Capítulo 1

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Mais uma dia sem dormir direito, já não aguento de tanta dor nas minhas costas.
Esse pequeno sófa está acabando comigo.

Olho pra cama a minha frente e o vejo de olhos fechados,respirando por esses aparelhos.
Alguns dizem que ele não vai acordar, que já se passou 1 ano e que devo viver, mas isso é praticamente impossível.

Eu não consigo, não posso permitir que desligue os aparelhos que o mantém aqui.

Eu não quero perder a pessoa que eu amo, não posso perder meu pai. Já perdi minha mãe,eu não aceito que ele me deixe novamente.

__ olá Lívia -olho para a porta e vejo Dulce, a enfermeira a entrar no quarto. __como está? -pergunta,olho para ela sem saber se está perguntando sobre mim ou meu pai. __você.

__Estou bem, conforme o possível -digo dando um sorriso falso e ela percebe. É claro.

__por que não vai pra casa, se alimentar e descansar melhor? -ela diz e eu jogo minha cabeça pro lado a olhando. __eu cuido dele -sorri.

__Em 1 hora estou aqui -digo me levantando e dando um beijo em meu pai. __cuida dele, qualquer coisa me liga -digo pegando minha bolsa e saindo do quarto.

Meu pai, sofreu acidente no dia 12 de março do ano passado, ele estava voltando de Santos quando o carro dele estourou o pneu da frente e capotou várias vezes, o fazendo bater muito com a cabeça.

Há um ano eu tenho essa rotina, do hospital pra casa, da casa pro hospital.
Sai até do escritório em que trabalhava, pra poder estar junto dele.

Nunca pensei que cuidaria dele. Meu pai foi o pior homem da face da terra, ele traía a minha mãe e ainda por final lhe batia.
Várias e várias vezes de chegar a madrugada e ele bater na minha mãe. Depois de 8 anos aguentando isso minha mãe o mandou embora.

Ele se casou novamente e teve mais dois filhos com outra mulher, Henry e Alex.

Quando chegava o meu aniversário, ele não ligava, ou quando era Natal ele também não ligava.
Quando o via era só quando passava as férias na minha avó paterna Eliza, ele mal falava comigo.

Quando completei 16 anos,prometi a mim mesma que não correria atrás dele.
Quando começamos a entrar nessa idade percebemos melhor as coisas, e principalmente nos revoltamos.

Eu tinha feito uma promessa que não consegui cumprir. Quando, ficamos cara a cara e que falei tudo oque tinha que falar a ele.
Joguei na cara toda a magoa que tinha daquele homem, o deixando culpado por ter abandonado a filha, a única menina dele.
Joguei na cara dele, das vezes que tentava ligar pra ele, e não me atendia com a desculpa de trabalho.
De ter perdido, minha formatura dos 5 anos e da de 15 anos também, só que hoje dei e dou graças a Deus por ele não ter ido.

Meu pai era louco, obcecado, ele sabia conquistar uma mulher, se fazia de homem perfeito, depois se cansava delas, começava lhe agredir, verbalmente e fisicamente.
E eu ficava louca da vida quando via as mulheres irem atrás dele, sabendo o homem que ele era.

Eu sentia vergonha de ser filha dele, vergonha de um homem que batia em mulheres, vergonha de um homem que traía sua mulher e principalmente sua filha.

Mais depois de 3 anos minha mãe se foi, ela descobriu muito tarde a leucemia e não conseguiu vencer.
Mais também depois de tantas e tantas lutas e vitória. Nem sempre ganhamos, e ela perdeu.

Eu também perdi, perdi ela, a mulher mais incrível do mundo.
Ana Bittencourt, uma verdadeira mulher batalhadora, trabalhava em plantação de café, doméstica o que aparecia pra ela trabalhar ela trabalhava tudo pra não deixar faltar nada pra mim.
Tudo por mim.

Me lembro como se fosse ontem quando estávamos deitadas assistindo uma série. E ela me disse uma coisa que jamais irei esquecer.
"Sonhe, sonhe alto mesmo,por que quando você cair você ainda irá estar no topo"

Essa era Ana.
Minha batalhadora mãe.

Quando ela morreu fiquei desolada, nunca pensei que perder alguém era tão doloroso.

Quando recebi a notícia, eu achei que eu tinha que ter ido, não ela.
Mais pensei de forma tão egoísta! Preferiria morrer e deixar minha mãe sentindo a dor de me perder, passar o resto da vida dela morrendo aos poucos?! Claro que não! É egoísmo enorme pensar em morrer no lugar da mãe.
Dói, é horrível essa perda, mais sei que não sofro nem a metade do que ela sofreria se fosse eu morta.
Mais somos egoístas até quando chove ou faz frio.

Queremos tudo do nosso jeito. Se chove muito na semana, o ser humano reclama, "não aguento mais tanta chuva".
Se faz muito calor, sol terrivelmente quente "Meu Deus,que calor insuportável, porque não chove?!"
Todos são assim. Pelo menos eu acho, não conheço uma pessoa que não reclame da vida.

Se eu pudesse guardar as pessoas que eu amo em uma bolha, eu colocaria.

Mais infelizmente não é assim que funciona.

Janela De VidroWhere stories live. Discover now