Capítulo 22 - O depoimento de Alex

Start from the beginning
                                    

- Eu posso compreender. - William concordou, mas contra-argumentou com a seguinte pergunta: - Mas não acha que a tratavam com demasiada sensibilidade? - Fez uma pausa. - O que eu quero dizer é que, talvez, todos olhassem para a jovem Juliet com cuidado demais, a tratavam como um cristalzinho que poderia se desfazer com um sopro. - Isso era verdade, e Alex teve de concordar. - Mas isso não cabe a mim. Certo? Entretanto, vou averiguar. Provavelmente para vocês tenha sido um desejo repentino, alguma maluquice de Juliet, como você mesmo disse, mas também é provável que ela tenha desenvolvido esse pensamento ao longo dos anos.

- Nunca pensei por esse lado. - Alex franziu o cenho e fitou o chão.

- E acredito muito que, de forma gradativa ou repentina, essa ideia não surgiu do nada. Talvez ela tenha desenvolvido essa vontade com a ajuda de alguém. Alguém que a apoiasse a sair do casulo e a encorajar em conhecer o mundo.

- Não sei - disse Alex, mas sua vontade foi de dizer: "Não mesmo! Juliet não tinha amigos para ser influenciada".

- Pela sua expressão, você duvida muito de que ela tenha sido influenciada por alguém de fora. E quando digo "de fora", é no sentido literal mesmo. Alguém de fora da mansão, já que ela não tinha contato com o mundo, mesmo depois de ter superado a perda dos pais e a depressão causada por ela.

- O senhor tem o dom de ler pensamentos? - Alex deu seu primeiro risinho desde que Juliet havia sido assassinada.

- Apenas li sua expressão. Acho que adquiri certos poderes ao longo dos anos como inspetor da polícia. - Ele também riu. - Mas, como eu já tinha dito, vou averiguar esse assunto. Isso me parece que foi planejado há muito tempo. Estou falando de anos!

A expressão de Alex foi de espanto. Abriu a boca, mas não emitiu qualquer som.

- Você tinha dito que Juliet foi uma sequência de surpresas. Qual foi a próxima surpresa?

- Bom. - O rapaz pigarreou antes de continuar. - Primeiro foi a ideia de se matricular na Faculdade de Humanas. Depois, ela se entregou demais para seus amigos. Se é que eram seus amigos. Pois veja bem o que aconteceu. - Ele engoliu em seco, seu pomo de adão subiu e desceu. - Eu mesmo a levei a uma festa no final do semestre, numa das repúblicas onde seus supostos amigos moravam. Percebi as mudanças dela após a amizade que fez com eles. Ela começou a beber.

- Isso incomodou bastante você, ao que me parece.

- Mas é claro que sim! - Dessa vez ele não escondeu a paixão que sentia por ela. - Juliet estava mudando de forma estranha.

- Continuo achando que não havia problemas no fato de ela se enturmar com os amigos. Aliás, esse era o objetivo dela, acredito. Sair da toca e conhecer gente. Fazer parte do mundo. Na visão dela, posso pensar, ela estava apenas realizando suas vontades. Veja só, até o motorista dela a tratava como uma boneca de porcelana, toda frágil. Consegue ver? - Alex fez que sim com a cabeça. - Não leio mentes, mas acredito que a maluquice maior que está prestes a me dizer é o fato de ela chamar seus amigos para passarem a noite aqui e se esgueirar com eles mansão afora portando bebidas e combinando uma espécie de jogo. Acertei?

Alex estava estupefato. O detetive o havia deixado sem palavras.

Realmente tratávamos Juliet como uma bonequinha. Uma bonequinha de cristal.

- Mas quer saber? Você estava apaixonado por ela. Compreendo sua proteção e seu ciúme.

- Eu não tinha ciúmes do modo que fala, senhor.

- Não estou falando nada. Você está demonstrando.

Houve silêncio até que William jogou uma frase aparentemente despretensiosa no ar:

- Amores que matam.

Alex sentiu suas axilas verterem mais suor, molhando sua camisa. Cerrou os punhos.

- Foi só um pensamento - disse William, com seu jeito misterioso. - Mas, como deve saber, muitos casos de homicídio são baseados em sentimentos. Isso está banalizado nos jornais, já percebeu?

Alex permaneceu calado.

- Mas vamos voltar ao nosso ponto inicial. Você, de certa forma, espiou Juliet e os amigos dela. Sabia aonde iam e ficou acordado esperando ela chegar. Quando notou que ela demorou muito, pensou em ir até a FHCE e ver o que estava acontecendo, não foi isso?

- Foi.

William pegou seu bloco de anotações. Alex não deixou de pensar no quanto aquilo era antiquado, mas preferia que o detetive anotasse o que dizia a ter um gravador apontado para sua cara. Ele narrou o que sabia sobre a fuga de Juliet e de seus amigos.

- Deixe-me confirmar, o sr. Fabiano também veio até aqui, não foi?

- Ah sim, ele veio almoçar com o sr. Augusto, eram grandes amigos de infância - disse Alex.

- E você ouviu algo que julgue estranho durante o almoço? - perguntou o detetive em busca de alguma fofoca de Alex.

- Não me recordo, sr. William. Acredito que não.

- Conte-me o que viu durante a noite acerca do sr. Augusto.

Depois de passar um lencinho em sua testa, para enxugar o suor, Alex disse:

- Nem sei bem o que dizer. O sr. Augusto costumava dormir cedo. Não foi diferente na noite passada. Na verdade, toda a minha atenção ficou voltada para Juliet. Ela própria o visitou em seu quarto, como fazia todas as noites. Nada de anormal aconteceu em relação a ele, pelo menos.

- Acontecer, aconteceu, mas não aos seus olhos. - William cruzou as pernas, apoiando seu caderninho na coxa roliça. - Espero que não esteja tentando desviar minha atenção.

- Claro que não, senhor.

- Pode me dizer o que foi fazer na cozinha enquanto a sra. Abilene preparava o chá?

Alex não conseguiu disfarçar. Engoliu em seco e bufou, como se estivesse cansado.

- Eu só fui ajudar a preparar... Pera aí... O senhor suspeita que eu tenha...? Senhor, eu não...

- Acredito que a sra. Abilene era muito bem capaz de preparar um chá sozinha.

- Sim, claro. Mas, o que foi que ela lhe disse?

- Está me interrogando, Alex?

- Não, desculpe - disse, atrapalhado e gaguejando.

- Pois bem, então me diga. Sei que foi até a cozinha com um propósito. Qual?

- Algo me incomodava, eu já disse. Toda aquela movimentação, e sei lá, meu... ciúme, acho que nessa altura não vale de nada esconder meus sentimentos, eu queria desabafar com a sra. Abilene sobre o que estava sentindo, depois que deixei a bandeja lá no balcão para Juliet levar ao seu tio, como de costume, eu tentei me abrir de novo, e quando a sra. Abilene me viu, simplesmente disse que me entendia e me abraçou, e... espera!

- O que foi?

Alex tinha uma expressão de espanto no rosto.

- Mas, se foi mesmo o chá, eu acho que sei quem pode ter mexido nele!

- Diga.

- Desgraçado... O amigo de Juliet, Robson era o nome dele, se não me engano! Quando voltei da cozinha ele estava lá...

O detetive sentiu sua adrenalina aumentar ao mesmo passo que um alívio crescente o dominou. A balança de emoções foi se nivelando, mas ainda oscilava, ele tinha que seguir outras pistas antes de dar a "sentença final", daí sim, ela poderia ser "zerada".

O Cúmplice e o Assassino (COMPLETO)Where stories live. Discover now