Capítulo 1

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É abril e a noite é fria.

Essa é a ultima coisa que me lembro antes de apagar. Agora eu não sinto tanto frio, a neblina está por toda parte, me impedindo de ver o céu. Desperto como se estivesse acordando depois de tirar uma longa soneca. Estou com uma sensação estranha. Sinto meu corpo de uma forma que nunca senti antes. Consigo sentir cada músculo que tenho em meu corpo. Sinto-me forte, como se eu pudesse levantar um carro com as mãos. Nunca acordei bem disposto, mesmo se a noite fosse bem dormida. Parece estranho, mas isso não me incomoda, pelo contrario, parece ser bom.

Levanto-me, e ele está sentado do meu lado, Pedro Mull meu melhor amigo, seu rosto branco e meio iluminado demonstra medo, preocupação, de uma forma que eu nunca vi antes. Conheço Pedro já faz três anos. Eu sei tudo sobre ele e ele sabe tudo sobre mim, Pedro é o irmão que a vida me deu. O encaro sem dizer nada, e ele faz o mesmo. O que me assusta é que sua expressão não muda, ele fica ali parado como uma estatua, imóvel, apenas me observando com toda a atenção. Em seus olhos transborda preocupação. Mas por quê?

A força que eu sentia a pouco quando acordei sumiu, e deu lugar uma fraqueza, que me derruba no chão. Meu estomago embrulha, e meu corpo todo se estremece. Sinto a gravidade me esmagar contra o chão. Fico tonto, e minha mente se abre... Minhas lembranças, minha vida, tudo passa por mim feito um flash e não é bonito, uma dor terrível me abraça como uma amiga. Coisas que vivi na primeira infância vem na minha mente como se eu tivesse vivido isso a pouco tempo, algumas coisas ainda ficam embaçados na minha mente, como os últimos dias, minha cabeça dói muito.

Agora eu sei exatamente o motivo da preocupação. Eu sei... Pedro... Ele me prometeu que nunca faria isso comigo. Começo a correr pela escuridão. Correr é a única coisa que se passa na minha cabeça. Correr... Para todos os lados em que eu olho só á arvores, escuridão. Eu estou em uma floresta. Estou ouvindo tudo em minha volta, ouço pessoas conversando, não devo está longe da civilização.

No meu bairro, a floresta é imensa. Como se a floresta envolvesse o bairro em seus "braços", metaforicamente falando. Depois de correr muito, ainda estou na floresta. Pedro me carregou para longe da cidade. Sinto um fluxo subindo pela minha garganta e quando ele sai pela minha boca é um liquido avermelhado... Percebo que é sangue. Estou repelindo o meu próprio sangue do meu corpo.

Uma lembrança surge na minha cabeça como um filme. Minha mãe está chorando pela morte do meu pai, acabamos de saber sobre o acidente. Eu só tenho seis anos. Minha mãe me conta que um ônibus o atropelou e o acidente foi tão feio e devastador que o caixão teve que ser velado fechado, minha mãe chora e me abraça. Por mais que meu pai tenha sido um bruto em toda minha vida, que no caso foram apenas seis anos, minha mãe o amava e muito.

Na minha cabeça eu não paro de repetir...

"ISSO NÃO PODE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO".

Quando finalmente chego a alguma rua. Coloco mais sangue para fora pela minha boca. Desde que comecei a correr essa é a terceira vez que eu vomito sangue. E isso está me deixando preocupado. Meu corpo se estremece cada vez mais forte, e começo a sentir dor, as lembranças me trazem dores físicas e emocionais. Lembro-me de quando tinha um ano e meio e minha mãe cantava para mim dormir. Como isso pode ser possível? Minha garganta pega fogo a dor me deixa sem fala, tudo que sinto é dor.

Sigo pela rua tropeçando em tudo, parecendo um bêbado que acabou de sair do bar. Minha visão fica embaçada, pelas lagrimas que se formão em meus olhos.

"ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO COMIGO"

Vem-me a memória quando eu tinha cinco anos e meu pai chegava bêbado e batia na minha mãe. Eu e meus irmãos só sabíamos chorar. Eu sou o caçula de três, mas sou filho único por parte do meu pai, ele sempre gostou dos meus irmãos e nunca gostou de mim, eu que sou o filho biológico dele. Acho que situações desagradáveis chamam lembranças ruins só para piorar as coisas.

A 1ª MaldiçãoWhere stories live. Discover now