if the heavens ever did speak, he is the last true mouthpiece...

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O dia estava completamente nublado e o céu carregado de nuvens densas e cinzentas que insistiam em esconder quaisquer resquício de uma possível luz que emanava do sol. Não que fosse algo necessariamente ruim, na verdade, Louis considerava os chamados "dias cinzas" completamente agradáveis. O cinza, o escondido, o apagado, isso estranhamente o agradava. As pessoas não viam beleza no que lhe era dado nestas simples coisas; o cinza era um perfeito exemplo disso. Louis nunca entendeu o que um céu límpido e azul tinha para deixar egos inflados e humores lá em cima. Ele nunca entendera na verdade o motivo das pessoas associarem a cor do céu a um bom dia.

Desgraças acontecem sempre, é algo que a vida humana sempre irá presenciar e não é um vivido azul turquesa estampado no céu que mudaria isto.

Desgraças... era algo do qual Louis estava acostumado. A razão pelo garoto estar caminhando sem um exato rumo pelas ruas desertas neste momento é para evitar mais alguma desgraça em sua mísera vida. Ou ele descarregava o profundo ódio que sentia dentro de si, ou sairia para se acalmar e como benefício evitaria talvez algumas noites na cadeia por socar um desconhecido qualquer na rua.

Não que isto nunca tenha acontecido...

Auto-controle era algo fora de questão para o gênio teimoso e exageradamente forte do rapaz, e até o mesmo enxergar que isto era um problema, foi preciso anos de terapia e lágrimas fingidas para não ter que ir ao psicólogo. Louis deixou escapar um riso ao recordar do misto de raiva e aflição estampado na face de sua mãe, enquanto a dita cuja implorava para o garoto levantar da cama já que estava atrasado para ir ao psicólogo e seu pai movimentava a cabeça negativamente e repetia o quão Louis era um rapaz ruim. Ah, os bons e velhos tempos...

Louis crescera e com o passar dos anos, o pouco que existia de seu auto-controle aumentou, seus horizontes expandiram, dando espaço a novos sentimentos e sensações, todas com um forte grau de intensidade. Louis era intenso. Sua mente era livre. No começo, ele não gostava de ser assim. Mas depois do passar do tempo, ele vira que de certa forma isso era incrível. Sentir mais, aproveitar mais. Ele começara a se permitir, a deixar de lado a repressão, a opressão e os "valores e bons costumes" que tanto seus pais tentavam colocar em sua cabeça, algo que estava internalizado dentro dele.

E a razão de Louis querer quebrar o pescoço de qualquer ser existente neste momento é devido a isto. Discussões, brigas e intrigas eram as coisas mais típica em sua casa, devido a extrema ignorância, misoginia e preconceito de seus pais. Louis procurara se informar sobre muitos assuntos ao que atingiu certa idade, desconstruindo muita coisa que seus pais e a sociedade haviam posto em sua cabeça. Ele conseguiu ajudar a outras pessoas que se encontravam na mesma situação que ele e deixou de reproduzir discurso preconceituoso. E como consequência de pesquisar e se informar sobre diversos assuntos, Louis começou a se sentir bem consigo mesmo em relação a muitas coisas. Ele passou a entender melhor tudo que o rodeava, entendendo até a si mesmo e percebendo que não estava sozinho.

Mas as coisas com seus pais já eram diferentes e um pouco mais complexas, principalmente após Louis perceber que a situação não era favorável e que estar acomodado daquela forma não era nem um pouco agradável. A partir do momento que o garoto começou a compreender e a enxergar as coisas com outros olhos, viu que sua vida não era um mar de rosas que pensava que é. Ele começou a enxergar as coisas com mais empatia, se colocando no lugar do alheio, começou a enxergar o coletivo e não somente o individual, e não menos importante, aprendeu a deixar de generalizar tudo e á todos.

Porém seus pais não. E não gostavam que Louis enxergasse o mundo de maneira diferente.

Tudo começara com um café da manhã. Louis para sua própria infelicidade, acordou mais cedo do que o esperado em pleno dia de domingo. Se revirou repetidas vezes na cama, tentou em sua imaginação contar carneirinhos com pijamas estampados de galáxia, com pequenos planetas e alienígenas, apenas para não ter a sensação de acordar cedo em um domingo, afinal, para Louis, domingo foi um dia especialmente feito para ficar na cama e apenas isto. Nada mais. Após longos xingamentos e resmungos, se deu por vencido e levantou da cama com a maior indisposição existente no mundo. O garoto desceu as escadas de sua casa lentamente, seu corpo estremecendo por causa da agonia de ouvir o som irritante do ranger da mesma. Atravessou a sala apertando os olhos, tentando se acostumar com a claridade e os raios de luz que emanavam das frestas da janela, chegando na cozinha e se deparando com sua mãe e seu pai sentados a mesa. Ele encarou a cena com certo desgosto e se dirigiu até lá revirando os olhos descaradamente o máximo que podia, sentando na cadeira em frente a sua mãe em pleno silêncio. Seu pai suspirou audivelmente, e Louis podia até mesmo sentir o olhar amargurado do homem sobre si. O garoto apenas pegou uma pequena tigela de madeira cor de vinho que estava pousada sob a mesa, ignorando o olhar de seus pais e começou a se servir. Louis já estava preparado para dar o primeiro gole de café, seus lábios pairando a xícara do Batman que sua irmã havia lhe dado quando o garoto ainda era pequeno. Ele fechou os olhos e quase que um gemido escapara de seus lábios ao que seu olfato captou o aroma puro e forte do líquido; Louis tinha uma grande apreciação pela cafeína e isto era completamente visível.

This is Heaven ✞ [lwt & hes] Où les histoires vivent. Découvrez maintenant