Capítulo III - Jameson: O Refúgio

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Cheguei atrasado ao trabalho por ter parado no caminho, precisava comprar um novo baralho para o pôquer do fim de semana. Como os atrasos já tinham se tornado rotineiros, já não me esforçava para inventar desculpas e suspeito que já as havia esgotado. A verdade era que eu tinha um sério problema com horários e no fim do mês seria a mesma coisa de sempre, um sermão de um chefe que quase nunca estava lá e a cara de deboche e satisfação de Eddie, seu puxa-saco número um.

Todos os dias quando eu chegava, aquele bajulador olhava para o relógio na parede, antes mesmo de me cumprimentar, era realmente um grande idiota, a pior parte do serviço era ter que dividir uma sala com aquele imbecil e ainda aturar seu bando de seguidores, babacas sem personalidade que agiam feito ovelhinhas seguindo um pastor. Meu único consolo era saber que ele estaria de férias e eu teria paz por um mês inteiro, talvez por este motivo, aquela me parecia a melhor sexta-feira dos últimos tempos.

Eu não tinha disposição pra fazer muita coisa na parte da manhã, minha mente, por algum motivo completamente desconhecido ou simplesmente preguiça, só ficava pronta para o trabalho após o almoço mas, mesmo assim, conseguia fazer mais coisas em meio expediente do que a maioria trabalhando o dia todo. Tudo fica muito mais fácil quando se descobre os atalhos, e modéstia à parte, eu era o rei deles.

Para passar o tempo, li e-mails e organizei as coisas que faria mais tarde. Tudo corria normalmente até que chegaram policiais e cercaram o hospital, sai da sala para tentar descobrir o que estava acontecendo e no corredor, encontrei o office boy, um garoto de quem não me lembro o nome. Ele me contou que o diretor comentou sobre um problema no atendimento de urgências. Prometi a ele uma grana caso me trouxesse notícias, o motivo para um cerco daqueles deveria ser algo interessante, principalmente para imprensa.  Há muito tempo eu havia aprendido que momentos ruins para uns podem ser muito rentáveis para outros, atentos e preparados para agarrar a oportunidade.

Telefonei para Rob, um conhecido do poquêr que trabalhava em uma emissora de tevê, a secretária disse que ele não estava mas daria o recado, até lá, eu já teria as informações e esperava passá-las em primeira mão. Já de volta à minha sala, tentei falar com outras pessoas, mas não fiz nenhuma descoberta. Meus colegas especulavam os motivos do acontecimento, a maioria acreditava que algum bandido estivesse no hospital e que talvez seu bando tivesse tentando resgatá-lo ou alguém quisesse terminar o serviço iniciado, o que não seria novidade. Eu esperava que fosse algo mais dramático e rentável.

Enquanto aguardava noticias que me favorecessem, observei a sala em busca de uma rota de fuga, eu sabia que se as coisas ficassem feias era preciso ter um plano em mente, mesmo não parecendo que a situação fosse tão séria. A sala só tinha uma entrada, a grande porta de vidro, coisa de prédio velho, e as janelas basculantes não permitiam a passagem sem dizer que ainda contavam com grades, aquele dia entendi o motivo de me sentir prisioneiro no trabalho. Minha conclusão foi de que a melhor opção para me esconder de bandidos que chegassem era o grande armário de metal que ficava em um dos cantos da sala, por sua posição, não seria possível que me vissem entrando antes de passarem pela porta, além disso, tinha o tamanho exato.

O plano parecia bom e para minha surpresa precisou ser colocado em prática pouco depois de concebido, todos nós escutamos os gritos de pavor de Jeff, o susto foi grande, corri e me escondi. Pude ouvir muitos gritos e tiros, o coração acelerado, tive medo de que me descobrissem ali. Mal conseguia respirar dentro do armário, estava na companhia de pastas com documentos velhos, cheiro de mofo e poeira, me segurei para não espirrar. Após os disparos as coisas acalmaram até que houve mais um. Eu era capaz de sentir meu sangue correr pelas veias e sentir meu coração pular dentro do peito, o calor era insuportável dentro do armário, eu não podia respirar fundo sem ter que reprimir uma tosse logo em seguida mas eu estava conseguindo me manter seguro até que a única coisa que eu não esperava acontecer tão cedo me surpreendeu, meu telefone começou a tocar "...Booorn to be Wiiiild..." minha música favorita, era o Rob, ele retornou minha ligação.

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ZUMBISWhere stories live. Discover now