha namorada para ela, e quando eu comentei, ela apenas disse que eu mereci e que da próxima seria café quente.
Nesses cinco anos trabalhando juntos, eu conheci muito sobre ela e vice-versa, posso até arriscar que viramos bons amigos. No começo foi difícil, Patricia só falava de trabalho comigo e nunca deixava escapar nada sobre sua vida pessoal, até que um dia depois do expediente eu decidi ir pro bar onde todos os meus empregados frequentavam depois do trabalho apenas pra encontrá-la com o cabelo amarrado em um coque, rindo alto em uma mesa de bar. Todo mundo ficou sério depois de me ver, menos ela. Patricia expulsou um cara que estava ao seu lado dizendo que ele não queria saber sobre os seus sete cachorros e disse pra eu sentar ao seu lado. Foi naquele momento que eu descobri que minha assistente não me odiava do jeito que eu pensava que ela odiava, ela só era muito séria quando o assunto era trabalho. Aos poucos as coisas foram mudando e nossa relação foi progredindo, hoje posso dizer que Patricia é meu braço direito e eu confio a minha vida a ela. Era um relacionamento pra vida toda e eu posso afirmar que eu não imagino minha vida sem ela. Ela comemora as minhas vitórias do mesmo jeito que eu comemoro as suas, ela sabe dos meus piores da mesma maneira que eu sei dos seus. E por isso eu estava pegando o avião direto pra cidade natal para passar o feriado com ela e sua família.
Quando ela atendeu, ela grunhiu tão alto que eu juro que até os monges dos Alpes mais altos ouviram e antes mesmo que ela pudesse me mandar pro inferno, eu disse que era um emergência e aterrissava na sua cidade natal em algumas horas. Ela não disse nada, só pediu o número do voo e disse que ia mandar alguém me buscar no aeroporto.
- É aqui, meu rapaz. – o motorista parou em frente a uma mansão. Eu sempre soube que Patricia vinha de uma família rica, também sabia que ela era muito apegada a todos e sempre que tinha tempo vinha passar um tempo com eles. Ela nunca quis um centavo do dinheiro deles, sempre disse que preferia trabalhar pelo seu próprio dinheiro, mas eu sei que sua avó ainda mandava uma mesada mensal pra ela mesmo que ela insistisse que não precisava. Patricia não gostava de contrariar a avó por isso doava uma parte do dinheiro pra caridade sem que ela soubesse. Patricia era uma daquelas pessoas que era toda durona e marrenta, mas tinha o coração mole, bastava só uma carinha de cachorro sem dono pra conseguir sua ajuda. E eu sabia fazer essa carinha como ninguém.
Falando nela, ela estava parada na varanda, com os braços cruzados e com sua avó do lado. Eu sabia que ela estava furiosa, não era pra tanto, era a primeira vez que ela tirava férias e aqui estava eu, a perfeita lembrança de trabalho.
- Desce logo desse carro, Noah, eu não tenho o dia todo! – escutei ela gritar enquanto eu abria a porta. Sua avó deu-lhe um beliscão e ela grunhiu.
- Patricia, isso é jeito de se tratar uma visita? – escutei sua avó falar enquanto eu pegava minha mala – Oh querido, pode deixar que Carlos leva.
- Não vó, o Noah já é bem grandinho, gasta rios de dinheiro naquela academia de riquinho que ele frequenta, ele pode levar sua própria mala.
- Não precisa se preocupar, eu levo. Obrigado. – falei para o senhor antes de subir a pequena escada.
- Oh, então você é o famoso Noah. Eu sou Carmen, avó da Patricia. – a senhora me segurou pelos ombros e me puxou para um abraço – Você é bem mais bonito do que eu esperava.
- Eu sou famoso por aqui? – perguntei, me separando dela.
- Claro, Patricia não para de falar de como você não a deixa em paz.
- O que eu posso dizer, eu não sei viver sem ela. – me virei pra Patricia, que sorria sem mostrar os dentes. Era estranho vê-la em roupas casuais, não era todo dia que ela usava um jeans detonado e um all star. Normalmente eram saias lápis, blusas sociais e saltos que eu sabia que eram suas fraquezas.
- E quem consegue, né?! – sua avó olhou pra ela – Patricia, você não vai dar um abraço no seu chefe?
- O que é dele está guardado. Vamos logo, eu vou te mostrar onde fica seu quarto. – ela se virou andando em direção a casa. Quando eu entrei na casa pude escutar a música alta vindo do quintal, Patricia sempre me disse que sua família gostava de dar festas perto dos feriados, um jeito de reunir a família já que a maioria deles tinham que se dividir em vários quando chegava o natal.
