– Será que agora você vai me explicar o motivo de estarmos escondidos atrás dessa cortina? – falo baixo, assim que tenho a certeza que estamos sozinhos novamente no corredor.

– Se eu dissesse que foi apenas uma desculpa para te ter contra a parede você acreditaria? – não consigo ver seus olhos para saber se ele estava falando a verdade.

– Não... – eu não acreditaria nisso... Acreditaria?

– Você tem certeza? – ele apoia sua mão livre na parede, logo do lado da minha cabeça, e se aproxima um pouco, seu nariz quase encostando no meu.

– Sim eu tenho... – eu tenho certeza do quê mesmo?

Aperto as minhas coxas com as minhas mãos antes que elas fizessem alguma besteira, como se embaralhar no cabelo do Nicolau e trazer a boca dele para a minha.

– Tenente? – alguma voz fala no corredor, mas não nota nossa presença ali detrás da cortina. O chamado acontece mais algumas vezes e o Nicolau não afasta nenhum centímetro de mim. Seu olhar banhado pela luz da lua era sem sombra de dúvidas um convite para o pecado.

Minhas mãos já saíram das minhas coxas com um endereço certo quando ele fala.

– Acho que deveríamos voltar, passamos muito tempo nos escondendo – sua voz é firme.

– Deveríamos – mas nenhum de nós ousou a se mover.

Nossas respirações se combinaram e nossos olhares falavam mais que nossas bocas. A mão dele que estava na parede vai para o meu rosto e ele traça o contorno dele com a ponta de seus dedos, eles tocam de leve minha boca.

Então ele quebra o contato visual. Fecha os olhos com força e vira o rosto para o lado. Solta um suspiro e então se afasta de vez de mim.

– Mas que merda! – ele resmunga e toma a minha mão.

Voltamos para o salão principal. Mas que merda era que tinha acabado de acontecer? E antes que eu conseguisse processar qualquer coisa Nicolau vem mexer mais uma vez com o meu juízo.

– Depois conversamos... – e se afasta de mim. Vi de longe que ele vira de uma vez o seu copo de uísque.

Vou diretamente para a minha mesa. Eu preciso me sentar. Para a minha sorte, a mesa estava vazia então eu não precisaria me preocupar em ser simpática com ninguém. E para coroar ainda mais a sorte, um garçom passa do meu lado com a bandeja cheia de álcool.

Nem sei o que era aquilo, mas peguei dois copos e virei bem rapidamente. Não sei ao certo ainda o que pensar. E mais uns três copos desses provavelmente eu também nem queria pensar...

Mas se eu tomasse demais, ia acabar participando de algum vexame mais tarde, e eu ainda teria que dar um pequeno discurso quando fosse receber a minha homenagem. E eu tenho que estar sóbria para fazer um mínimo de sentido.

Corro o olhar por todo o ambiente e vejo Nicolau um pouco afastado, conversando com dois rapazes e tomando o seu uísque numa velocidade bem absurda. Não quero ficar obsecada pensando naquele momento. Aconteceu, acabou, agora vou me focar em coisas mais importantes.

Algumas pessoas perceberam que eu tinha voltado e vieram falar comigo. Apertei a mão de mais alguns, agradeci a outros. Estava um pouco inquieta, mas estava dando o meu melhor para que ninguém percebesse.

Vejo Pedro acenando de longe para mim. Ele está do lado do pai. Assim que me vê, cochicha alguma coisa para o pai e aponta em minha direção. E em questão de segundos o meu "chefe" vem marchando até a mim.

– Que tal uma dança com o seu superior? – o Coronel estende a sua mão para mim. Mesmo contra a minha vontade, eu vou com ele.

Muitos olhares estão virados na nossa direção por conta do homem ao meu lado. Vejo um misto de medo e admiração. Sem a menor sombra de dúvida, o Coronel Barroso era um homem respeitado naquela cidade.

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