Quem vai desistir primeiro

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- Bom dia pessoal – dissemos Gui e eu ao chegarmos na mesa de café.

Isso aqui estava parecendo a Grande Família, daqui a pouco ia ter gente saindo pela janela. Procurei a Letícia e a vi correndo lá fora com o Gustavo. A cena era muito engraçada, a Letícia apaixonada de uma forma geral era muito cômico.

Tomei um café bem reforçado porque caminharíamos um pouco pela praia hoje, dica de um amigo Personal do Gui que também estava nessa conosco. Se eu não fosse ser humano seria daqueles Hamsters que só comem e dormem, que no caso não tem aquela roleta dentro da gaiolinha. Mas como eu nasci humana teria que enfrentar esse desafio que foi ditado pelo amigo do Gui.

Que comecem as apostas de quem será o que desmaiará primeiro. Juro que assim que um cair eu caio atrás, não quero ser a primeira a desistir mas não me importaria em ser a segunda. Todos colocamos roupas apropriadas para tal coisa, criamos ânimos e fomos.

Com Fé e coragem todo mundo chega lá! Meu lema de vida que serve bem para essa situação.

Uma fila Indiana foi formada por nós, na boa, estávamos parecendo crianças na escola na hora da merenda. Contagem de 1,2,3 e já!

Começamos a correr pela praia e em menos de 10 minutos já via um do meu lado ficando roxo. Fiquei atenta o olhando, morri de medo daquele ser cair do meu lado e morrer. Vai saber! A pessoa nunca praticou exercícios é mais parado que uma pedra e do nada começa a correr nessa velocidade? Pode se esperar tudo.

Esse amigo do Gui era um Personal bem fajuto, homem mais sem juízo! Colocar todo mundo pra correr sem nem ao menos fazer alongamentos antes. E doido somos nós também, para termos ido nessa dele. Nunca tive um pensamento tão focado em uma coisa como eu estava agora:

" Que um desista, que um desista... por favor!"

Sim, eu pensava nisso freneticamente. Quando eu já estava começando a aceitar a ideia de que seria eu a primeira a desistir, vejo a namorada de um amigo do Gui se jogando no chão e dizendo:

"Chega! Pra mim deu! Não consigo dar mais um passo, minhas pernas já estão doces."

E assim que eu ouvi isso me rendi a moleza e também caí no chão. Mas nem por um milhão eu faria isso de novo, nem vem. Bem, até que se tiver um milhão na jogada eu viro o César Cielo da corrida. Eu sei que ele é nadador, não sou tão burra assim! Mas vocês entenderam a minha comparação.

Guilherme continuou firme e forte correndo. Ficou rindo de mim quando viu que eu desisti. Letícia também continuou sua maratona e se sentindo vitoriosa por isso. O cara que estava praticamente roxo foi o terceiro a cair e pedir arrego, não se preocupe ele está vivo.

Depois de me recuperar decidi junto com essa garota e o cara que havia fico roxo, de irmos dar um mergulho no mar. Nos refrescamos e quando estávamos sentados na areia conversando vejo os atletas voltando, agora caminhando normalmente.

Ouvia a voz da Letícia de longe gritando:

"Sambei na cara de vocês! Hahahaha venci Uhul!"

Como a Letícia venceu, eu não sei. Só sei que ela consegui bater o esforço físico de todo mundo e como ela disse sambou na cara deles. Gui vinha rindo ele já estava mais que acostumado com essas loucuras da Lê. O Gustavo vinha do lado dela e tentava a abraçar, porém ela se esquivava dizendo que eles estavam nada cheirosos para fazerem isso. Concordo amiga!

Vai tirar esse fedor de suor, depois tu agarra ele.

- Eu venci Becca! – disse tentando me dar um beijo.

- Que ótimo Lê! Agora sai daqui, você está toda suada. – disse a empurrando com as pontas dos dedos.

- Fresca! – afirmou.

- Fresca nada. Não estou a pessoa mais lindo do mundo, afinal tem sal em mim até onde não pode. Mas você também não está muito limpinha. – disse rindo.

Ela concordou e foi para perto dos outros suados. Combinamos de ir após todos terem tomado banho de mar e fomos pingando para casa. Apostamos corrida assim que chegamos para conseguirmos os nossos lugares nos banheiros. A casa tinha 5, mas estávamos em 15 pessoas então 10 teriam que ficar esperando. Nossa, sou o gênio da matemática.