A casa da sua avó era grande e antiga também, tinha aquele cheiro de casa de avó que faz você querer esquecer que um dia já pensou em fazer dieta e comer até explodir.
- Desculpa o barulho, Noah, é a festa anual dos Alencar e não é todo dia que todos se reúnem debaixo do mesmo teto. – Carmen riu, segurando em meu braço – Espero que você não se incomode.
- Claro que não, se tem alguém incomodando aqui sou eu, invadindo sua casa sem nem ao menos ser convidado.
- Qualquer amigo da Patricia é parte da família também. Todo mundo está muito ansioso pra finalmente te conhecer, Patricia fala tanto de você que as vezes acho que lhe conhecemos tão bem quanto ela. – Patricia parou no primeiro degrau da escada, se virando pra nós. Ela cruzou os braços, me olhando de um jeito que eu sabia que ela estava apenas esperando o momento pra ficarmos sozinhos só pra poder me matar.
- Espero que eu possa conhecê-la melhor nesse tempo que vou passar aqui. – beijei sua mão, fazendo Carmen sorrir e Patricia rolar os olhos.
- Entendo porque Patricia não veio passar esses feriados conosco, você é um rapaz muito charmoso.
- Não acredito que você vai cair nesse papinho dele. – Patricia falou, rolando os olhos.
- O sujo falando do mal lavado. Aposto que basta só um olhar de cachorro sem dono dele pra você ficar. – Patricia ficou séria e começou a subir as escadas.
- Vamos logo, Noah! Eu tenho mais o que fazer. – ela gritou mesmo da escada.
- Foi um prazer conhecê-la, Carmen.
- Se você não estiver muito cansado, pode se juntar a nós na festa.
- Vou fazer o meu melhor. Muito obrigado por me receber.
- O prazer é meu, querido. Agora vai lá, Patricia não gosta de ficar esperando.
- E a senhora não acha que eu não sei? – ela riu, antes de desaparecer pelo corredor. Subi as escadas, avistando Patricia encostada no batente da porta, segurando a maçaneta.
- E você mora naquele apartamento de quinta por que mesmo? – perguntei, me aproximando dela.
- Só porque eu não moro na cobertura não quer dizer que meu apartamento é de quinta. – ela abriu a porta do quarto que eu ia ficar – Esse daqui vai ser seu quarto, em frente ao meu.
- Sabia que você não podia ficar longe de mim. – falei, entrando no quarto, sendo seguido por ela. O quarto era grande, tinha uma cama de casal e era todo decorado em preto e branco.
- O que você tem na cabeça? – ela perguntou furiosa, fazendo com que eu me virasse pra ela.
- Isso é jeito de falar com o seu chefe?
- Aqui você não é meu chefe.
- Por que você está sendo tão dura comigo?
- Porque você não me dá um segundo de paz! – ela passou as mãos pelo cabelo, frustrada – Porra, Fuller, pensei que ia passar meu feriado sem trabalho e aí você me vem com uma emergência.
- Quem disse que é sobre trabalho?
- Não é?
- Não.
- Então por que diabos você me ligou?
- Eu precisava de um lugar pra ficar.
- Então por que não usou a tua grana e alugou uma casinha no fim do mundo? O que é tão importante?
- Minha mãe. – a sua expressão mudou. Ela sabia que eu não aguentaria passar o feriado com minha família, não quando a minha relação com meu pai era tão conturbada – Ela quer que eu passe o feriado com a família.
- Com a família inclui o seu pai também?
- Principalmente com ele. – me sentei na cama, vendo-a se aproximar – Ela veio com aquele papo de que eu não tenho passado tempo suficiente com minha família e que faz tempo que eu não vou em casa.
- Não é como se ela estivesse mentindo, né? Talvez você devesse ir. Noah, faz quanto tempo que você não vê sua família?
- Muito tempo.
- E você não sente falta deles?
- Às vezes, sim. Mas você sabe, eu detesto o cara. Ele pode ser meu pai, mas eu prefiro nunca mais ter que vê-lo na vida.
- Mas você vai ter que vê-lo um dia, não acha? Ele é seu pai, Noah e por mais que ele tenha errado, você não pode esquecer que ele existe.
- Na verdade, eu posso sim.
- Então você decidiu que passar o feriado comigo era a melhor solução? E sua namorada veio também? Vou logo dizendo que se ela veio, não vai ter suíte pro casal.
- Por que não?
- Minha família é bem legal, mas eles são bem caretas em alguns aspectos, então é melhor não testar a bondade deles.
- Tudo bem, mas não precisa se preocupar, eu e Joselie não estamos mais juntos.
- Por que não? Não vai me dizer que ela estava te traindo com uma das secretárias?
- Pior que estava, e com a mais feia.
