Capítulo 8

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Théo veio e se sentou na beirada da minha cama. Era a primeira vez que eu o via de calça jeans e não de bermuda, notei. E ele parecia mais sério do que de costume. Ainda assim, estava tão maravilhoso quanto sempre.

Por um bom tempo, ficamos em silêncio, sustentando o olhar um do outro com firmeza. Eu não sabia por onde começar. Depois de tudo o que eu descobrira, eu não sabia quais eram as perguntas certas a serem feitas, nem quais eram as respostas que eu estava esperando. Tudo o que eu sabia era ilógico, e eu queria que ele fizesse tudo aquilo ficar mais claro, da melhor maneira possível.

Mas que maneira era aquela?

- Você parece melhor. – ele disse, levando uma mão a cobrir a minha. Não a afastei; ao invés disso, virei a palma para cima e dei um leve aperto na mão dele.

- Eu me sinto bem. – garanti a ele, com um suspiro – Você não me disse como me achou.

Silêncio. Théo desviou o olhar e baixou a cabeça, com um ar pensativo. Me senti de certo modo magoada por ele pensar que ainda precisava esconder alguma coisa de mim.

- Théo, olha pra cá. – pedi, em tom baixo. Ele me olhou, parecendo querer sorrir, mas não disse nada.

- Você pode confiar em mim agora. – afirmei, sentindo uma certeza que eu nem sabia que existia vindo com aquelas palavras – Eu preciso que você confie em mim e me conte a verdade dessa vez.

De novo, silêncio. Mas ele me encorajou a ir em frente ao assentir devagar com a cabeça, de forma que me parece sincera. Meu coração martelava tão forte que eu tinha certeza de que ele podia ouvir também. Respirei fundo, tomando coragem para fazer uma pergunta que eu até agora só havia visto em filmes e livros de ficção.

- Você não devia estar morto?

Théo soltou um riso baixo e pensou por um instante. Eu queria poder ler a mente dele pra saber o que estava pensando. Seria tão útil e teria me poupado de tanta coisa.

- Deveria. – respondeu, devagar – Mas não estou. Eu nunca morri realmente.

- Como... é possível? – aquilo só tinha me deixado mais confusa – Se você nunca morreu, não devia ter, sei lá, uns cinqüenta anos?

- Cinqüenta e três. – ele sorriu, como se aquilo fosse muito engraçado – Laura, você ainda acha que eu tenho dezesseis anos?

- Eu só não... entendo.

Ele suspirou, e se virou para me encarar. Eu me movi devagar para lhe dar espaço, cada movimento parecendo doer em pontos estratégicos do meu corpo.

- No dia da rebelião, eu não fui morto. Eu fugi – explicou – Eu podia ter fugido antes, mas eu nunca fiz isso porque eu estava com raiva de mim mesmo pelo que eu tinha feito e porque nunca tinha tido chance.

Isso provavelmente queria dizer que, apesar de tudo, ele ainda era um assassino.

- E o que isso tem a ver com o fato de você ter cinqüenta e três anos num corpo de dezesseis? – indaguei, tentando não pensar no fato de que ele realmente tinha matado a própria mãe.

- Eu... – ele hesitou. Prendeu a respiração, então a soltou devagar – Não adianta explicar, porque não vai fazer sentido. Eu preciso te mostrar.

- Me mostrar?

- Quando você ficar bem o suficiente pra sair dessa cama, eu te mostro, Laura. Se eu tentar te explicar, você vai achar loucura.

- Certo. – eu ri – Como se o resto fosse perfeitamente normal. Théo, seja o que for, eu posso agüentar.

Ele me olhou de soslaio, como se duvidasse, por fim, fez que não.

Ardente PerigoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora