I - Como tudo começou.

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Já que fingir pra minha mãe que eu estava com dengue ou algo do tipo não tinha funcionado, fui obrigada a passar todo o tempo entre ela ter me deixado na escola e o sinal tocar acompanhada de Britney Spears, Warrant, Fifth Harmony, É o Tchan e Elvis — sim, eu tenho um gosto musical um pouco estranho.

Digamos que usar o celular dentro da escola, mesmo que o horário de aula ainda não tenha começado, é proibido e, como sou a pessoa com a maior falta de sorte que conheço, fui pega pela inspetora. Consequentemente, tive de passar toda a primeira aula na detenção.

— Isso não é justo — reclamei.

Em toda minha vida escolar, nunca havia recebido nem mesmo uma advertência. Era a criança prodígio da família. Aparentemente, garotos e garotas inteligentes durante a infância tinham uma grande tendência a se tornarem delinquentes juvenis e desajustados que são pegos por burlar regras bobas.

— A vida não é justa, meu amor — alertou a inspetora. — Aprenda a seguir as regras que isso não acontecerá de novo.

— Mas... — Tentei.

— Sem "mas", sinto muito — disse ela, saindo da sala logo em seguida e me deixando com o meu sofrimento sem fim.

Não foi preciso muito para que eu ficasse entediada e dedicasse toda minha atenção ao quadro negro à minha frente por no mínimo uns 15 minutos até que a inspetora voltasse com mais duas meninas.

— Virou festa isso aqui agora? — Reclamou a mulher, ajustando os óculos que teimavam em escorregar até a ponta do seu nariz. — Vocês não podem ficar chegando a hora que quiserem. O sinal toca às sete horas em ponto. Entendam isso.

— Mas, senhora... — Protestou a garota mais baixa de cabelo castanho, que eu reconheci como uma das minhas colegas de sala. — Eu moro longe e tive de vir andando até aqui. Por favor, deixe passar. Só dessa vez.

— Eu sei que se deixar passar você vai fazer de novo, Caroline. — A inspetora apontou para as cadeiras do meu lado. — Da próxima vez acordem mais cedo ou peguem um ônibus.

Carol se sentou atrás de mim e a outra garota ao meu lado. Eu já havia visto aquela menina algumas vezes, mas até aquele momento não fazia ideia de qual era o seu nome. Por isso tratei de me esticar o máximo que pude quando a inspetora nos entregou um caderno para assinarmos. Não podia controlar minha curiosidade, infelizmente era um traço de personalidade incurável. Ao menos, graças a ele, descobri que ela se chamava Camila.

Caro leitor, você já assistiu ao filme Barbie o Castelo de Diamantes? Camila era basicamente a amiga da Liana, a Alexa, só que com olhos pretos em vez de verdes. Seu corpo era tão escultural que aparentava ser de mentira e seus cabelos, escuros como uma noite sem estrelas, eram lisos e compridos. Ela é o tipo de pessoa que é bonita e sabe disso, o que torna a um tanto metida.

Já Carol, é mais o tipo de garota que passa totalmente despercebida em qualquer lugar. O corpo esguio, completamente escondido em um moletom preto, era um dos principais responsáveis por isso. Ela era pequena como um hobbit e seu o cabelo castanho caia todo bagunçado ao redor do rosto arredondado enquanto os olhos ficavam escondidos atrás de uma armação um pouco grande de mais pra ela.

— Eu tenho algumas coisas pra resolver — anunciou a inspetora. — Não quero ouvir nenhum pio.

Então a mulher saiu da sala e desapareceu no corredor, nos deixando completamente sem supervisão. Eu admirava a ingenuidade dela em acreditar que realmente ficaríamos em silêncio.

— Pio — exclamou Carol em alto e bom tom.

Comecei a rir imediatamente e me debrucei na carteira em uma tentativa inútil de parar.

Manual (muito útil) de como sobreviver ao Ensino Médio || EM REVISÃOWhere stories live. Discover now