— E agora? O que vou falar de você?

— Se...alguém...perguntar, diga...que...estou...fantasiada de zumbi.

— Olha só... Tem algo que você precisa entender!

— O quê?

— Eu não quero que você vá para a minha casa!

— Mas...podem...me exterminar. É isso...que...você...quer?

— É sim, dona zumbi. Não quero mais ver a sua cara na minha frente.

A zumbi ficou paralisada e depois virou-se para ir embora, mas Eduarda se colocou sorrindo na frente dela.

— Foi brincadeira!

A zumbi fechou a cara e respondeu:

— Eu...deveria...comer o seu...cérebro...por...causa...disso.

Eduarda sorriu ainda mais e respondeu:

— Vá em frente, dona zumbi.

A zumbi aproximou-se dela e ficou a encarando. Eduarda sentiu medo com essa atitude dela, e a zumbi sorriu sem jeito.

— Te...peguei! — disse a zumbi.

Eduarda ficou mais aliviada e tirou o moletom, estendendo a ela.

— Coloque isso! Vai ajudar a te disfarçar um pouco... Mas você vai ficar em casa até eu arrumar um lugar para você. Se é que existem lugares para zumbis ficarem sem serem exterminados.

— Você...é...muito...legal. — disse a zumbi ao colocar o moletom.

Eduarda chegou em casa e disse para a zumbi subir a escada e entrar no quarto a esquerda. A mãe dela estava na cozinha já preparando o jantar. Eduarda entrou no cômodo e sentou-se na cadeira, ficando um pouco pensativa. A mãe dela percebeu e perguntou:

— O que houve, filha?

— Nada.

— Nós pensamos até que você iria voltar a cidade abandonada.

— Não. De jeito nenhum.

— Ainda bem, né? O seu pai já falou com o delegado e vão amanhã cedo até a cidade abandonada para exterminarem os zumbis. Isso não é ótimo?

— É sim...

— Não estou te vendo muito contente. Como foi a conversa com os pais do Roger?

— Eu falei só com a mãe dele e ela ficou arrasada com a notícia... — Eduarda levantou-se da cadeira. — Eu vou para o quarto.

— Logo te chamo para o jantar... Hoje vou fazer a macarronada que você adora.

— Obrigada, mãe.

Eduarda entrou em silêncio no quarto, e a zumbi estava sentada na beirada da cama, olhando atentamente para uma revista de moda. Eduarda sentou-se perto dela e comentou:

— Eu ainda estou sem saber o que vou fazer se descobrirem que você está aqui.

— Desculpe...por...isso. — disse a zumbi, largando a revista em cima da cama.

— E quem me assegura que você não vai me matar? — perguntou Eduarda, olhando atentamente para o rosto dela.

— Eu...nunca...vou...te...matar, porque...não...consigo.

— Você é bem estranha, dona zumbi. — Sorriu — Mas por que não consegue me matar? Eu não tenho uma carne atraente?

— Eu...não...sei...direito...o...porquê. Só...sei...que...quando...te...vi, eu...senti coisas...estranhas.

— Coisas estranhas? Como assim?

— Eu...só...sentia...essas...coisas...quando...era...viva...

— Sério? Você está dizendo que está sentindo coisas por mim?

— Sim. — disse a zumbi, percebendo que Eduarda ficou bastante séria.

Eduarda levantou-se e declarou:

— Na boa...Você não está viva para ficar dizendo essas coisas. E eu gosto de homem, entende?

— Então...Você...não...acredita...no...que...estou...sentindo?

— Pode ser que você esteja, sim, sentindo alguma coisa. Mas isso não tira o fato que você ainda é uma zumbi.

— Ok.

— E acho melhor você ir embora.

— Você...quer...mesmo...que...eu...seja...exterminada.

— Não. Mas você precisa ir... Eu não posso conviver com isso. Não vai dar certo. Se eu meu pai a ver aqui é capaz dele estourar a sua cabeça com a espingarda.

— Mas...e...se...eu...fosse...uma...humana, eu...teria...alguma...chance...com você?

Eduarda ficou sem graça e continuou:

— Que tal pensarmos em alguma coisa para não te perseguirem, hein?

— Ok.

— Só que você vai continuar matando, não é?

— Eu...te...prometo...que...não...vou...mais...fazer...isso.

— Mas você vai morrer se não comer carne humana, Alice!

— Não. Eu...estou...mudando...por...sua....causa. — disse a zumbi ao tocar a mão dela. 

Ela é uma zumbi (conto lésbico)Where stories live. Discover now