Uma vez eu o perguntei, qual era o segredo que ele havia descoberto e ele apenas me respondeu; o que um dia você irá descobrir. Então agora eu ligo tudo, os colares não podem ser apenas uma coincidência, tem que existir algo. E depois eu o perguntei o porquê de eu ter que esperar para descobrir se ele poderia me contar e ele me disse que eu ainda era muito nova para entender, mas agora eu não sou mais. Eu tinha oito anos quando ele foi morto, chegou o dia da visita e nos disseram que não teria mais visitas, que tinha chegado a hora dele pagar pela sua traição. Eu era uma criança de oito anos ouvindo que o meu herói tinha sido morto, porque tentou mostrar algo as pessoas. Aquilo despertou algo tão grande dentro de mim, algo que jamais vai poder ser calado, foi como se tudo o que meu pai era, tivesse se transferido para dentro de mim, eu fiz de tudo para ser como ele, só para ter certeza de que parte do que ele era, ainda estava vivo. Eles não nos deixaram nem mesmo ver o seu corpo.

- Mia, tudo bem? – Justine pergunta entrando em meu quarto, enxugo minhas lagrimas.

- Tudo – Ela me encara, esperando que eu diga mais – Eu estava lembrando do meu pai.

- Ainda se lembra dele?

- Sim, eu tinha oito anos quando ele morreu. O governo o deixou vivo por mais seis anos, depois da traição.

- Pelo menos alguns de nós ainda tem lembranças. Eu queria saber como eles eram, queria conversar com eles. – Ela dá de ombros – Tem sorte Mia, eu não tenho nada para lembrar e chorar.

- Dói muito – Encaro ela – Você sabe o quanto dói. É como cair em um poço de sofrimento eterno. Eles eram pessoas especiais.

- Sim, eram. – Ela para por um tempo olhando uma foto minha, de Axel e minha mãe juntas – E ela? Onde ela está?

- Trabalhando, desde que meu pai morreu, ela mal fica aqui, chega quando estamos dormindo e volta antes de acordarmos, geralmente. Algumas pessoas não sabem lidar com a morte.

- Parecem feliz nessa foto – E estamos, foi no nosso aniversario de dezessete anos, ano passado. Raros momentos em que convivemos de verdade. Ela nos levou para acampar próximo aos muros, foi o mais perto que cheguei de lá. Volto a chorar e como eu odeio chorar na frente das pessoas.

- Não quero mais falar deles – Digo – Me conte sobre como é lá fora.

- Não somos selvagens, só para deixar claro – Sorrio – Lá fora tem muitas pessoas e tudo é muito extenso, vivemos em comunidades, existem sete comunidades no total. Eu vivo na comunidade mais distante dos muros e mais próxima a floresta. Nas outras cidades, eles são diferentes, mais desorganizados, pelo menos foi o que me falaram.

- Pensei que não existia mais florestas lá fora.

- As floresta sem vida, nós a chamamos assim. Existem florestas com vida ainda, as que estão próximas aos lagos, mas temos pouco acesso a elas. O governo controla todos os lagos, então sempre estamos a procura de novos, mas no final eles sempre os encontram e tomam eles de nós. A maior parte dessa comida de vocês, vem do nosso trabalho, plantamos, colhemos e fazemos todo o processo até que cheguem a vocês, a água usada nisso é monitorada rigorosamente por eles. Então todo o mês, eles nos dão dois galões de água e um pouco de comida, que no caso não é o suficiente para nada, ai somos obrigados a nos arriscar nas florestas para caçar.

- Então nada de rituais, caça as pessoas da cidade, comer humanos e tudo aquilo que nos contam?

- Eu não sei o que contam a vocês, mas não somos assim – Ela me encara brava.

- Calma – Levanto minhas mãos para o alto – Nosso vô nos contava historias assim.

- Me lembre de não matar nenhum de vocês por acreditarem nessas historias.

Hoffen: UnidosWhere stories live. Discover now