1. WILD

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Luke's pov ×

O gerente chamou minha atenção com um grito. Não tinha dormido direito na noite anterior devido à insônia, e agora estava preso em um ambiente tedioso, com um cheiro do qual já estava enjoado, com pessoas esnobes por todos os lados, e um líquido saindo das máquinas que provavelmente melhoraria meu dia, mas eu não podia pegar para nada além de servir os clientes. Aquela cafeteria já estava me enchendo o saco, mas eu não tinha outra opção, eu precisava do dinheiro afinal.
Ashton, o cara que dividia o turno comigo, estava voltando de uma mesa que acabara de ser servida.
-Cara, você tá péssimo. Escute, o gerente já está indo. Vai dar uma volta e eu te dou a gorjeta do dia. Você precisa mais do que eu.
-Cara, não.
Ele não queria discutir. Voltou ao trabalho decidido a me dar mesmo o dinheiro.
Ashton era um cara legal, humilde e, diferente de mim, gostava de seu trabalho. Pela história que ele me contou, ele com certeza precisava do dinheiro. Vinha de uma família pobre com um irmão e uma irmã caçulas e não tinha pai. Mas depois de tanto tempo na cafeteria, ele aparentemente já se sentia confortável com a situação em casa.
Dei de ombros e fui dar uma volta como ele havia sugerido. Não sabia exatamente para onde ir, só saí. Andei algumas quadras até encontrar uma loja de música. Fiquei encarando a vitrine por alguns minutos, admirando cada detalhe. Os instrumentos espalhados pelo primeiro andar, os enormes discos de vinis presos à parede acima de algumas prateleiras de CDs no andar de cima, sem contar os inúmeros clientes testando guitarras aqui e ali. Minha paixão sempre foi música. Pus a mão no vidro grosso, admirado. Não tinha dinheiro nem para o mais barato dos CDs daquela loja, mas acabei por entrar só para dar uma olhada nos preciosos LPs do segundo andar. Tentei não me distrair com as guitarras que eu não podia nem sonhar em ter, e fui direto à área de vinis na esquerda do pequeno pavilhão.
Estava encantado com as capas, até que me assustei com um vendedor de cabelos tingidos que se aproximou.
-'Tarde. Posso ajudar?
Pude sentir cada parte de meu corpo arrepiar naquele momento. Sua voz ecoava em minha mente, seus olhos iluminaram o meu dia, seu rosto me encantou mais do que qualquer coisa naquela loja. Fazia tempo desde que me senti assim pela última vez.
-Na verdade, eu...
Tive dificuldade para me concentrar, não encontrava as palavras que queria, não conseguia colocar em frases as que tinha em mente.
-Você pareceu gostar desse. - ele puxou um disco da caixa, meu favorito.
-Sim, gosto, mas...
Pude jurar que ele estava encarando a minha boca. Merda, perdi a concentração de novo.
-Mas? - ele passou a encarar meus olhos - É ótimo, você devia levar. E não é porque eu sou vendedor, esse emprego é uma merda.
-Eu não tenho dinheiro.
Mordi os lábios e ele voltou a encará-los. Merda, merda, merda.
-Entendi. Piercing legal.
Ele apontou para o piercing em meu lábio. Estávamos próximos o suficiente para que ele acidentalmente o tocasse com a ponta do dedo.
-O... O seu também. - olhei para o piercing em sua sobrancelha.
Sua boca quase formou um sorriso enquanto ele ajeitava o piercing.
-Valeu. Se não tem dinheiro, por que está aqui?
-Eu gosto muito de música. A loja me chamou a atenção.
-Entendi.
Ele se afastou sem dizer mais nada. Desci as escadas e estava prestes a sair pela porta, quando ele me chamou do balcão.
-Ei, garoto.
-Me chamo Luke.
-Ótimo, Luke, venha cá
Fui até o balcão. Ele tentava abrir uma embalagem com um cartão pequeno dentro e me entregou o cartão assim que conseguiu.
-Você tem $2? - perguntou.
-Sim, eu acho... - conferi o bolso em busca do dinheiro.
-Junte o dinheiro e o vale-presente e troque pelo vinil que quiser. - ele falava baixo.
-Mas...
-Vai logo.
Assenti com a cabeça e ele começou uma cena.
-Pois não, senhor?
-Eu... Eu ganhei esse vale-presente e gostaria de saber se posso trocar por um vinil.
Ele pegou o cartão da minha mão.
-Com mais $2 dá certinho o preço do vinil.
Tirei o dinheiro do bolso e o entreguei.

-Vá buscar o vinil que quer enquanto gero sua nota fiscal. - sem mostrar os dentes, sorriu de lado.

Subi as escadas novamente e peguei o vinil que eu estava admirando antes. Quando voltei ele colocou o vinil numa sacola e me entregou a nota fiscal.
-Obrigado, volte sempre.
Não sabia como reagir. Ele estava fazendo aquilo porque odiava a loja ou porque estava sendo legal comigo? Ou por qual outro motivo?

Acenei com a cabeça e saí com a sacola em mãos. Sem reação, dei uma olhada na nota fiscal. Quando a virei, algo estava escrito a caneta.

"Seu piercing é bonito, mas sua boca é muito mais. Você está me deixando louco."


{n/a: Hello, meu deus que capítulo foi esse?! Quando escrevi as notas iniciais, eu escrevi que os capítulos iam ser pequenos. 800 palavras é muito, não é? Desculpa! Espero que não esteja muito ruim, comentem o que estão achando por favor. Capítulo dois, Bite, vindo, e eu não sei ainda direito o que vai acontecer, talvez seja (bem) menor do que esse. Enfim, escrevo demais até nas notas finais. Até o próximo capítulo!)



Blue Neighbourhood ღ muke clemmingsWhere stories live. Discover now