Capítulo 5 - Kayla

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Como eu havia previsto, Jake me esperava no estacionamento depois da corrida e logo que me viu, me puxou para dentro de seu carro.

Desde o acontecimento de cinco anos atrás, eu passei a odiar corridas Comecei a odiar tudo o que elas representavam, comecei a odiar os pilotos idiotas que não enxergavam o perigo em que estavam se metendo e comecei a odiar principalmente àqueles que promoviam esses eventos horrorosos. Eu sei, uma bela ironia já que a minha vida é rodeada por essas pessoas. Mas só porque eu não posso controlar as outras pessoas. Já tentei de tudo e nunca consegui fazer com que meu irmão parasse de correr. E porque diabos eu estava namorando um piloto? Também não sabia responder essa pergunta.

A única coisa que eu sei é que todo esse ódio e rancor que vive dentro de mim desde cinco anos atrás, desaparece quando eu sento num veículo. E é apenas por isso que eu permito que Jake me use como seu troféu particular. Já se tornou um ritual, todas as corridas que ele ganha, Jake me puxa para dentro de seu carro e dá algumas voltas comigo. E, Deus, eu amo a sensação. Ouvir o motor, senti-lo ganhar força e acelerar numa velocidade de aproximadamente 200km/hr é impagável.

Está no meu sangue, sempre soube disso. Meu avô era piloto. Meu pai antes de morrer também era piloto. Meu irmão é piloto. Estranho seria se eu não gostasse da sensação de estar num carro em alta velocidade.

É por isso que chego até a sentir uma pontada de dor no peito quando Jake começa a frear o carro para então estacionar novamente perto de sua equipe.

- Ei, cara! - gritou Josh assim que nos aproximamos com o carro – Pitt quer falar com você. Ele já dispensou todos os pilotos e está falando só com os que vão participar do campeonato.

Assim que sai do carro, olhei em direção à Pitt. Estava tão feliz pela vitória de Jake, e por saber que Sebastian não participaria da corrida que nem prestei atenção em quem eram os outros pilotos que iriam participar. Meus olhos correram rapidamente por eles. Alguns eu já conhecia porque já correram na pista de PItt outras vezes. Já outros, era óbvio que nunca estiveram ali antes. Como era o caso do amigo de Freddy, Ryan.

Ali ele parecia tão calmo, tão sereno. Os cabelos ainda estavam perfeitamente despenteados e arrepiados para cima, como se o capacete que estivera em sua cabeça momentos antes, não existisse. As mãos estavam casualmente postas dentro dos bolsos frontais de sua calça jeans preta enquanto escutava atentamente o que Pitt lhe falava. Junto com eles estavam outros pilotos cuidadosamente prestando atenção em todas as instruções que eram dadas por Pitt, inclusive Sebastian.

Mas que diabos Sebastian estava fazendo ali? Josh acabara de falar que Pitt já havia dispensado os outros pilotos.

- Josh, porque Sebastian está lá? - perguntei

- Você não sabia? Ele entrou para o campeonato – ele disse dando de ombros e eu senti um frio subir a espinha.

- Como assim ele entrou? Ele não estava entre os vinte e cinco primeiros.

- Relaxa, gata – interferiu Jake – Pitt teve problema com um dos pilotos que tinha se classificado. Ele esta fora e Sebastian entrou.

Eu olhei a minha volta. Como diabos todos estavam sabendo disso e eu não? Minha vontade era de dar um tapa na cara de Sebastian, como ele poderia ser tão idiota? Ele não percebia o risco que estava correndo ao participar deste maldito campeonato?

- Jake, você tem que fazer alguma coisa! Por favor! Sebastian vai se matar se continuar no campeonato! - eu implorei. Infelizmente o fiz alto demais e seus amigos escutaram. Todos riram.

- E qual é o problema, gata? Você mesma já tentou fazer isso uma vez – respondeu Jake e abriu um sorriso maroto.

Naquele instante a primeira coisa que desejei é que minha mão tivesse sido segundos mais rápida, assim, neste momento ela já teria esbofeteado a cara de Jake, e não parada no meio do caminho porque ele a conseguiu impedir a tempo.

