Capítulo 3

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Tenho certeza de que ela reparou no meu medo, era fácil ver como eu estava. Qualquer ser humano que me olhasse, mesmo que a 1 km iria ver e sentir tudo que passava na minha cabeça. Quando cheguei ela sorriu, parecia que também queria aquilo tanto quanto eu. Ela disse:

- Calma, pode ficar tranquila.

Como eu poderia ficar tranquila? Eu senti vontade de sair correndo, mas continuei ali, eu não podia deixar o meu medo escolher se vou ou se fico. Ela foi se aproximando aos poucos, eu sentia sua respiração, os olhos dela me encaravam, e eu sei que mesmo a alguns centímetros de mim ela podia ouvir meu coração bater forte.

Quando aqueles lábios doces tocaram os meus, eu comecei a beijar rápido, enquanto para mim o beijo estava perfeito, ela deu uma pausa:

- Não precisa ter pressa, pode respirar, vamos aos pouquinhos...

Eu entendi o que ela quis dizer, eu estava ofegante demais, foram uns belos dias esperando aquilo sem saber como seria, era mais do que perder o bv, era mais do que estar beijando uma menina, era a primeira vez que eu fazia algo tão intenso, um beijo que significou muito.

Voltamos a nos beijar com mais tranquilidade, a boca dela era tão macia, o beijo tão suave, era como se dentro daqueles lábios houvesse camomila. Saímos do carro, era hora de voltar para a festa. O meu aspecto que era de medo, agora era formado por alívio e alegria.

Na festa não ficamos grudadas, ficamos na mesma roda de amigas como nas outras vezes que saímos. Minha prima não sabia do meu desejo, e muito menos da realização dele. Eu até poderia contar pra ela, mas como foi nessas férias que nos aproximamos, fiquei com um pé atras. Sim, ela gosta de mulher, porém eu não fazia parte disso, ela nem sonha com essa ideia na minha cabeça.

A família toda sempre colocou muita expectativa em cima de mim, eu era a mocinha dos filmes, a menina que sempre se dedicou na escola, que tinha umas ideias malucas que só as amigas sabiam, que os pais sempre olham e pensam: "Essa menina vai dar orgulho, vai ser uma boa profissional, vai casar, dar lindos netos pra gente". Infelizmente o passo para a nossa felicidade, pode não ser para a de nossos pais.

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Eu dormi rindo sozinha, sentia muita vontade de compartilhar isso com alguém. Queria gritar para o mundo:

- EU ESTOU REALIZADAAAAAAA

Tive que me controlar mais uma vez, e apaguei.

Normalmente, como eu já citei, eu sinto nojo pós-beijo, é como se o pecado que a maioria dos religiosos usam para julgar fosse beijar alguém do sexo oposto. Pensei que sentiria o mesmo quando acordasse, mas adivinha o que eu senti? Vontade de ter mais.

Eu tinha uma amiga, que estudava comigo desde a sexta série, só não nesse ano, pois eu decidi fazer o magistério, ao invés do ensino médio comum, ainda estávamos no mesmo colégio, e nossa relação era a mesma do que quando ficávamos na mesma sala de aula. Liguei para ela empolgadíssima:

-Alô?! Vivi tenho que te contar, cara, tu lembra aquele dia que me perguntou se um dia eu teria coragem de ficar com mulher, eu disse que não né? Então... - Respirei fundo- Eu fiquei.

-O que fer? Você tá louca! Por que você me disse que não se ficaria? Você mentiu mano

-Não, eu não ficaria mesmo, não sabia que isso ia acontecer... Ela é diferente, eu acho que não gosto de menina não, foi ela sabe? Ela que me atraiu, uma exceção amiga.

- Eu só não entendo o motivo de não ter me falado que sentia isso, te perguntei, mas tudo bem. - Eu pude ver o tom de magoa na sua voz, não sei porque, ela estava triste. - Espero que aproveite suas férias, quando voltar me avisa.

E desligou, desligou na minha cara. Se deixasse passaríamos horas e horas conversando, e agora, quando eu mais preciso desabafar ela age dessa forma.

Volo - Desejo entre meninasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora