*~Capítulo 13~*

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Gabriel

-Onde você vai? -Ouço Rebeca perguntar enquanto passo por ela, porém não respondo. Apenas saio pela porta principal buscando por meu carro.

Adentro em meu carro, acelor.

Sentir a velocidade me fará esquecer um pouco a discussão e mudar o foco de meus pensamentos.

Essa não é a Miranda que deixei no Brasil, na verdade a minha garota nunca aceitaria se casar pela presidência, era doce e amável demais para algo deste tipo, não sei o que houve com ela, mas posso garantir que não é a mesma que deixei para trás.

Dirijo até o parque Ibirapuera, onde estaciono.

Enquanto caminho observo as pessoas, a maioria sorridente, mas como sempre um sorriso no rosto não é sinônimo de alegria se fosse, ninguém sofreria com a depressão, pois todos, até aqueles que sofrem sorri.

Afinal, depressão é aquele tipo de doença que ninguém vê, além do paciente, porém esse é o que mais sofre. É o que sente aquele vazio inexplicável ou aquele medo eminente, a tristeza... Sônia, mãe da Rebeca, sofreu com depressão durante anos.

Rebeca, sem saída desabafava comigo e com a prima sobre os problemas da mãe, mas graças à Deus hoje ela está bem.

Na verdade o que a ajudou muito na época foi um projeto que tinha na igreja onde ela e Rebeca frequentam, sou grato àquelas pessoas e principalmente á Deus, pois me machucava vê-la ser sobrecarregada pelas responsabilidades da mãe que estava completamente impossibilitada de assumi-las. Mas, acredito que no fundo tudo tenha acontecido para que de alguma forma Sônia pudesse auxiliar pessoas que também passaram pelo mesmo. Afinal, tudo tem um propósito.

Sento-me em um banco, uma brisa bate contra minha camisa. Diferente de mim, aqui tudo parece tão calmo. Acho que, não estou sabendo lidar com toda essa situação, com meus sentimentos por Miranda e pelo casamento inesperado com mesma. Solto um riso irônico, afinal, vou me casar com a mulher da minha vida, só não é por amor.

Grande ironia, não?

Acho que também estou tentandoe acostumar com o fato de que a mulher que irá dividir a vida ao meu lado não se parece em nada com a que amo. Ela mudou. Preciso me conformar com isto. Preciso aceitar.

Parte de mim espera que suas respostas e reações se devam ao fato dela estar assustada, pois assim como meu coração, minha mente não quer aceitar que talvez ela tenha deixado de ser a minha menina. A minha garota.

As horas passam. Voam, na verdade. Enquanto meus pensamentos não me dão a solução, apenas torna a situação da minha mente ainda mais conturbada. As coisas mudaram, eu mudei. Não sou o mesmo, mas ainda sei que era, Miranda ao contrário parece não se lembrar.

Será que isso tudo vale a pena por uma simples presidência?

Simples presidência Gabriel?

Tudo bem, não é uma simples presidência, mas o sacrifício vale a pena? Como farei pra suportar viver ao seu lado? Pois, para que dê certo nós dois precisaremos nos sacrificar, não adianta apenas eu estar disposto.

Mais calmo, volto a fazenda pensando se aceitar essa loucura toda foi a coisa certa a se fazer, mas agora não importa mais, a decisão já foi tomada. Estou fadado a viver ao lado da mulher que amo, sem poder realmente demonstrar.

Quando estaciono o carro na fazendo percebo que já está anoitecendo.

Nicole! Droga hoje é o dia em que a ela chegará e estou aqui, brigando com minha realidade, que a esqueci.

Pego meu celular e disco seu número e a mesma atende no segundo toque.

-Nicole?

-Gabriel, tudo bem com você? Como se sente por esquecer sua melhor amiga no aeroporto? -Pergunta ironicamente.

-Desculpe. Perdi a noção do tempo, mas estou indo te buscar. -Digo.