A segunda coisa que desejei foi que eu nunca tivesse contado aquilo para Jake. Eu havia lhe contado que tentara me matar cinco anos atrás, num momento de fraqueza meu e em total confidencialidade. Eu contei à ele porque confiava que Jake jamais abriria a boca sobre isso com qualquer outra pessoa que não fosse eu.

Agradeci silenciosamente por ter conseguido segurar as lágrimas até arrancar meu pulso das mãos de Jake e sair correndo do autódromo.



Assim que entrei em meu apartamento, me permiti que deixasse as lágrimas rolassem pelo meu rosto. Eu não podia acreditar que Jake dissera aquilo, principalmente na frente de seus amigos. Vi todos eles rindo do comentário de Jake, pelas suas reações, não duvido que não tivesse sido a primeira vez que eles ouviam um comentário sobre eu ter tentado me matar, e isso fez com que eu sentisse um desgosto ainda maior por Jake.

Conseguia ouvir as batidas na porta, seguidas de diversas vezes que a campainha estava sendo tocada. Escutei a voz de Jake pedindo para eu abrir a porta porque ele queria conversar. Ouvi Sebastian dizer para ele ir embora, porque certamente eu não queria conversar com ele. Depois que Jake se foi, Sebastian insistiu por algum tempo para que eu abrisse a porta, que não deveria ficar sozinha. Também o ignorei. Em seguida chegou Molly, ela disse que estava preocupada, mas que entendia que eu queria ficar sozinha. Falou que ia embora, mas que estaria com o celular o tempo todo, caso eu quisesse ligar para ela e conversar.

Não sei quanto tempo se passou. Não se se fiquei chorando sentada no meu sofá durante alguns minutos, ou horas. Mas sei que quando eu ouvi as batidas na minha janela, já havia anoitecido.

Aquele barulho, de pedrinhas contra a minha janela me lembravam minha adolescência. Era comum Sebastian sair escondido da nossa casa para ir correr. Como ele não queria que nossa mãe descobrisse, ele tinha que entrar pela janela. "Sua janela é mais fácil de alcançar do que a minha", ele dizia. Sempre que eu ouvia aquele barulho, eu me levantava, cobria os ombros com uma coberta e ia até a janela abri-la. Exatos setenta e nove segundos depois, Sebastian já estava dentro do meu quarto, contando-me sobre a corrida e eu, animada, ouvia-o atentamente.

Acho que foi essa lembrança que me fez levantar do sofá e ir em direção à janela. A lembrança que trouxe aquela sensação reconfortante por causa de um barulho, me levou até a janela e me fez olhar para baixo. Em minha lembrança, eu veria um Sebastian alguns anos mais jovem, segurando seu capacete em uma das mãos e sorrindo alegremente para mim. Mas na verdade, quem estava ali naquela noite, jogando pedrinhas em minha janela, não era meu irmão gêmeo que havia saído escondido de casa, mas sim meu namorado.

Jake segurava um enorme buquê de flores, rosas vermelhas, e seu olhar me pedia perdão.

- O que você quer? - gritei para ele quando abri a janela.

- Quero pedir desculpas. E quero que você me perdoe. Fui um idiota, não deveria ter feito aquele comentário, principalmente na frente dos caras.

- Jake, você tem que entender que eu não estou mais tão chateada pelo que você falou. O que me magoa de verdade é que esta não foi a primeira vez que você faz comentários maldosos sobre o meu passado. Me magoa perceber que você acha que pode falar qualquer coisa, porque depois eu vou te perdoar

- Kayla, gata, eu não acho isso! Muito pelo contrário! Eu sei que eu errei ao falar aquilo. Por isso estou aqui pedindo desculpas.

- De que adianta eu te perdoar agora? Se semana que vem você irá fazer outro comentário desses e me magoar de novo?

- Gata, por favor, não fala isso. Escuta, me deixa subir. Abre a porta e vamos conversar. Não quero que todos os seus vizinhos fiquem escutando nossa discussão.

Ele tinha razão. Nós precisávamos conversar, e certamente seria uma conversa que eu não queria que todos os meus vizinhos ficassem escutando. Fiz sinal com a cabeça para que ele subisse, então, após fechar a janela, foi até a porta para recebê-lo. 

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