Me segurei ao máximo  para não falar e por incrível que pareça, consegui ficar muda durante todo o trajeto até passar pela fronteira da Somália com o Quênia. Vi milhares de refugiados tentando conseguir um espaço no maior abrigo do mundo em Dadaab que fica a 100 km da fronteira.

É triste me imaginar no lugar dessas pessoas que chegam ao ponto de fugir de seus lugares para não serem mortas pela guerra, movida principalmente por razões religiosas. Uma boa parte da Somália está tomada por grupos Islâmicos prontos para matar.

Vi crianças chorando de fome e pessoas dividindo um mísero copo de água. Muitos viajaram à pé por 22 horas sem colocar um alimento na boca. Eles são de uma magreza extrema, algo que chega a doer na gente. Os braços de alguns, parecem gravetos, nos dando a sensação de que irá quebrar a qualquer momento. Eu chorei novamente quando os vi. Mesmo que eu tenha passando por terríveis problemas, ainda sim, eles parecem pequenos perto de tudo que vi até hoje.

Depois de um tempo que pareciam horas, finalmente chegamos a um hotel no Quênia. Finalmente a Somalia ficou para trás, mas as lembranças ficaram presentes em minha mente... para sempre.

Todos estávamos em silêncio durante o trajeto. O silêncio parecia certo é bem mais confortável agora.  Não tivemos problema algum na fronteira. Meus documentos novos funcionaram como se fossem verdadeiros. Ainda sou Laura Ryder, mas sem o "Melissa" — o meu nome do meio. Arrumaram uma foto em algum lugar, algo não muito difícil de se conseguir, levando em conta meus trabalhos jornalísticos em Boston.

O carro estaciona e eu não espero que ele abra a porta. Decido descer e fecho-a atrás de mim. O lugar é simples e, pela primeira vez, sinto-me livre daquele inferno, embora ainda esteja bem longe de casa.

— Desculpe, não me apresentei. — o homem que estava ao volante, abre um sorriso aproximando-se de mim. Minhas sobrancelhas se unem. — Meu nome é Steve Cooper. Muito prazer! — ele estende sua mão para que eu o cumprimente. Tento sorrir, mas o meu cansaço não permite que eu faça.

— Laura Ryder — cumprimento-o, segurando sua enorme mão. Ele é mais alto que imaginei e com certeza é bem mais simpático que Dan Walker.

— Eu sei quem é você. — ele responde com os lábios levemente curvados.

Claro que ele sabe.

Ele sorri novamente e quando eu olho para os seus olhos negros e expressivos, consigo ver sinceridade neles.

— Preciso muito falar com o meu pai. — Sua expressão se fecha e Dan Walker aproxima-se de mim.

— Quando estiver no quarto você liga. — Ele informa, e eu abraço meu próprio corpo.

— Acho que preciso de um banho também. — Dan segura o meu cotovelo e encara o homem, cujo o nome agora eu sei que é Steve.

— Onde ficam os quartos? — Steve retira duas chaves do bolso de sua calça jeans.

— Aqui. — ele o entrega — Os quartos ficam no segundo andar. O hotel, embora seja simples, é o melhor que consegui para que possamos descansar até que o helicóptero fique pronto. Talvez amanhã, no máximo. Dan acena com a cabeça e me conduz, ainda segurando o meu cotovelo como se eu fosse uma fugitiva. Estou coberta pela enorme blusa, mas ao menos vestida com algo, mesmo que esteja parecendo uma louca vestida assim.

Inferno Perfeito ()  LIVRO COMPLETO NO SITE AMAZON / Kindle unlimitedWhere stories live. Discover now