-Não precisa mais, já estou á espera de um táxi. -Responde calmamente.

-Me desculpe mesmo.

-Sem problemas... -Sua voz é calma, e sei que ela realmente não se importou.

Depois de encerrar a ligação subo as escadas e entro pela porta principal encontrando Rebeca, Lucas e Miranda sentados á sala.

-Onde você estava? -A voz de Miranda soa preocupada.

-Por que estão aqui? -Pergunto na tentativa de mudar de assunto.

-Por que, Gabriel? Você some nos deixa aqui preocupados e espera realmente que respondemos sua pergunta idiota? -Ela parece um pouco abatida, seus olhos estão um pouco inchados e diria que está um pouco pálida.

-Vamos deixá-los á sós. -Lucas diz puxando Rebeca para a cozinha.

-Agora pode parar com o teatrinho Miranda, eles já foram. -Digo ao vê-la com a mesma expressão preocupada de antes.

-Eu realmente estava preocupada com você. -Assume com a voz baixa, talvez um pouco envergonhada.

-Então não fique. Estou bem, na pior das hipóteses eu morreria e você ficaria com cem por cento da empresa que é o seu grande sonho. -Digo sorrindo sarcasticamente.

-Vai jogar isso na minha cara até quando? -Pergunta finalmente me fitando desde que ficamos à sós.

-Não sabia que dizer a verdade era jogar algo na cara. -Respondo.

-Tá, fui egoísta assumo isso, mas você pensa que está sendo fácil isso pra mim? -Pergunta fazendo um gesto de vai e vem entre nós. -Não está sendo fácil, nem de longe sou a mesma menina que deixei o Brasil e sinceramente? Me orgulho muito do que me tornei.

-Se orgulha de ter se tornado essa mulher fria?

-Não sou fria, nem calculista, só não acredito mais em relacionamentos, pelo menos não pra mim. Já entendi que meu cupido morreu de desgosto.

-Então a nossa história não significou nada pra você?

-Um dia talvez tenha significado, mas hoje em dia nossa "história" me ensinou que certas coisas não merecem minha atenção e nossa história é uma delas.

-Então isso que dizer que você me enganou, pelo menos na época, fingiu que me amava?

-Não, como eu disse na época vivi cada experiência intensamente, mas depois... O que veio depois, Gabriel? E por que você está relembrando tanto do passado? Não foi você mesmo quem me deixou? Quem me deixou sem uma única noticia de vida por meses ou até mesmo anos? Você não fez questão de me procurar. E mesmo assim você queria que eu morresse de amores por você? Sou bem mais que isso Gabriel, tenho algo chamado amor próprio, e sei muito bem quando passo a ser indesejada na vida e alguém e foi assim que me tornei na sua vida, indesejada. Então não venha despejar toda a culpa em mim. -Diz, seu tom de voz está cansada.

Como assim a deixei? Eu sempre a procurei! Sempre tentei entrar em contato e agora ela coloca a culpa em mim? Que versão da história Miranda conhece?

-Miranda, você está errada.

-Por que estaria errada?

-Por que eu não te deixei... Foi você quem me pediu para não manter contato. Você me disse com todas as palavras que não queria mais me ver, que queria viver sua vida sem mim. Foi por isso que nunca mais me aproximei de você. Não por uma escolha, mas sim por falta dela.

Sua expressão muda de raiva para confusa.

-Eu nunca te disse isso... -Sussurra.

-Pois, ouvi você dizer com todas as palavras que não me queria mais.

-Gabriel, nunca disse isso, na verdade ficava igual á uma louca ao lado do telefone esperando por uma ligação sua.

-Se não foi você quem falou comigo, quem foi? -Pergunto ainda mais confuso do que estava. Porém agora a entendo, ou penso entender, ela acha que terminei nosso relacionamento em uma das fases mais importantes de sua vida, quando na verdade não o fiz isso.

-É exatamente nisso que estou pensando agora, quem foi...



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