Terminei de tomar o meu banho e deixei Gui entrar para fazer o mesmo, depois que Letícia saiu foi a vez de Gustavo. Todos fizeram um coro de "Own" quando fizemos isso. Até parece que éramos os único casais dali.

Fui para o quarto me trocar e assim que eu terminei ouço baterem na porta.

- Posso entrar, Becca? – dizia Lê.

- Claro, entra. – confirmei.

Ela veio como uma criança que fez algo de errado mas não quer contar. Fiquei analisando seu rosto.

- Que foi? - perguntei.

- Minha mãe me ligou essa madrugada – me contou e fico mexendo na blusa.

- E como foi? – perguntei um pouco preocupada.

Tinha medo de que a Letícia tivesse sido maldosa com a mãe dela. Vai saber, ela parecia estar se esforçando para entender o divórcio dos pais, mas vai que ela mudou de ideia e voltou com o mesmo pensamento.

- Ela começou a conversa se desculpando por me dar esse "desgosto" – começou e riu irônica pelo "desgosto".

- Nessa hora nem deixei ela terminar. Fui logo dizendo que ela nem meu pai tinham que pedir desculpas de nada, o que eles estão fazendo não é nenhum crime ou algo vergonhoso. Eles apenas decidiram como bons adultos que o casamento deles já está esgotado e não tem mais saída. – parou por um momento e me olhou.

Ela analisou minhas feições e creio que pensou o porquê de eu estará com a expressão confusa.

- Comentei com ela se naquela vez no sétimo ano, quando tirei aquelas notas vermelhas, ela sentiu raiva de mim por ser filha dela e ter dado essa mancada. Ela me respondeu que não. Também falei sobre quando perdi a virgindade e não contei para ela, mesmo ela sendo minha mãe quis deixar aquele acontecimento para mim, não quis dividir com ninguém. Perguntei se ela ficou chateada com a minha vontade de privar esse momento. Ela disse que não. – sorriu um pouco com essa forma que ela me contava os fatos.

- Então por que motivo eu teria raiva deles por eles terem privado a crise no casamento deles? Como eu poderia ter raiva deles por não terem conseguido ficarem juntos até a morte? Que direito eu tenho de querer evitá-los se tudo o que eles me deram até hoje foi o amor mais puro e lindo que pode existir? Como hein, Becca? – soltou esses questionamentos.

Posso dizer com o maior orgulho do mundo que ali na minha frente estava uma mulher, madura, que entendeu e aceitou bem a decisão dos pais. Uma pessoa que me surpreende a cada dia e que me faz através dessas pequenas atitudes,ver que eu tenho um ótimo exemplo de pessoa ao meu lado.

- Eu tenho orgulho de você! – afirmei para ela que me olhou – Eu sei que está doendo, mas também sei o quanto você prefere ignorar essa dor e pensar que através dela é que seus pais estão tendo a oportunidade de seguirem felizes. – finalizei.

- Tudo vai passar e se acalmar, Becca. Minha mãe me agradeceu por respeitá-los nesse momento e me disse " Te amo minha filha". Comentei com ela que poderia me ligar a hora que fosse e que me visse além de filha, me visse como uma amiga. Senti na voz dela o alivio por não estar deixando essa situação nos separar como família. Eu tenho orgulho dos pais que tenho e começando agora a ter mais orgulho de mim e da pessoa que ando me tornando. – disse sorrindo.

- Tudo vai se acalmar amiga. Disso tenha certeza!- disse para ela.

Lê respirou aliviada me deu um beijo na bochecha e sem dizer nada saiu. Assim que abriu a porta viu Gui e sorriu para ele. Assim que ele entrou veio me perguntando do porquê ela estava feliz e leve.

- A Letícia aceitou a separação dos pais. E está bem com isso. – contei a ele.

- Devagar tudo vai se ajeitando, meu amor. – disse para me tranqüilizar.

Dei um beijo nele e o abracei. Fechei meus olhos e agradeci em silêncio por tudo estar se encaminhando novamente. A vida sempre tem esses altos e baixos. Cabe a nós sabermos lidar com essas modulações que acontecem. É decisão nossa seguir em frente ou estagnar. É escolha nossa buscarmos a felicidade ou nos contentar com as desilusões.

20 PrimaverasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora