Capítulo 3 - Latrocínio

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A mídia era rápida. Foram publicadas, nos jornais do mesmo dia, as matérias sobre os dois suicídios. Rafael estava agora fixando, em um grande painel de madeira pendurado na parede, recortes de jornais com informações sobre as mortes daquela noite.

No quadro já haviam matérias sobre outros oito casos de suicídios recentes, interligados por fios vermelhos que traçavam um paralelo entre os incidentes. O jovem detetive amador estava despenteado e tinha olhos de aspecto cansado, resultado de noites mal dormidas, olhos esses que estavam empenhados em sua tarefa de análise e interpretação dos fatos. Foi quando ele ouviu a porta sendo aberta pelo lado de fora.

Recuou alguns metros, se afastando do painel para poder enxergá-lo por completo. Sons de passos se aproximando podiam ser ouvidos. Sentou-se no chão com as pernas cruzadas, quase como em posição de meditação, pensativo.

- Ahhhh.... Não... De novo não... - Dizia uma voz feminina, em um misto de decepção, tristeza e raiva.

Era Anna, aquela que talvez fosse a única mulher que Rafael poderia chamar de amiga. Afinal um rapaz introvertido, pouco sociável e que apresenta sintomas de uma leve teoria da conspiração, não é exatamente o tipo que é popular entre as garotas. Mas pesar da amizade, nesse momento ela não estava com uma expressão muito contente.

- Olha só esse monte de jornal picado no chão, e esse painel de recortes estragando a decoração. - Pelo tom dava pra sentir a irritação nas palavras da loira, parecia não ser a primeira vez que ela via uma cena dessas. - Será que você poderia tentar não fazer "isso" justo na minha sala de estar?!

Ao ouvir sua voz, Rafael sorriu, coisa que ele raramente fazia. E, sem sequer tirar os olhos do painel com as manchetes para olhar pros dourados cabelos cacheados de Anna, ele a respondeu: - Isso aqui é uma República Estudantil, e esse cômodo é tecnicamente o "salão comunal", então essa é a "nossa sala de estar".

- Oh, mil perdões pelo meu equivocado vocabulário. - Disse ironicamente, já dando um sorrisinho de canto de boca.
Apesar de tudo não estava realmente irritada, ou talvez até estivesse, mas como já era acostumada a essa rotina, deixava por menos. E colocando sua mochila sobre a mesa de centro, a garota fitou o quadro de recortes com seus olhos esverdeados. - Você já arranjou outro caso? - Rafael havia realmente se livrado da bronca pela bagunça e o assunto agora já era outro.

E o assunto era do agrado do rapaz, que já estava mesmo querendo alguém para falar a respeito. Ele tinha a teoria de que "pensava melhor quando falava sobre os casos em voz alta", e ter alguém por perto ajuda já que do contrário ele pareceria um louco conversando sozinho. - Sim, houveram mais duas mortes hoje cedo. - Disse se levantando de pressa e se virando na direção da moça. - Uma atriz se deu um tiro na cabeça e um corretor da bolsa pulou de um prédio. Mais dois suicídios sem lógica. Estou tentando entender o que eles tem em comum com os outros suicidas que venho investigando.

- Suicídios, é? Mas é claro... Tinham que ser suicídios... - Ela resmungou mais baixo. Rafael ignorou o comentário, mesmo tendo conseguido ouvi-lo.
Anna se aproximou das matérias e deu uma rápida lida superficial nos títulos, apenas para ter uma vaga ideia do que se tratava e então desviou os olhos para trás, buscando o jovem detetive, que também a fitava.
- Você está trabalhando nisso desde manhã cedo? Ficou nisso o dia todo?

O rapaz franziu a testa. - Não, não fiquei nisso o dia todo. Não sou um maluco. Ainda são só 11 horas. - Respondeu, um pouco incomodado com o tom da pergunta, já direcionando seu olhar novamente para o seu painel investigativo.

- Você quer dizer "23 horas" né? Já passa das onze da noite! - Anna nesse momento levantou sua voz, apenas um pouco, dando ênfase ao que foi dito.

Se eu te contasse, você teria que se matar.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora