Capítulo 3

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Não sei por quanto tempo ficamos nadando sem rumo, só sabia que já estávamos bem longe da lancha, já não conseguia escutar os gritos nem as vozes ecoando ao longe que eu escutava antes. Rodolfo estava ao meu lado, mas não trocamos nenhuma palavra depois que começamos a nadar. Vi uma mochila em suas costas, e deduzi que ele a havia pegado na lancha antes de se jogar na água. Ele apertava firmemente a prancha que estávamos dividindo. Eu não me atrevia a falar, e ele não se incomodava com o silêncio.

Depois do que pareciam horas para mim, consegui observar mesmo com a escuridão da noite, uma elevação de terra em nossa frente.

— Acho que é uma ilha – diz ele otimista, e suspirei aliviada por estarmos tão perto de terra firme. Eu estava apavorada dentro daquela água.

Nadamos com toda força que nos restou, e logo senti a areia debaixo dos meus pés. Nunca na vida eu fiquei tão feliz em sentir areia entrando por meus dedos, também nunca pensei que nadar cansasse tanto os braços de uma pessoa. Eu estava esgotada, com medo e com muita sede. A água salgada que eu engoli durante esse tempo, deixou minha garganta pegando fogo.

Quando alcancei a margem da água, deitei-me sem importar em olhar em volta, eu precisava descansar, precisava fechar meus olhos por um instante e imaginar que tudo isso não passava de um pesadelo terrível e que eu acordaria a qualquer momento no calor da minha cama. Mas eu sabia que isso não aconteceria. Olhei para o lado e vi Rodolfo da mesma forma que eu, ele estava deitado na areia tentado recuperar as forças e o fôlego.

Não sei por quanto tempo eu fiquei naquela posição, não sei se dormi ou se apenas deixei o cansaço me levar para um mundo paralelo, só voltei a mim quando sinto as mãos de Rodolfo me sacudir.

— Acorda! – abri meus olhos devagar, não sabendo direito o que pensar, nem como agir, nem onde estava, nem como consegui chegar até aqui. Eu só sabia que havia lutado contra as águas escuras do mar, e que agora estava em terra firme – você precisa beber água.

Rodolfo me oferece uma garrafinha de água, e sinto aquele liquido precioso levar a queimação da minha garganta para longe. Eu engoli muita água salgada, e minha garganta estava irritadíssima por causa disso.

— Obrigada – eu digo devolvendo a garrafa a ele.

— Venha, vamos ver aonde viemos parar – ele me estende a mão para me ajudar a levantar, e sinto as minhas mãos formigarem pelo toque de suas mãos, acho que minha adrenalina estava toda direcionada para o medo e não para o desejo. Mas mesmo assim eu não conseguia ignorar a presença de Rodolfo.

Caminhamos pela extensão da praia de mãos dadas, acho que o medo que acontecesse alguma coisa estava nos aproximando. Eu não conseguia ver muito além, mas estava me sentindo segura com ele ao meu lado.

— Olha lá – ele apontou para o mar, e vi bem longe um ponto brilhante – era onde estávamos.

— Eu nem acredito que nadamos tudo isso – olho para o lugar de onde viemos e me sinto vitoriosa por ter conseguido chegar até aqui.

— Foi um longo pedaço mesmo. Achei que não conseguiríamos chegar a algum lugar.

— Será que alguém saiu ferido? – falei quase sem voz, com medo da resposta que ele poderia me dar.

— Teremos pelo menos meia dúzia de mortos Lissandra.

— Meu Deus! – levei minha mão à boca, e não tive como abafar o soluço que escapou dos meus lábios. As lágrimas que até então não haviam saído dos meus olhos, começaram a descer descontroladamente.

Pedaços de Você (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now