- O quê? Ela não... Ai meu Deus, Noah! Eu ganhei a aposta então. – ela balançou a cabeça – Quer dizer, eu sinto muito.
- Que aposta?
- Hum... – ela se fez de desentendida.
- Patricia...
- Ah Noah, – ela se sentou ao meu lado – ela sempre foi muito amiguinha comigo pro meu gosto. Eu ainda lembro do dia em que ela me chamou pra dançar naquele boate quando estávamos comemorando seu aniversário.
- Eu lembro desse dia. Todos os marmanjos daquela boate queriam levar vocês pra casa. – me virei pra ela – Eu posso afirmar que eu tive uns desejos bem loucos sobre vocês duas aquele dia. – e tive mesmo, não vou mentir. Patricia era linda, marrenta e mandona, mas extremamente linda e talentosa.
- Idiota! – ela disse, se levantando – Agora levanta daí!
- Pra quê?
- Minha família quer te conhecer.
- Eu não posso conhecê-los outra hora?
- É você quem sabe, se você não for agora, capaz deles invadirem seu quarto só pra ver como você é.
- Eles não fariam isso.
- Sabe a palavra limite, Noah? Ela não existe nessa família, é todo mundo se metendo na vida de todo mundo.
- Menos na sua, você não mora aqui.
- Aí que você se engana. Minha avó me ligou um dia desses me dizendo que eu não deveria ir em um segundo encontro com aquele bancário porque ele era um mal educado e mulherengo.
- Como sua avó descobriu isso?
- Eu não sei, mas ela descobriu. – ela abriu a porta, encostando na mesma – E aí, bonitão, vamos?
Quando Patricia disse que sua família não tinha limites, ela não estava exagerando. No meio tempo em que ela me apresentou todos os membros da sua família, me apertaram as bochechas, pediram pra eu mostrar os músculos, os dentes e perguntaram se meu cabelo era peruca. Patricia se divertiu com tudo, é claro, enquanto eu tentava ser o mais educado possível e desviar das tias muito fogosas que ela tinha.
Agora ela estava sentada na mesa enquanto eu colocava comida pra nós dois, segundo ela eu a tinha estressado um pouco que agora estava exausta, ou, como eu gosto de dizer, ela estava com preguiça e me fazendo de empregado dela.
- Ali não é a Patricia conversando com o Aaron? – levantei o olhar das panelas avistando Patricia conversando com um cara que estava em pé ao seu lado.
- Quem é Aaron? – me peguei perguntando em voz alta, chamando a atenção das senhoras que estavam conversando.
- Aaron é a estrela da cidade. Ele era capitão do time de futebol no colégio em que Patricia estudava, eles tiveram uma relação de amor e ódio por um bom tempo até que o amor falou mais alto. Eles namoraram por quatro anos até que ele ganhou uma bolsa de estudos pra jogar futebol do outro lado do país, enquanto ela foi pra Nova York. – Patricia riu de alguma coisa que o tal Aaron falou, fazendo com que eu me sentisse um pouco desconfortável – Você não precisa ficar com ciúmes, Noah, o coração da Patricia já não bate forte por Aaron por um bom tempo, você sabe disso.
- Sei? – perguntei, olhando para elas.
- Sabe, você só precisa enxergar. – E com isso as duas saíram, rindo baixinho, enquanto eu fiquei confuso. Peguei os pratos em cima da mesa e fui em direção a Patricia. Ela ainda estava conversando com o tal do Aaron, mas logo desviou o olhar dela, olhando pra mim.
- Finalmente! – ela jogou os braços pro alto – Pensei que você tinha se perdido pelas panelas.
- Muito engraçadinha. – empurrei o prato pra ela, sentando-se a sua frente. Patricia me olhou confusa, e disse:
- Noah, o que você está fazendo aí? Senta aqui do meu lado, eu quero comer um pouco da sua salada.
- Se você quiser, eu pego pra você.
- Não, lindinho, eu só quero se for da sua. Agora senta aqui! – ela se afastou e bateu no espaço do banco ao seu lado. Eu me levantei, indo em direção a Patricia e sentando ao seu lado. – Oh, Aaron, esse é Noah, Noah esse é o Aaron. – ela falou pegando um pouco da salada do meu prato. Aaron estendeu a mão pra mim e eu a apertei.
- Prazer em te conhecer, Noah. Agora eu tenho que ir, minha mãe está me chamando. Tchau, Patricia.
- Tchau, Aaron. – ela sorriu e voltou a comer do meu prato. Aaron se afastou ainda olhando pra trás duas vezes, mas Patricia estava muito ocupada comendo para ver.
- Você sabia que você deveria criar o costume de colocar salada no prato?
- Por que eu faria tal ato monstruoso quando eu tenho a sua pra roubar? – ela riu, começando a comer do seu prato.
- Vai ter um dia que eu não vou deixar você comer da minha comida.
- Nós dois sabemos que isso é uma total mentira. – ela disse, voltando a atenção para o seu prato. Eu juro que eu tentei segurar, mas eu não sei o que me deu, quando eu menos pensei eu já estava dizendo.
- Então foi bom reencontrar seu namoradinho de colégio? – Patricia parou de comer e olhou pra mim.
- Quem te contou?
- Umas senhorinhas estavam conversando sobre vocês na mesa. – voltei a atenção para a minha comida – Nunca pensei que você fosse do tipo clichê que se apaixonava pela estrela da cidade.
- Se fosse só esse clichê que eu tenho na vida. – ela resmungou.
- O quê?
- Nada. – ela empurrou o prato pro meio da mesa e virou-se pra mim – Eu era nova e Aaron, como você pode ver, é um gostoso. A gente sempre se bicava, mas lá no fundo era só tensão sexual de dois adolescentes deixando os hormônios falarem mais alto. Eu sempre pensei que a gente não ia passar de um mês, aliás, eram só dois adolescente deixando os hormônios falarem mais alto, imagina minha surpresa quando ficamos juntos por quatro anos. Nós nos apaixonamos, foi inevitável. É claro que virou a história favorita de toda a cidade, quem não gosta de uma boa e velha comédia romântica, hein?!
- Foi difícil ir embora?
- Uma das coisas mais difíceis que eu já fiz, mas isso está no passado, eu superei.
- Foi mesmo? Como?
- Arrumei um novo clichê pra mim.
- Um novo clichê?
- Tia Patricia! – uma garotinha, em seus seis anos mais ou menos, abraçou Patricia pela cintura fazendo a mesma virar pra ela.
- Oi, meu amorzinho! Olha como você cresceu, o seu cabelo está enorme.
- Mamãe disse que eu posso deixar crescer até que batesse no chão, igual a Rapunzel. – a garotinha voltou seu olhar pra mim – É seu namorado, tia Patricia?
- Não, Stacy. Ele é meu chefe, meu amigo, Noah.
- Ele é muito bonito.
- Não fala isso não se não é capaz do ego dele inflar e ele sair flutuando.
- Igual a um balão? – Patricia afirmou com a cabeça – Então eu vou falar sim, eu adoro balões ainda mais um bonito como esse.
- Tá vendo? Sua prima acha que eu sou bonito.
- Ela acha todo mundo bonito, baixa a sua bola que você não é tudo isso. – ela se virou para a mulher que estava se aproximando segurando um urso na mão – Oi, Olivia.
- Oi, Patricia. – Patricia se levantou e elas se abraçaram – Esse é seu namorado?
- Que obsessão é essa em me fazer arrumar um namorado?
- É porque você nunca traz ninguém e agora trouxe esse rapaz. Eu sou Olivia, prima da Patricia. – ela estendeu a mão e eu a apertei,
- Muito prazer, eu sou Noah.
- Seu chefe Noah? – olhei pra Patricia, confuso. Ela realmente falava tanto assim de mim pra sua família? Carmen eu entendia, elas se falavam todos os dias, mas o resto era um pouco estranho. – Patricia fala muito de você.
- Pelo jeito você também não consegue viver sem mim. – olhei pra ela, que rolou os olhos – Então, Olivia, conte-me mais sobre o que a Patricia fala de mim, o que pelo jeito é muita coisa.
- Ela fala...
- Que você é um chefe malvado que não me deixa visitar minha família. – Patricia se levantou, se virando pra mim.
- Ele não é malvado, tia. Olha pra ele. – a garotinha, Stacy, segurando meu rosto apertando minhas bochechas – Ele é fofinho, igual meu ursinho de pelúcia.
- Está vendo, Patricia, eu sou fofinho, a malvada aqui é você. – respondi, fazendo Stacy rir e apertar minhas bochechas mais uma vez.
- Sou mesmo, uma bruxa que vai colocar uma praga em você se você não começar a correr. – Patricia começou a me cutucar fazendo com que eu me levantasse. Ela sabia que eu detestava isso, eu era aquele tipo de pessoa que sentia cócegas muita facilidade – Stacy, sabe o que o Noah mais odeia?
- Patricia, não. – comecei a andar pra trás enquanto Stacy olhava pra Patricia com um sorriso no rosto.
- Ele odeia cócegas, e o que a gente mais gosta de fazer? – Stacy olhou pra mim com um sorriso malicioso no rosto.
- Cócegas. – Stacy respondeu e então as duas começaram a correr atrás de mim.  

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