Primeiro dia

18 3 0
                                    


Gui veio aqui em casa ontem e ficou até tarde. Conversamos bastante e ele me pediu para ser forte, apenas completando as recomendações que Lê me deu. Tanto ela quanto ele sabiam que eu tinha a capacidade de aprender a lidar com tudo isso. Até que hoje eu acordei bem animada, fui para a Faculdade, na volta liguei para mamãe e contei que havia mudado de emprego. Bem, eu e você sabemos que eu consegui um emprego agora, mas preciso lembrar que para não preocupar meus pais eu havia dito que já tinha um. Ela ficou super feliz e eu pedi desculpas em pensamento pela mentira, era para o bem deles.

Agora estou descendo do terceiro ônibus e entrando no meu emprego. São 13:00 em ponto e a secretária acabara de abrir o escritório. Ajeitei minhas coisas na mesa e esperei que ela me entregasse os papéis para começar a trabalhar.

- Aqui estão. – disse séria me entregando, ou melhor, jogando na mesma todas aquelas folhas.

- Aí está tudo bem explicado de como deve ser feito, tem exemplos de outros documentos preenchidos no modelo que esses também precisam ser. – completou.

- Qualquer dúvida posso te perguntar? – questionei receosa.

- Poder pode. Mas não me amole muito, já estou velha e cansada, a sua função aqui é me ajudar no trabalho, não me dar mais trabalho. – disse e se sentou toda jogada na cadeira.

Eu não disse mais nada mas pensei: " que mulher rabugenta!"

Como é que pode alguém ser tão de mal como mundo desse jeito? Minha nossa! Parece que de manhã ou invés de tomar café, tomou purgante, credo!

Comecei a fazer o que tinha que fazer na maior agilidade que podia e em pouco tempo chegou o nosso chefe.

- Boa tarde. – cumprimentou-nos.

- Boa tarde! – respondemos.

Bem eu só dei uma olhada para ele e voltei meus olhos imediatamente para aquelas incontáveis folhas.

- Ela chegou no horário correto? – perguntou para a secretária.

- Sim senhor, quando eu estava abrindo o escritório ela chegou. – respondeu Marta, a secretária que era de poucas palavras.

Ele balançou a cabeça e olhou para mim. Depois entrou na sua sala e fechou a grande porta.

Fiquei fazendo meu trabalho em silêncio, até que pela minha surpresa Marta falou algo:

- Você tem quantos anos, menina?

- 20, senhora. – respondi.

Apenas murmurou algo e voltou a ficar em silêncio novamente. Estranha, ela era muito estranha.

Passei a tarde toda preenchendo aqueles papéis e me levantando toda hora para colocá-los na mesa da Marta que nem por um instante se levantou para pegá-los. Por esse motivo minhas pernas e pés estavam doloridos.

Deu a hora de irmos embora. Despedi-me de Marta que apenas balançou as mãos e percebi que o chefe, o senhor André, não saiu conosco.

- Ele não vai embora quando o expediente termina? – perguntei à Marta.

- Enquanto houver trabalho, ele fica.

- Mas não tem família? – perguntei, mas logo depois me arrependi pelo o jeito que Marta me olhou.

- Não seja curiosa, não sei se te ensinaram, mas não deve saber demais. – respondeu grossa como de costume e foi embora na minha frente.

"Respira Becca, respira, você pode suportar e aprende a lidar com isso."

Mentalizei, e fui para o ponto esperar meu ônibus. O primeiro de três que estavam por vir.

Ao chegar em casa, extremamente cansada, fui direto tomar um banho. Meus olhos estavam pesados e minha cabeça doía. Eu ainda tinha que terminar de fazer algumas coisas da faculdade e só após isso ir dormir.

------------------------------------------------x------------------------------x-------------------------

Meu celular tocou. Acordei assustada olhando em volta e vendo que eu não estava na minha cama e sim, em cima de alguns livros e com o braço dormente, por ter dormido em cima dele como se fosse meu travesseiro.

Saí da mesma atordoada e fui correndo me arrumar e tomar meu café. Saí do apartamento consertando minha bolsa, e calçando meu tênis, que ao olhar para meus pés percebi que estava com cada pé calçado com uma meia. Comecei a sorrir sozinha, desci pelo elevador, cumprimentei o porteiro e saí correndo.

Cheguei à Faculdade ainda correndo, pelo tanto que corri concluí que poderia ficar uma semana comendo apenas "porcarias" como diz mamãe que não engordaria. Perdi todos os quilos possíveis fazendo essa maratona. Esbarrei em alguém.

- Ai!Tá cega?

Reconheci a voz.

- E você no mínimo está doida de falar assim com uma pessoa, que possivelmente nem conhecia. – repreendi Letícia.

- Ah amiga, é você. Que bom que esbarrei com uma conhecida, assim posso xingá-la sem apanhar.

Engraçada essa Letícia, né? Devia trabalhar no circo.

- Por que você estava correndo assim? – perguntou.

- Para chegar logo à sala. Eu acordei atordoada hoje e tenho uma trabalho para apresentar no primeiro período. – expliquei.

- E aqui, agora me diz sobre você. – ela me olhou – conseguiu descobrir se o rapaz do pátio é o menino do inglês?

Ela começou a sorrir como se tivesse feito a coisa mais magnífica da vida dela.

- Sim! – disse e comemorou.

- E é ele mesmo?

- Sim! – disse agora sorrindo e com uma voz fininha.

- E vocês conversaram?

- Não! – disse desfazendo o sorriso e virando os olhos.

- Mas por que não? – perguntei.

- Ele é meio disperso, sabe? Eu joguei charme e tudo mas nada dele se aproximar ou puxar assunto. E você sabe, eu cansei dessa coisa de correr atrás, não quero cometer as mesmas antigas burrices. – disse séria.

- Mas tenta se aproximar dele, vai conversando. Não precisa chegar pedindo que ele te faça feliz eternamente, mas pelo menos, se apresenta. Tenho certeza que ele ficará feliz em ver que a menininha do inglês, cresceu e ficou desse jeito.

Ela fez cara de pensativa e concordou com o que eu disse. Olhei para o relógio e faltava 5 minutos para a aula começar. Dei um beijo na bochecha da Lê e fui correndo para a sala.

20 PrimaverasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora